Hoje é um dia especial para mim. Enquanto não escrevo um post à altura do significado da experiência, podem saber mais nas stories do meu Instagram, aqui.
terça-feira, 30 de outubro de 2018
segunda-feira, 29 de outubro de 2018
o meu coração hoje está estranho
Costumo dizer que o Inverno em Lisboa é para meninos. Na verdade, é. Dizem que vai chover em determinado dia e não vejo nada. Dizem que vai ser uma semana de tempestades e noto uns chuviscos. O frio não é tão frio como isso. Se fosse, não abdicava tantas vezes dos meus casacos mais quentes. Esses ficaram reservados para Pombal. Lá o frio é a sério. Mesmo. De manhã, à hora do almoço, ao final do dia, à noite. Os dias são escuros porque chove incessantemente. E é engraçado que apesar de quão deprimida isso me tenha feito sentir durante anos a fio, sinta tantas saudades de Pombal assim que o tempo arrefece. Lá o Outono e o Inverno são mais rigorosos mas há lareira. O ninho é sempre mais aconchegante que o vôo livre e solto. É lá que quero estar, naquele sofá e naquela cama. Com o mimo, o quente.
O meu coração hoje está estranho. Uma amiga perdeu o pai. Ela tem a minha idade. É inevitável temer pelos meus, sempre que sou confrontada com o terror da partida. E quão vão é o estender da minha mão perante tamanha dor. Tão inútil como o esforço para manter por cá os que mais amo.
E senti saudades de um tempo em que era feliz sem saber - disse alguém que admiro que só tomamos consciência do tanto de felizes fomos à distância de alguns anos, que no momento é impossível que nos apercebamos da felicidade que inunda os dias. Senti saudades de me sentir daquela maneira, senti falta do conforto, de me sentir em casa num mundinho pequenino que não me intimidava. Nessa altura, ela ainda tinha pai e tudo parecia mesmo simples. E eu era feliz, sem saber. Era uma personagem carismática de uma série daquelas que retratam a vida nos subúrbios.
E vou divagando nestas pausas que faço daqueles deveres que assumi.
quinta-feira, 25 de outubro de 2018
socorro
Não sei se foi a lua cheia que mexeu comigo. Pode ter sido culpa das más notícias que recebi. Também é provável que a TPM me deixe assim ou que a constipação fortíssima dê cabo das minhas energias. Não consigo descortinar a causa desta energia baixinha que marca a semana que amanhã termina. Estou lenta, sem criatividade nenhuma, não tenho vontade de sair do meu sofá. Arrasto-me pelas ruas ao melhor estilo zombie. Passei os dias a lutar contra o sono e a querer fazer mais do que consegui. Espero que amanhã isto esteja melhor. Não tenho tempo para estar doente.
terça-feira, 23 de outubro de 2018
Vocês NÃO ESTÃO a perceber!!!
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Alexa Chung |
É tipo a melhor cena do mundo. Descobri-os este Verão e acho que não chega ter duas cores em casa. Preciso de muitos. Preciso de tantos. Ainda bem que há dezenas deles.
Falo dos novos vernizes Andreia - quem nunca experimentou esta marca é um ovo podre porque são aqueles que desde os meus tempos de faculdade continuam a ser um produto de qualidade com um preço bastante apetecível.
Ao contrário da maioria dos vernizes de outras marcas (e olhem que eu já experimentei MUITA coisa e de marcas icónicas!), não fica inutilizável depois de algumas aplicações. Sabem aquela sensação chata de querer mesmo usar uma cor mas verificar que o produto está completamente espesso? Pois. Com Andreia, nunca me aconteceu.
A novidade é que agora podemos obter a durabilidade dos vernizes de gel gelinho, whatever - quem é que alguma vez soube a diferença entre verniz de gel e gelinho, anyway? sem lâmpadas nem nada de laboratórios científicos e alquimias que só as técnicas da coisa é que percebem. Basta pintar as unhas normalmente e além de secar bem rápido, quando se cansarem da cor, podem usar apenas um removedor de verniz normalérrimo.
OU SEJA - dura MUITO mais que os vernizes normais - eu diria que dura tanto como aqueles em que também sou viciada, da L'Oréal, sabem? A questão é que estes são mais baratos, cerca de dois ou três euros e não ficam todos espessos depois de três aplicações.
Truque dos truques e não digam que nunca vos ensinei nada: o top coat (tanto este by Andreia como o da L'Oréal) pode ser aplicado sobre um verniz comum e a durabilidade é assim para lá de ampliada!
Já conhecem? Também adoram?
segunda-feira, 22 de outubro de 2018
amor-próprio

Um dos textos mais simples que escrevi para a minha Rendalíssima, no Pombal Jornal. Um dos mais poderosos, também. Porque apesar de passarmos a vida a ouvir que devemos fazê-lo, ninguém nos ensina a aumentar a auto-estima. Podem lê-lo e começar já a investir em vocês!
sexta-feira, 19 de outubro de 2018
o peso das palavras ditas
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Claire Foy |
escritas, proferidas, expressadas, exprimidas.
Falo muito. Escrevo muito. Declaro muitas coisas, menos do que penso mas ainda assim, muitas. E faço-o naturalmente com uma leveza com que não são recebidas as palavras que solto. Aliás, diria até que me assusta a forma como guardam o que expresso. Fica retido em quem me ouviu ou leu uma ideia que nasceu deste coração denso e desta mente hiperactiva com a facilidade com que a tornei palavra.
Não interessa se são parvoíces ou complexas dissertações filosóficas que inspirem positivamente quem as acolhe em si - a verdade é que nem o meio utilizado para os transmitir tem importância. A verdade é que lhes fica gravado.
E passados meses, anos, lembram-se do que eu não consigo recordar. Sabem exactamente o que saiu de mim, com que tom e intenção, que efeitos teve no seu percurso e daqueles com quem espalharam o que afirmei.
Toda esta percepção acerca da emissora que sou faz-me sentir tão grata (por todas as vezes em que é incontestável a utilidade da mensagem que transmiti) como responsável. Talvez não devesse falar e escrever levianamente. Talvez pudesse domar a minha incontrolável vontade de transformar pensamentos e sentimentos em verbo. Talvez pudesse. Mas deixaria de ser quem sou se tentasse controlar o que flui pela voz grave com que nasci ou pelos dedos compridos que não se cansam de escrever.
Não sei o que gera este acontecimento, o que faz com que as pessoas fixem as minhas palavras. Se assim é, que guardem as coisas bonitas que por vezes não me acanho de proclamar. As banalidades que são em simultâneo verdades que tenho como absolutas. As convicções que me forçam a não ter pena de mim. As certezas que me levam a agir de determinado modo. Os detalhes simples em que descubro grandes revelações.
Não quero emanar mais que luz.
segunda-feira, 15 de outubro de 2018
voltei.
Corro de um lado para o outro. Preparar o pequeno-almoço, ir ao ginásio - será que ainda tenho tempo para dar umas braçadas na piscina? - para voltar para casa, arranjar-me, preparar o almoço e sair de casa outra vez. Pego no carro, estaciono o carro, vou para o metro, tento não cair nem tocar em ninguém, saio do metro a correr, uma reunião, duas, subo a rua toda, deixam-me pendurada noutra, desço outra vez. Sento-me um bocadinho numa esplanada, engulo qualquer coisa enquanto respondo às chamadas perdidas e volto para o metro. Cansada. Saio do metro, entro no carro, vou para casa, dou um up na maquilhagem, torno a sair. Jantar, conversa, um copo de vinho tinto e venho a cantar no carro como se estivesse no Coliseu. Entro em casa, descalço-me e livro-me da armadura com que enfrentei o dia. O sofá é meu e não há nada no mundo mais interessante que Netflix. E estou tão bem.
Quando me disseram que ia passar, não acreditei.
Achei que tinha perdido o prazer nos dias, a alegria de me sentir viva. A paixão.
Tinha a sensação de que não iria voltar a sentir-me apaixonada pela minha existência.
Voltou.
Voltou a plenitude, a lágrima feliz, a esperança, a vontade de fazer acontecer.
Voltou a dança na cozinha enquanto cumpro as minhas tarefas de dona de casa.
Voltou o canto ao volante.
Voltou o riso.
Voltei.
Pensei que tinha mudado para sempre.
Esqueci-me que tudo muda.
Para melhor também.
sexta-feira, 12 de outubro de 2018
[ c r i a t i v i d a d e ]
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Kaia Gerber |
O cansaço é coisa para me cansar um bocadinho. E sabem o que é que me deixa exausta?
Gente sem personalidade que não perde uma oportunidade para imitar alguém que admira.
Fico ali no limbo entre o «se não fizesse isto bem, ninguém me queria copiar» e o «caramba, arranja uma vida»!
Talvez fosse mais elevado da minha parte sentir-me apenas lisonjeada.
Ainda não cheguei lá.
terça-feira, 9 de outubro de 2018
das amizades que nunca chegaram a ser
as pessoas esquecem-se. esquecem-se de dar antes de cobrar. esquecem-se de que não há relações unilaterais que sobrevivam durante muito tempo. querem atenção sem sequer lhes ocorrer que seria bonito perguntar também ao outro como está o seu coração. como se sente. como está, por dentro.
querem receber telefonemas mas não pegam no telefone para marcar um número apenas para dizer «tenho saudades tuas». queixam-se da ausência de alguém que não procuram.
porque é que o egoísmo tem tanto espaço dentro das pessoas? porque é que acusamos o outro sem antes pensar no que fizemos - ou não fizemos - para obter determinadas reacções e respostas?
percebi recentemente que alguém que acreditei ser minha amiga não o é, na verdade. eu sou amiga dela mas o contrário não acontece. ela é fascinada por mim e por tudo o que faço, gosto, uso, compro, digo ou penso, mas não se interessa genuinamente pela pessoa que sou. não quer saber como me sinto, que dores me tiram o sono a partir das seis da manhã, que lágrimas não consigo conter, que ansiedade me aperta o peito ou que desejos tenho tentado concretizar pelas minhas mãos.
entristece-me, não minto. mas já esfriei tanto. já aprendi a não esperar dos outros o tanto que dou, porque o meu básico é extremamente elevado para a maioria. e está tudo bem. só depende de mim fazer o reconhecimento a tempo e não me dar. não me deixar ir. não me deixar magoar. não permitir que me suguem a luz que emano, que se aproveitem de mim, da minha bondade e dos meus talentos.
há algo na falta de preocupação com o bem-estar daqueles que dizemos amar ou meramente gostar, que rouba verdade ao sentimento - seja em que tipo de relação for. na família, nas amizades, nos romances, nas colaborações profissionais. se o lado humano não for exaltado em cada passo, através da empatia, não me interessa. não somos máquinas nem somos todos icebergues.
e quando existe a capacidade de ignorar o choro de alguém, o pedido de ajuda, o semblante carregado de alguém, assumo que não há ali reciprocidade. e se não há reciprocidade, não há amizade.
nunca chegou a haver.
segunda-feira, 8 de outubro de 2018
o que é que tens a ver com isso?
Decidi que da próxima vez que me questionarem acerca dos filhos que ainda não tive, em vez de revirar os olhos e dar pacientemente a resposta formatada de sempre «ainda não encontrei um pai à altura e não tenho pressa blá blá blá», vou activar o modo tolerância zero para com a falta de educação inerente a uma intromissão como essa e responder apenas "o que é que tens a ver com isso?".
Se o interlocutor insistir na questão, vou começar a chorar de propósito enquanto digo que esse é um tema extremamente sensível para mim, só para ver se se toca.
É ridículo que neste século ainda sinta pressões absurdas por parte de quem nada tem a ver com a forma como decido viver a minha vida.
Esse é um plano tão pessoal, um projecto tão íntimo, que não entendo porque raio qualquer pessoa se sente no direito de fazer perguntas descaradas sobre ele.
Fazem-se juízos de valor sobre quem decide ser mãe - que nem tem dinheiro para sustentar a criança, que não tem estabilidade na carreira, que é demasiado nova, nem casou ainda e está a pôr a carroça à frente dos bois - e sobre quem não quer ser mãe - que estranho, como raio é que uma mulher não quer viver o apogeu da feminilidade, é falta de maturidade e de altruísmo.
Como se não bastasse, também se julga quem ainda não deu à luz simplesmente porque ainda não se proporcionaram as condições que considera mínimas - olha que a idade avança e já não vais para nova. Como assim? Mas está tudo parvo?
Tenho para mim que se cada um cuidasse de si e de tomar as suas decisões com responsabilidade, este planeta seria muito mais agradável. Pelo menos não haveria por aí tanta gente com lacunas colossais na sua educação, já que os pais teriam estado ocupados a criar seres humanos decentes em vez de gastar tempo a pensar no que os outros fazem ou não com a sua genitália.
quinta-feira, 4 de outubro de 2018
a cidade cheirava a malmequeres
Tinha sido um dia complicado. Tinham sido uns dias complicados. Daqueles dias que nos pedem por favor para desaparecer. Dei por mim num karaoke a cantar Taras e Manias do Marco Paulo enquanto dizia graçolas pelo meio. Rimos, rimos tanto e quando voltámos para casa, não quis conduzir - eu conduzo sempre. Fiz o caminho todo de cabeça de fora, como quando era miúda, no banco de trás. Ri tanto. Tive medo de engolir um mosquito. Estava bem. Estava bem, apesar de tudo. Que as contrariedades são só isso - contrariedades. E a cidade cheirava a malmequeres. O caminho todo, fi-lo na companhia desse aroma adocicado dos malmequeres que colhia em pequena. E estava calor, um calor bom; o vento, tão fresco na sua passagem pelo meu rosto, lembrava-me disso mesmo: tudo passa. E aqueles dias também passaram.
Rendalérrima!
Coisas giras para ler, aqui!
segunda-feira, 1 de outubro de 2018
Voltei, voltei! Voltei de lá - ainda ontem estava de férias e agora já estou cá.
São muitas as novidades e os updates que tenho em mente aqui para o blog! A vida não dá descanso e o Verão foi uma sucessão de correrias - da cirurgia da mana, no início de Julho, ao lançamento do meu novo site, são tantos os acontecimentos que decidi separá-los por posts.
No entanto, deixo-vos já o convite para conhecerem um novo conceito que é simultaneamente uma nova fase na minha vida profissional. Cliquem aqui e conheçam a primeira Fashion Therapist do país (moi je).
Em jeito de comemoração, lancei um passatempo no meu instagram [@anarendalltomaz]. Podem ganhar uma consulta comigo (e usá-la ou oferecê-la a alguém), uns óculos de sol para lá de maravilhosos e ainda uns mimos que preparei com todo o carinho.
Podem saber mais sobre o assunto nos destaques do meu perfil no insta!
Até já!
quarta-feira, 8 de agosto de 2018
e os cabelos, pessoas?
Isto do calor não é péssimo apenas para a tensão arterial baixinha, para a desidratação, para a dificuldade em calçar sapatos fechados ou para a pele. Também o cabelo sofre com o Verão e esse é já um assunto recorrente aqui pelo lampas. Sou obcecada pelo meu, não coloco a minha juba nas mãos de qualquer um e não experimento produtos como quem prova um rebuçado. Sou muito criteriosa nas minhas escolhas e é por isso que podem confiar em mim - se, tal como eu, são detentoras de um cabelão tão pesado como denso e querem mantê-lo saudável enquanto curtem o mar e o sol, apresento-vos os meus queridinhos deste ano:
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O shampoo maravilha. |
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O spray milagroso que uso durante todo o ano. |
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A máscara da mesma linha. |
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Estes dois em SOS. |
Só para garantir, não dispenso uma máscara por semana com aquela touca térmica, sérum nas pontas e pouco secador!
segunda-feira, 6 de agosto de 2018
mind, body and soul.
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Chrissy Teigen |
Foi um processo. Foi tão duro como tinha que ser, não poderia ter acontecido de outra forma nem demorar menos tempo. Cada um de nós caminha ao seu próprio ritmo, num trilho exclusivo, sem atalhos nem vias rápidas. Comigo foi assim; comecei pela mente, cuidei dela com carinho e dediquei-lhe as horas necessárias para que se libertasse de tudo o que a inquietava. Livrei-me das roupas de Inverno e avancei para uma Primavera leve e amena, altura em que resolvi focar as minhas atenções também no corpo que me envolve. Liberto-o diariamente de tudo o que não lhe faz falta e pelo meio, decidi que a minha alma não poderia ficar de fora. Dedico-lhe 45 minutos por dia para que também ela se desapegue do que não a nutre.
Não foi simples, o meu caminho até aqui. Houve lágrimas, suor, dor, medo. Houve tudo isso e agora há esta plenitude. Esta certeza de que tudo está como tem que ser. Tudo está onde deve estar. E eu estou exactamente onde deveria estar. Nada poderia ter sido melhor ou pior. Está tudo bem e eu estou inteira no momento que vivo como não estive. E agora, aos 33, sinto a areia debaixo dos pés, o mar a tocá-los devagar, o sol a aquecer-me a pele e uma brisa agradável no rosto. As gaivotas fazem-me feliz, os sorrisos de quem está comigo também. E não preciso de mais nada.
Estou tão bem. Voltei a mim. E voltei com o brilho todo, que os sonhos não tinham morrido. Ao meu redor, só paz e a vontade de fazer acontecer. A Vida empurra-me, novamente. Leva-me no seu caudal e eu sigo adiante sem olhar para trás.
Tenho estado entretida com os dias, as pessoas, os abraços, os momentos. Tenho deixado que o Presente se impregne em mim e me absorva, então desapareci. Claro que vou voltar a escrever com regularidade, claro que o meu Instagram vai voltar à actividade que lhe é característica. Mas para já, vou viver fazendo algo que já não me permitia fazer há algum tempo - há demasiado tempo: satisfazendo a minha vontade. Privilegiando o meu querer, o meu sentir. Só.
E sorrio quando me apercebo da quantidade de coisas que já aconteceu desde o início de Julho - a Mana foi submetida a uma cirurgia, sofreu tanto com o pós-operatório e já está maravilhosa; comemorei o meu aniversário tal como queria, apenas com aqueles que amo perto de mim; recebi presentes incríveis que ainda me fazem sentir como uma miúda depois do Natal; diverti-me muito; reencontrei pessoas magníficas e aproveitei o tempo com elas; percebi que tenho à mão todos os meios necessários para atingir os meus objectivos; perdi uma pessoa e fui capaz de agradecer a Deus por tê-lo poupado de mais sofrimento; aceitei o passado e todas as contrariedades que assolam os meus dias; descobri quão perto estou de me tornar na mulher que sonhava ser em menina.
E hoje escrevo de um lugar diferente, ainda com o cérebro em papa por causa desta vaga de calor mas com o coração cheio por estar onde estou e abismada com esta serenidade.
terça-feira, 17 de julho de 2018
e g o c e n t r i s m o
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Daphne Groeneveld |
Depois sentem-se sós, queixam-se do afastamento daqueles que se cansaram de quem não tirou, por um segundo, os olhos do seu próprio umbigo.
Vocês conhecem o tipo: quando lhe falam da vossa dor, a pessoa já teve pior; quando lhe contam da vossa ansiedade, a pessoa desvaloriza; quando lhe tentam descrever o vosso problema, a pessoa ri-se. Só ela é que sofre, só ela é que atravessa dramas, só ela é que precisa de atenção.
Não quer saber de ninguém, não pergunta como estás, não se interessa pela tua vida mas exige cuidado e carinho como se as relações saudáveis não fossem baseadas em reciprocidade. Dá sempre prioridade ao seu conforto, ainda que tenha de te colocar numa posição desconfortável para o atingir. O que lhe é favorável está sempre acima do resto - é por isso que te pede, com a maior das latas, que te deites sobre a poça de lama para ela passar.
A pessoa é egocêntrica ao ponto de não se aperceber de como pode magoar os outros com tamanha displicência. «Morreu alguém? E então? Tiveste um acidente de carro? E depois? O que interessa é que eu quero a tua atenção aqui e agora para o que me convém. Porque o resto é o resto e eu sou o centro do mundo. A melga que está na parede da minha sala é muitíssimo mais importante do que o facto de estares desempregado. A unha partida no meu mindinho é muitíssimo mais importante do que o facto de teres sido submetido a um transplante de pulmão. O meu shampôo ter acabado é muitíssimo mais importante do que o facto de estares com queda de cabelo. Ter que comprar uns óculos novos é muitíssimo mais importante do que o facto de teres ficado cega de um olho.»
Vocês conhecem o tipo. Eu também. E tenho cada vez menos tolerância a este género. Cada vez mais diminuto o espaço na minha vida para essa estirpe.
sexta-feira, 13 de julho de 2018
só pode.
Acho que roubo vida às pessoas com quem me envolvo. Enquanto estamos juntos, são giros e cheios de juventude, vivaços e tal. Depois o caso acaba e vou à minha vida. Quando os volto a ver, estão velhos, acabados, cheios de rugas, sem cabelo ou graça. Não falo de entradas charmosas ou linhas de expressão que acentuam carisma. É de degradação que falamos aqui. Uns engordam ao ponto de se tornarem irreconhecíveis. Deve ser esse o segredo para me ir mantendo com esta cara de miúda. Roubo-lhes anos de vida.
segunda-feira, 9 de julho de 2018
é preciso mudar
Graças a Deus, o feedback dos meus clientes é sempre positivo. Anos depois de uma primeira experiência com qualquer um dos meus serviços de Consultoria de Imagem, a relação mantém-se e eu comovo-me sempre com as palavras das pessoas com quem tive o privilégio de trabalhar por confiarem em mim.
Dizem que não esperavam tanta humanidade da minha parte, tanto conteúdo e facilidade em apreender noções simples para aplicar no seu quotidiano nem a sensação de mimo e luxo que envolve algo tão útil.
Há quem diga que lhes mudei a vida, quem me confesse que as coisas no casamento melhoraram, quem me afirme que no trabalho houve transformações na forma como os colegas e superiores os percepcionam.
That's what this is all about. Vestir não é só enfiar um top e umas calças. Não é só cobrir a pele porque assim se convencionou. É preciso pensar um pouco ou ter uma linha de montagem que simplifique a tarefa, de acordo com todas as necessidades do cliente - contexto social e profissional, idade, rotinas, aspirações, gostos, personalidade, tipo de corpo, paleta de cores e tantos outras condicionantes.
Não mascaro ninguém, imprimo no que vestem aquilo que são. Ensino-os a expressarem-se. Dou-lhes as ferramentas para que conquistem autonomia.
E tudo isto tem sido feito de modo discreto, nunca expus nenhum dos meus clientes nem os seus testemunhos. Nunca revelo os resultados práticos do meu trabalho. Em concreto, não mostro muito.
Isso tem de mudar e é por esse motivo que ao longo dos próximos tempos vou estar focada na estratégia de comunicação desta minha paixão.
Apesar de elogiada, a actividade que vou desenvolvendo nas plataformas digitais não foi devidamente planeada, o que é estranho tendo em conta que também trabalho em Social Media Management. A Consultoria de Imagem passou a ser uma fonte de rendimento quando iniciei uma fase pessoal muitíssimo dura e fui apenas preenchendo requisitos mínimos conforme me iam surgindo determinados pedidos.
Há dias, alguém me enviou uma mensagem simples: "Porque é que não fazes isto também?", partilhando comigo um perfil de Instagram de alguém que também se apresenta como stylist.
Bom, acredito na originalidade, na capacidade de ser genuína e única, portanto imitar ou copiar ideias já vistas não se coaduna com a minha maneira de estar na vida.
Mas fez-me pensar. É preciso mudar, evoluir e estar constantemente a sair da zona de conforto.
É isso que vou fazer, como sempre. Está na hora de dar o meu melhor.
segunda-feira, 2 de julho de 2018
(não sei como vou fazer um trabalho tão bom quanto o dos meus pais)
É sabido que tendemos a esperar dos outros tudo o que somos - atitudes, gestos, posturas. Até pensamentos. Assumimos que os outros vão agir sempre ao mesmo nível que temos como unidade de medida do aceitável, bom e bonito. Deles exigimos pelo menos o nosso mínimo.
Esquecemos que os nossos valores mais baixos são, por vezes, elevadíssimos na óptica do outro. É por isso que nos chocamos, entristecemos, frustramos, desiludimos ou envergonhamos.
Na maioria das vezes noto esta discrepância no que à educação diz respeito. As pessoas são tão pobrezinhas que qualquer dia fico com os olhos presos nas traseiras de tanto os revirar. Não se aguenta. É como se a etiqueta e o saber estar fossem démodé. Como se a delicadeza fosse para quem não é cool. Como se classe fosse apenas sinónimo de turma. Como se fixe fosse ser-se um brutamontes, sem respeito por ninguém porque liberdade é ser-se como se é, à bruta, sem filtros nem cuidado para não ferir quem nos rodeia.
Não sei como é que os meus pais conseguiram educar duas miúdas assim. Valeu a pena sentar-me à mesa com livros debaixo dos braços e ser ensinada a dizer obrigada, desculpe, com licença, por favor. Valeu a pena aquele sobrolho levantado para me pôr em sentido e o tempo passado a treinar o andar no corredor lá de casa. Valeu a pena ter aprendido a usar os talheres como deve ser e saber pôr uma mesa completa. É aquela coisa de ter bebido o chá pela colher sem sequer saber o que é sorver.
quarta-feira, 27 de junho de 2018
mercado S A L T O A L T O
Começaram os saldos e o meu espírito consumista está nos píncaros. O Mercado Salto Alto chega em boa altura, portanto.
Começa já nesta sexta-feira e trata-se de uma iniciativa da Dress for Success Lisboa, de que vos falei recentemente aqui.
O objectivo é angariar fundos para que a ONG possa «continuar a criar e promover programas e iniciativas que permitam dar apoio às mulheres que, na busca de ferramentas que lhes permitam conquistar a sua independência financeira e crescimento profissional», a procuram.
Como? Bom, durante três dias, podemos perder-nos entre as peças em segunda mão (já vi por lá alguns tesouros maravilhosos, acreditem!) que estarão disponíveis com preços entre 1€ e 20€. Ao comprar, estamos a apoiar uma causa solidária.
Os artigos são variados: roupas, calçado e acessórios. Alguns altamente casual, outros muitíssimo festivos. De marcas fast fashion a outras, mais exclusivas, há de tudo um pouco e vale a pena procurar aquele achado fenomenal.
Tudo o que é exposto é fruto de doações que não sendo apropriadas para contexto profissional, estão em perfeito estado de conservação.
No meio de tudo isto, ainda lá estarei eu para, através de um workshop, transmitir noções acerca de como criar um estilo próprio a quem quiser ouvir-me.
A entrada é livre, por isso fiquem atentos ao evento no facebook para mais informações.
De 29 de Junho a 1 de Julho, na Calçada Moinho de Vento nº3, em Lisboa (junto ao Jardim do Torel).
terça-feira, 26 de junho de 2018
esta coisa de acharem que não faço nenhum...
Trabalho por conta própria. Trabalho directamente com os meus clientes e não tenho um patrão. Trabalho muito a partir de casa e sou eu que organizo a minha agenda e os meus horários e é exactamente por isso que algumas das pessoas com quem me relaciono presumem que não faço lá grande coisa.
Muitas acreditam que sou uma dondoca que não tem muito que fazer, que passa dias no sofá e sai apenas quando lhe apetece gastar algum tempo na manicure ou dinheiro na ZARA. Outros assumem que vivo de festa em festa, beberricando champagne enquanto conheço outras clientes que levo a passear pelas lojas da Avenida da Liberdade.
Deve ser por isso que não respeitam as horas que marco para cafés, que reviram os olhos quando digo que tenho que me ir embora ou que duvidam da minha palavra quando afirmo não poder mesmo combinar encontros em determinada data. Como se eu não trabalhasse.
Além de trabalhar, tenho uma casa para tomar conta e todos os afazeres normais de um ser humano que não pertença à realeza. Neste preciso momento, estou a escrever este post depois de ter respondido a e-mails enquanto a máquina de roupa termina mais um alguidar que vou estender. Ontem estive colada ao computador madrugada afora para poder ir à praia esta tarde.
Às vezes cansa-me ser tratada como uma desocupada, mesmo sabendo que se fosse, ninguém teria absolutamente nada a ver com o assunto a não ser que me sustentasse.
quinta-feira, 21 de junho de 2018
[ algo humano ]
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Kate Moss |
Então já não tenho tanta poesia cá dentro para deixar fluir pelos dedos. Não tenho tanta expressão. A arte continua a morar em mim mas arrancaram-me a simplicidade profunda de saber escrevê-la.
Encurtou-se tudo, não há textos enormes ou páginas cheias de letras. Há rasgos, pensamentos, frases compactas.
quarta-feira, 20 de junho de 2018
D R E S S F O R S U C C E S S
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Gigi Hadid |
Prefiro sentir. Pensar afasta-me do belo da vida, então sempre privilegiei o sentir. Há coisas que não sabemos mas o nosso espírito, sim. E ele não pensa, sente.
Então enquanto estava naquela sala de espera e recordava todas as vezes em que quis investir numa missão voluntária à séria mas não tive tanto dinheiro para gastar, percebi que não era preciso ir para longe para oferecer o meu tempo e os meus talentos a quem não tenha como pagar por eles.
Podemos ser úteis na nossa rua. Podemos ser úteis para a família que vive na porta ao lado, porque não são apenas os meninos em África que precisam de algo nosso. Aqui também há flores para regar.
Numa fase em que me sinto altamente pressionada para fazer dinheiro, não há lógica em prestar serviços de qualidade sem receber nada em troca, contudo, senti. Senti que devia. Que era obrigação minha pelo menos tentar.
A verdade é que no dia seguinte já estava agendada uma reunião. De repente, estava nas instalações da Dress For Success a aprender a fazer a primeira triagem de um donativo.
Se pensasse, não escrevia este texto. Se pensasse, faria apenas o que me compete. No entanto, sinto que tenho que partilhar, divulgar, falar disto. Talvez seja porque existe uma pessoa, uma apenas, que se sentirá inspirada a dar sem receber mais que um salário emocional. É que acho feio dizer o que se faz de bom. Diz a Bíblia que não deve saber a mão esquerda o que faz a direita. E eu acredito mesmo nessa verdade e foi ela que me fez esperar semanas até partilhar algo sobre o assunto.
Não há nada mais frívolo, vulgar e baixo do que dar e vangloriar-se disso. Mas não há problema algum em inspirar outros a ajudar, a ser mais, a dar mais.
É esse o meu objectivo: dizer que ser Cristão não é apenas dar dinheiro a uma Igreja e ir para uma sala todos os Domingos.
Em tempos, uma pessoa maravilhosa que me ensinou tanto numa das minhas experiências enquanto voluntária disse-me isso mesmo - que queria ser os braços de Jesus aqui. Era por isso que fazia o tanto que faz e mudava, sem saber, vidas de pessoas. Duvido que saiba o quanto me inspirou ao partilhar comigo a sua experiência.
Enquanto consultora de imagem, lido com toneladas de futilidade. O mundo tem muitas pessoas ocas a povoá-lo e a superficialidade vigora de mãos dadas com a vaidade. Há muitos stylists, cada vez mais, e conheço poucos que se dediquem às mais profundas questões ligadas à profissão que escolheram.
É que imagem não é apenas invólucro. Imagem e cultura visual são manifestações de personalidade, correntes de pensamento, inclinações políticas, filosofias e acima de tudo, neste caso em particular, de amor próprio.
Uma mulher que procure a Dress For Success não precisa de máscaras nem de um outfit para a red carpet dos Globos de Ouro. Por norma, é alguém que está a recomeçar - e como eu gosto de recomeços! É alguém que superou um período difícil e tem a coragem de se reinventar. É aí que entra a consultoria de imagem. É aí que entra a Dress.
Na fase de entrevistas de emprego, e tendo em conta que uma primeira impressão demora cerca de sete segundos a ser construída (já que o interlocutor faz julgamentos inconscientes acerca da pessoa que está perante o seu olhar), sem qualquer palavra proferida são criadas ilações. Ideias preconcebidas que ditam a forma como somos percepcionados. Uma noção da idade, estrato social, nível académico, inteligência, simpatia e tantas outras características são assumidas por quem nos vê
.
Por esse motivo, uma pessoa que se apresente numa entrevista de emprego com uma camisa manchada de lixívia, leggings rasgados e sapatos sujos não terá tantas hipóteses de ser bem sucedida como aquela que se apresenta com um aspecto cuidado.
É aí que entra a Dress. Oferecendo roupas, calçado e acessórios e, através das consultoras de imagem, proporcionando um momento em que se vejam e se sintam no seu melhor. Revelar potencial e aumentar a auto-estima para incrementar a confiança que vem de dentro.
É isto que quero fazer, sem receber dinheiro em troca. Não me chegava levar a instituições da minha confiança o que sobrava dos Closet Cleanings que fazia aos meus clientes. Usar a consultoria de imagem para algo puramente altruísta parece-me justo.
A Dress For Success vai surgir mais vezes por aqui e pelo face da Lady Lamp porque conduz várias iniciativas interessantes e que merecem a nossa atenção. Podem saber mais sobre a ONG aqui.
A Dress for Success é uma instituição sem fins lucrativos que ajuda mulheres economicamente desfavorecidas a adquirir empregos, providenciando-lhes vestuário e orientação apropriados para que consigam alcançar o sucesso profissional. Este projecto existe desde 2011 e apoia mulheres em fase de transição de carreira ou que se encontrem sem trabalho e à procura de novas oportunidades.As roupas fornecidas pela Dress for Success são doadas por parceiros empresariais ou privados, e adequadas para o uso em entrevistas de emprego.
O projecto ajuda as mulheres a ter não só uma melhor imagem, mas também mais motivação e auto-estima, para que com isso consigam entrar no mercado de trabalho e vingar.
Ao conseguir o emprego, a Dress for Success dá ainda às mulheres vestuário adicional para que possam estar sempre à altura dos desafios profissionais.A filial de Lisboa junta-se à sede nova-iorquina e a outras 112 filiais espalhadas pelo mundo. A instituição pretende promover o desenvolvimento de mulheres de baixo rendimento económico e social, tal como incentivar a sua auto-suficiência, através do desenvolvimento da carreira e da permanência no emprego.Qualquer pessoa pode ajudar esta instituição doando roupas que para si serviriam para uma entrevista de emprego ou para o seu quotidiano laboral.
terça-feira, 19 de junho de 2018
O que a Antónia diz da Ana diz mais sobre a Antónia do que sobre a Ana.
É tão fácil, parece óbvio, no entanto a maioria das pessoas parece não compreender tanta simplicidade. Talvez seja eu um génio, vá-se lá saber. É que para mim é básico.
Noto uma dificuldade imensa em mudar de prisma, ver o mesmo caso de outro ângulo. Como se as pessoas não conseguissem colocar-se na pele do outro. Como se lhes fosse impossível encaixar outro ponto de vista. Perceber outra perspectiva. Uma falta de empatia imensa, um egocentrismo desmedido e o resultado? Toneladas de mal-entendidos, relações enfraquecidas e gastas por mera falta de compreensão.
Acredito que quem estima resolve questões menores para que elas não se acumulem. Acredito também que quando gostamos de alguém, gostamos além dos defeitos, que aceitamos como parte do todo que o outro representa. Sei que quando amamos, além de respeitar o outro, prezamos a relação, tomamos conta dela, cuidamos para que não se estrague. Em suma, gosto muito de gente que fala quando algo incomoda. É prova de amor, de zelo, de respeito e de altruísmo, pois criamos a oportunidade perfeita para que o outro se explique e se desculpe se disso for caso.
Gosto de gente que abre o jogo, põe as cartas na mesa e se revela, dando espaço a que do outro lado, seja possível fazer o mesmo. Gosto de gente que não se perde em mimimis, como aqueles que preferem queixar-se a um terceiro em vez de ir imediatamente à raiz do problema. Se a minha relação com a Joana é entre mim e a Joana, os meus atritos com a Joana são meus e da Joana, não há cá falatórios com mais ninguém. É por isso que os resolvo com ela. E não, não estou chateada com nenhuma das minhas amadas Joanas.
Este tipo de tricas causa-me repulsa e tendo a afastar-me porque não vou baixar as minhas vibrações só porque alguém decidiu não elevar as suas. Além disso, não tenho tempo nem paciência para o desgaste que elas me causam - é como se me sugassem energia.
Quando era miúda, achava que a maturidade era algo que ia aumentando em cada ser à medida que o crescimento ia acontecendo. Hoje, do alto dos meus joviais 32 anos, percebo que não. Conheço pessoas com 50 anos tão maduras do ponto de vista emocional como eu era aos 17. Ainda não percebi como é que isso se processa mas não deixo de me surpreender com a imaturidade de pessoas que já tiveram vivências suficientemente intensas para se virem a tornar em adultos na verdadeira acepção do termo.
Só a falta de maturidade nos faz esquecer anos de convivência e de amizade sincera para acreditar na má fé de atitudes vindas de alguém que conhecemos bem antes de lhe dar espaço para expor os seus argumentos e os seus motivos. É nesses momentos que quem realmente somos vem ao de cima - assumimos que o outro está a ser mesquinho porque o somos; assumimos que o outro está a ser movido por maldade porque somos maus; assumimos que o outro age por negligência porque somos negligentes. Quem é bom, não espera maldade gratuita dos outros. Quem é justo, acredita na inocência do seu amigo até ter provas em contrário. Mais uma vez, simples.
E então vejo-os ali, de olhos postos no seu próprio umbigo, sem se aperceberem de que o outro, aquele que julgam e de quem se queixam com prontidão e convicção, também tem uma versão da história que contam. Talvez seja defeito de formação, que o Jornalismo vive em quem o tem como vocação: nunca me esqueço de que a verdade costuma estar no meio de dois ou mais relatos. Também não me esqueço de que ao apontar o dedo na direcção de alguém, tenho três virados para mim mesma.
- Ela não me diz nada, não me telefona nem envia uma mensagem.
Eu também recebo chamadas. Quando não atendo, retribuo assim que posso. Comigo, não há mensagens que fiquem por responder. Não é impossível falarmos se as saudades realmente apertarem.
- Ela não me visita.
Talvez não tenha recebido convite algum, talvez não goste de aparecer de surpresa porque sei que toda a gente tem os seus dias ocupados ou talvez não me sinta bem-vinda - evito sempre lugares onde não sou bem-vinda. Manias.
- Ela não me conta nada da vida dela.
Talvez seja mais simples perguntar exactamente o que se quer saber. Não sou muito apologista de falar acerca da minha vida de forma espontânea. Primeiro, por preguiça. Segundo, porque nem sempre tenho coisas para contar, apesar de saber que a minha vida é super interessante para a maioria das pessoas (mais do que para mim mesma). Por achar indelicado focar todas as atenções em mim, acabo por sentir que não há razão para ocupar tempo com um monólogo sobre a minha última semana. Não me acho assim tanto. Também posso crer que do outro lado não há assim tanta genuína vontade de saber de tudo o que se passa comigo, já que não há qualquer questão colocada sobre o assunto. Curioso é quando descubro que não me perguntam pessoalmente sobre o meu mais recente projecto mas não se coíbem de perguntar a algum amigo comum. Estranho, não?
- Ela não me deu a atenção de que eu precisava.
Tudo o que faço tem um motivo. Não sou tresloucada, mesmo que alguma reacção minha pareça exagerada num determinado momento. Talvez esteja simplesmente a reagir a alguma coisa. As relações são feitas de reciprocidade. Por exemplo, se desvalorizar uma dor no teu mindinho, talvez seja porque me mandaste secar as lágrimas quando me abriram o peito a sangue frio. Se não faço um festão no teu aniversário, talvez seja porque fizeste questão de me magoar no meu. Se não quero saber da tua dor de dentes, talvez seja porque te riste quando te contei acerca das minhas crises de ansiedade. Se não te sentes importante na minha vida, talvez seja porque deixei de me sentir importante na tua. Tudo claro, comigo. Tudo simples.
- Ela passou por mim e nem me cumprimentou.
Antes de mais nada, sou míope e extremamente distraída. Mas se me viram, porque não vieram falar? Tenho que andar a prestar reverência a toda a gente? Somos todos Rainha de Inglaterra, queres ver?
- Ela não me procura nem me convida para fazermos qualquer coisa.
E tu? Procuras-me e convidas-me para fazermos qualquer coisa? Ou será que deixei de procurar porque me fartei de levar tampas?
- Já não quer saber da família.
O conceito de família é como o da amizade: varia de pessoa para pessoa. Depois de ser tratada como familiar de segunda, não esperem muitas e calorosas manifestações de amor da minha parte. Não faço de propósito, esmorece-se qualquer coisa cá dentro que não me deixa ser mais.
- Ela está mais fria, parece estar sempre na defensiva.
Não. Só selecciono melhor aqueles para quem canalizo o melhor de mim.
Farta de gente parva.
Começo a achar que tem razão quem me disse que ser tanta luz incomodava demasiado.
Uma pessoa não pode existir em paz.
sexta-feira, 15 de junho de 2018
E de pérolas, ninguém sente falta?
Desde Abril, meus queridos, que não reproduzia neste espaço pedaços de ignorância pura. Sem mais demoras, vamos ao que interessa:
blache
É aquilo que usamos em Portugal para evidenciar as bochechinhas. Lá fora usam blush, nós usamos blache.
cirugia
Quanda gente temos que ser óperadas, é uma cirugia, miga.
exitou
Este é recorrente. Já li este erro tantas vezes que vê-lo em todo o seu esplendor num rodapé de um canal de televisão nacional nem me chocou.
umbreiras
Lá na serra, a gente fecha algumas vogais, por isso, umbreiras. É o que se põe em cima dos umbros para eles parecerem maiores.
reti
Eu reti a seguinte ideia... podo explicar?
veriadora
Aquela que veria.
foloral
Há vários padrões que estão na berra e um deles é o foloral.
no ententato
Nasci em Portugal, no ententato, não sei usar o meu idioma.
parabéns campiam
É o que vamos gritar no final dos jogos, não é? Já estou a ver os cartazes...
[ semanas rasinhas ]
A Mana festejou mais um aniversário e a celebração foi daquelas com tudo a que tem direito - perda de voz incluída. Brincadeiras à parte, a recuperação não está a ser fácil e a verdade é que entre a tosse que não me deixa dormir e a sensação de febre constante, tem sido difícil manter o ritmo. Tudo me custa quando não me sinto a cem por cento. Custa-me sair da cama, ir ao ginásio, cozinhar, sair de casa, enfim, viver.
Espero que durante o fim-de-semana o meu corpo volte ao seu estado normal, que assim não tem graça nenhuma atravessar os dias.
Engraçado como desde que vivo em Lisboa passei a ter mais motivos para me queixar. A nível respiratório, tudo piorou e ninguém me tira da cabeça que a qualidade de vida é inferior na capital até no que à saúde diz respeito. Desde o ar que respiramos aos alimentos que compramos, tenho para mim que o meu organismo é a prova viva de que é fora deste perímetro urbano que o corpo é mais feliz...
sexta-feira, 8 de junho de 2018
O final de tarde mais bonito da semana
Foi no NH Collection, o hotel em que o acesso ao último andar nos permite vislumbrar um pouco do que vamos encontrar através de um elevador transparente. Lá em cima, no Ático Rooftop, Lisboa a nossos pés e o Tejo no fundo do cenário desarmam. O olhar perde-se e a piscina faz-nos crer que apesar do céu cinzento, já podemos dar as boas-vindas ao Verão.

A tudo isto, juntei a melhor companhia possível, a Mana Lamparina, a quem, confesso, disse tratar-se apenas de um «copo rápido». No entanto, a festa estava tão maravilhosa que fui ficando.
Surpreendentes também foram as iguarias com que o Chef mimou os presentes. Além da finger food, como croquetes de choco, chouriço ou morcela com maçã em rolinhos de massa filo, houve quem se deliciasse com a variedade imensa de sushi confeccionado no momento e que, segundo a Mana, estava muitíssimo saboroso. Queijos, presuntos e uma vasta selecção de petiscos foram sendo distribuídos pelo staff, cuja característica mais marcante é a extrema simpatia.
As várias mesas disponíveis deram a entender que muito provavelmente, a carta do espaço se adequa a todos os desejos - até os mais doces - de quem decida passar um momento agradável no rooftop do NH Collection. Não provei tudo, que o projecto #ladylampficafit #sqn continua activo, mas antes de ir embora fui surpreendida com um arroz de choco com gambas de comer e chorar por mais.
O melhor de tudo? Perceber como a vida muda, de ano para ano. É que há dois, o dia seis de Junho tinha sido só perda e dor. Foi o dia em que fiquei órfã de avós e foi um período emocionalmente muito exigente, tão negro como agitado. Estamos em 2018 e desta vez, essa data foi marcada pela dádiva (mais tarde conto-vos sobre ela) e pelos sorrisos. Brindei à minha avó.
Foi tão bom.
quarta-feira, 30 de maio de 2018
Ser homem e giro dá sandes de atum.
Tenho uma Padaria Portuguesa no meu bairro. Frequento-a diariamente. Há dias decidi almoçar lá e ao chegar a minha vez de fazer o meu pedido, perguntei à senhora que me atende há quase três anos:
- Já não tem sandes dos menus de almoço?
- Já não.
Por norma, quando há hipótese de me fazerem uma sandes dessas, dizem-me. Foi por esse motivo que assumi que a curta resposta era definitiva e encerrava em si a certeza de que teria de escolher outra coisa qualquer. Assim fiz.
Passado algum tempo, um amigo giro, alto e espadaúdo decidiu fazer-nos companhia. Apareceu na Padaria Portuguesa e, enquanto eu já bebia o meu café de término de refeição na esplanada, entrou no estabelecimento com o charme que o seu metro e oitenta transporta para onde quer que vá.
Depois do pedido feito, sentou-se na minha mesa sem trazer tabuleiro algum. Passaram alguns minutos até que lhe trouxessem a sandes de atum à mesa. A mesma funcionária que me negou uma sandes de menu de almoço, que ao perceber que o espécime que a embevecera estava sentado ao meu lado, aguardando pelo seu pedido, não escondeu os nervos por ter sido apanhada na curva enquanto tentou disfarçá-los dizendo entre risinhos:
- Já não tinha cebola roxa mas excedi-me no ovo cozido para compensar!
Não me contive e a minha voz projectou-se para que a esplanada inteira e a dita senhora me ouvissem:
- O que é que pediste?
- Uma sandes de atum, daquelas do almoço. - respondeu o meu amigo sem perceber a minha postura semi-agressiva.
- E deram-te?
- Não havia na vitrine mas a senhora foi fazer.
- Porra, quem me dera ter um metro e oitenta, ser gajo, giro e moreno. Tudo muda! A mim disseram-me que não!
Acham que houve uma pinga de timidez? Só uma reles desculpa esfarrapada em que admitiu ter sido simpática para o meu amigo por ele ser um homem bonito, sem vergonha da falta de profissionalismo ou da exposição a que fora submetida em pleno horário de trabalho.
Ele acabou por perceber porque prefiro ser atendida por homens onde quer que vá. Eu fiquei chocada com o episódio.
quinta-feira, 24 de maio de 2018
Tudo muda. E que bom.
Gosto muito das memórias do Facebook. Gosto de, a meio do dia, perceber o que publiquei nos últimos anos, recordar onde estava, como me sentia, o que fazia dos meus dias.
Hoje, houve uma que me tocou profundamente. Ao que parece, em 2010 escrevi um post bem curto que dizia apenas «descobri a minha vocação outra vez: personal shopper. e era feliz».
Primeiro, adorei perceber que tenho razão e que escrever em algum sítio os nossos sonhos ajuda muito a que se concretizem.
Faço-o desde miúda: descrevo bem o meu objectivo e dobro a folha para depois a esconder - numa gaveta, por detrás da fotografia de uma moldura, numa caixa, não interessa. É um daqueles hábitos estranhos que ninguém nos ensinou mas que fazemos por instinto.
Em segundo, foi surpreendente perceber que vivo o que um dia não passou de uma graça, uma piada, uma remota hipótese. Em 2010 trabalhava como jornalista e não tencionava mudar de profissão. A minha vida na altura era imensamente diferente daquela que vivo hoje e não imaginava vir aqui parar. O meu mundo evoluiu, cresceu, tornou-se mais livre.
É esta perspectiva que tento transmitir sempre que alguém me procura em desespero, lavado em lágrimas e embebido em preocupação com algum acontecimento importante: a vida muda. A vida transforma-se e transforma-nos. Não ficamos estagnados para sempre, não há como. Não congelamos num momento, numa fase. Não fiquei estudante de Coimbra até agora, aflita com as cadeiras para fazer. Não fiquei noiva para sempre, entusiasmada com a lista de afazeres inerente ao casamento. Não fiquei jornalista na imprensa regional para sempre, pulando de Assembleia Municipal em inaugurações de obras públicas ao longo de cada edição. Não continuei a viver na mesma casa nem a conduzir o mesmo carro, não mantive o mesmo corte de cabelo, o mesmo dia-a-dia ou os mesmos amigos à volta da mesa.
Tudo muda e isso é bom, principalmente porque não vale só para o lado negativo. A vida também muda para melhor.
Por vezes não conseguimos perceber, dia após dia, semana após semana, que alterações se deram no nosso percurso. Mas à distância, elas estão lá e acumulam-se, virando o cenário do avesso. Crescer também é saber disso e não deixar esse conhecimento esquecido quando os dias não se revelam animadores.
Em terceiro e último lugar, ter lido hoje aquela frase que escrevi há oito anos mexeu comigo por sentir que nunca será suficiente o agradecimento a Deus por tudo o que vai fazendo na minha vida. Foi estranho verificar que estou a viver o que em tempos era apenas um sonho ridículo e distante. Notei que não valorizo a tremenda sorte que tenho como deveria. Talvez isso se deva a esta constante evolução dos sonhos. É que quando alcançamos um objectivo, ele torna-se real e cumprido, pelo que tendemos a criar outro e assim sucessivamente.
Fiquei curiosa para ver onde estarei daqui a oito anos.
segunda-feira, 21 de maio de 2018
Royal Wedding
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Harry and Meghan |
Li muitos posts sobre o acontecimento que marcou o último fim-de-semana. Grande parte deles falavam sobre ciúmes, inveja, dor de cotovelo e vários outros sentimentos que, defendiam, seriam comuns a quem viu a transmissão em directo do casamento do ano.
Discordo tanto. Eu, seguidora atenta da família real britânica, deleitei-me com as imagens e não consigo compreender quando elas fazem nascer mais que felicidade, esperança e tantas outras sensações boas.
Fico feliz por ver pessoas felizes - sejam os vizinhos da porta ao lado ou os membros de uma família tão icónica como os que pertencem à Casa de Windsor.
Neste caso em particular, da plebeia que se torna parte da realeza, há muitos motivos para sorrir: o facto de se tratar de uma mulher outsider a encontrar o verdadeiro amor aos 36 anos é uma prova de que não estou errada por não ceder ao settle for less que tanta gente me tenta impor.
Acredito que haja um tempo certo para tudo o que se encontra debaixo do céu e que tudo acontece quando tem que acontecer a cada um de nós. Não há certo ou errado nestas coisas, ou seja, não é por casar aos 25 anos que se está correctamente estabelecido na vida, feliz e arrumado. Do mesmo modo, esperar até depois dos 33 para o fazer também não é sinal de total desorganização, leviandade ou má fortuna.
Eles acabaram por se encontrar e o que os une é visível. Isso enche-me o coração. É possível, acontece e não é preciso tentar apressar o que deve acontecer naturalmente. O livre-arbítrio existe mas há coisas que nos estão predestinadas e eu espero ter sabedoria suficiente para saber reconhecer o amor para a vida toda quando ele chegar à minha.
O facto de se tratar de uma mulher mestiça como eu é o detalhe que menos me espanta em toda esta história. Primeiro, porque só o facto de se falar disso é uma incontestável prova de quão atrasada ainda é a espécie humana. Segundo, porque não é a primeira pessoa de ascendência africana a casar com um príncipe (ou será que ninguém se lembra da Angela do Lichtenstein?).
No entanto, se isso servir para abrir mentalidades tacanhas, óptimo. Se servir para mostrar a crianças que não tenham uma pele branca como a cal que isso não faz delas mais ou menos importantes, bonitas ou felizes e que não era só nos filmes da Disney que uma princesa poderia ser como elas, melhor.
O que me deixou em modo menina romântica durante o fim-de-semana foi a expressão de amor. Aquela sensação de que eles acabaram por se encontrar, no meio desta confusão que as vidas conseguem ser. Que não importa quão diferentes sejam as vidas, as origens, os contextos, os percursos nem quão grandes sejam as distâncias; o amor acaba por nos encontrar.
Se vai ser fácil para uma americana feminista e independente, habituada a ser autónoma e a expressar as suas ideias livremente, integrar-se neste novo papel? Não. Para ela ainda deve ser mais estranho que para uma europeia, já que nós vivemos com um conhecimento mais próximo do que é essa realidade tão distante da de um cidadão comum. Ainda assim, detestaria abrir mão da minha individualidade, da minha maneira de estar na vida, da minha profissão, da minha liberdade.
Contudo, a Meghan casou com alguém que não vive com o peso da obrigatoriedade de subir ao trono. Há uma maior leveza e abertura e isso ficou bem claro na cerimónia e até durante o noivado. Acredito que ele vai estar sempre lá para a orientar e proteger, como fez quando os impiedosos ataques dos tablóides começaram a surgir.
Fico genuinamente feliz por vê-los cúmplices e embevecidos, não houve espaço para mais nada.
Porque só quem não está feliz com a sua vida pode invejar a de outros.
sexta-feira, 18 de maio de 2018
[ s e m p r e ]
Eles voltam sempre. Eles voltam sempre. Eles voltam sempre.
Aquele que te ignorou depois de lhe teres dado a mão.
Aquele que te virou a cara depois de lhe teres limpado lágrimas.
Aquele que traiu a tua confiança.
Aquele que não te foi leal.
Aquele que não te levou a sério.
Aquele que te fez sentir humilhada.
Aquele que te fez chorar.
Aquele que te descredibilizou.
Aquele que destruiu a tua auto-estima.
Aquele que te apontou o dedo.
Aquele que brincou com a seriedade dos teus sentimentos.
Aquele que te rebaixou publicamente.
Aquele que te difamou.
Aquele que te magoou sabendo que o fazia.
Eles voltam sempre.
De joelhos.
quarta-feira, 16 de maio de 2018
gostar do todo que sou
Sou a Ana. Ao lado, uma foto minha tirada em 2011. Meses antes, tinha terminado um processo de reeducação alimentar que levou a uma perda de peso significativa. Mais de vinte quilos abandonaram o meu corpo ao longo de um semestre. Com eles, foi-se também a auto-estima, ao contrário do que seria previsível.
Já partilhei aqui posts sobre o tema, não é novidade para ninguém que me siga, leia ou conheça que vivo em dieta, já que reprogramei o modo como penso a comida desde que tive o privilégio de ser acompanhada por uma nutricionista maravilhosa, com competências multidisciplinares e uma imensa paciência para mim, que tendo a enjoar tudo e mais alguma coisa.
A rubrica lady lamp fica fit (sqn) foca exactamente este assunto, demonstrando que viver saudável e com sabor é possível e partindo da premissa que defende que super alimentos são aqueles que não sendo gordos, são cheios de nutrientes. Não é preciso atolar o estômago de quinoa, berrar por alimentos gluten free e adoçar o café com stevia para comer bem.
Não sou de modas, gosto de comida real e é isso que trago para as minhas refeições. Tudo isto deveria contribuir para que me sentisse bem na minha pele. A verdade é que não. Continuo a sentir-me enorme.
À esquerda, uma foto minha bem actual, tirada numa tarde de sábado tão descontraída como divertida. Entre as duas fotos há muita vida. Um noivado desfeito, uma mudança de carreira, um romance escrito, uma pós-graduação terminada, quatro mudanças de casa, muitos lutos, tantas dores. A certa altura, engordei. No ano mais difícil da minha existência, descuidei-me, não queria saber de nada - absolutamente nada. Só da minha dor. Sempre que pensava que estava a sarar, acontecia outra tragédia. O tempo passou e voltei a ter cuidado com as minhas escolhas. Quando me vi nesta fotografia, tive a sensação de que talvez não estivesse assim tão gorda - as bochechas são as mesmas, não há pneus, continuo a sentir as minhas costelas e tenho ossos bem visíveis. No entanto, quando me vejo ao espelho não me sinto bem. Na verdade, não me sinto bem desde que perdi aqueles vinte quilos. É que apesar de não me achar feia, não há muitos dias em que me ache realmente gira. Parece-me que deixei de gostar de mim como mereço. Não importa que me digam quão bonita sou, quão magra estou, não vejo nada disso.
Nunca quis ser skinny, até porque sou uma mulher com 1,70m e a minha estrutura óssea não é esguia. Sou uma ampulheta e gosto das minhas proporções. Tento contrariar cada crítica com um elogio, porque sei que se fosse tão cruel com outra pessoa como sou comigo, estaria sozinha no mundo. Então tento relembrar que as minhas mãos são bonitas, que o meu cabelo é forte, que o meu pescoço é alto e que os meus pés ficam lindos em qualquer par de sapatos.
Mas quão irónico é que alguém que trabalha directamente com a auto-estima dos seus clientes se sinta assim a seu respeito? Quão estranho é que alguém tido como confiante por todos seja um poço de fragilidade no que toca ao amor pela sua imagem?
Passo os dias a encorajar outras pessoas, a fazê-las ver quão especiais são devido às particularidades que as tornam únicas e dou por mim com tanta dificuldade em aceitar o invólucro que faz parte do todo que sou.
Foi esse o mote para que ontem me comprometesse um pouco mais com o meu corpo; além de todo o cuidado com a alimentação, decidi investir na actividade física, algo que será um sacrifício tremendo para mim. Na pior das hipóteses, fico com acesso livre ao spa do ginásio durante um ano. Na melhor das perspectivas, aprendo a gostar mais de mim, a ter mais carinho por este corpo que é o meu e a orgulhar-me dele.
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