Costumo dizer que o Inverno em Lisboa é para meninos. Na verdade, é. Dizem que vai chover em determinado dia e não vejo nada. Dizem que vai ser uma semana de tempestades e noto uns chuviscos. O frio não é tão frio como isso. Se fosse, não abdicava tantas vezes dos meus casacos mais quentes. Esses ficaram reservados para Pombal. Lá o frio é a sério. Mesmo. De manhã, à hora do almoço, ao final do dia, à noite. Os dias são escuros porque chove incessantemente. E é engraçado que apesar de quão deprimida isso me tenha feito sentir durante anos a fio, sinta tantas saudades de Pombal assim que o tempo arrefece. Lá o Outono e o Inverno são mais rigorosos mas há lareira. O ninho é sempre mais aconchegante que o vôo livre e solto. É lá que quero estar, naquele sofá e naquela cama. Com o mimo, o quente.
O meu coração hoje está estranho. Uma amiga perdeu o pai. Ela tem a minha idade. É inevitável temer pelos meus, sempre que sou confrontada com o terror da partida. E quão vão é o estender da minha mão perante tamanha dor. Tão inútil como o esforço para manter por cá os que mais amo.
E senti saudades de um tempo em que era feliz sem saber - disse alguém que admiro que só tomamos consciência do tanto de felizes fomos à distância de alguns anos, que no momento é impossível que nos apercebamos da felicidade que inunda os dias. Senti saudades de me sentir daquela maneira, senti falta do conforto, de me sentir em casa num mundinho pequenino que não me intimidava. Nessa altura, ela ainda tinha pai e tudo parecia mesmo simples. E eu era feliz, sem saber. Era uma personagem carismática de uma série daquelas que retratam a vida nos subúrbios.
E vou divagando nestas pausas que faço daqueles deveres que assumi.
Sem comentários:
Enviar um comentário