segunda-feira, 2 de julho de 2018

(não sei como vou fazer um trabalho tão bom quanto o dos meus pais)

É sabido que tendemos a esperar dos outros tudo o que somos - atitudes, gestos, posturas. Até pensamentos. Assumimos que os outros vão agir sempre ao mesmo nível que temos como unidade de medida do aceitável, bom e bonito. Deles exigimos pelo menos o nosso mínimo.
Esquecemos que os nossos valores mais baixos são, por vezes, elevadíssimos na óptica do outro. É por isso que nos chocamos, entristecemos, frustramos, desiludimos ou envergonhamos. 
Na maioria das vezes noto esta discrepância no que à educação diz respeito. As pessoas são tão pobrezinhas que qualquer dia fico com os olhos presos nas traseiras de tanto os revirar. Não se aguenta. É como se a etiqueta e o saber estar fossem démodé. Como se a delicadeza fosse para quem não é cool. Como se classe fosse apenas sinónimo de turma. Como se fixe fosse ser-se um brutamontes, sem respeito por ninguém porque liberdade é ser-se como se é, à bruta, sem filtros nem cuidado para não ferir quem nos rodeia.
Não sei como é que os meus pais conseguiram educar duas miúdas assim. Valeu a pena sentar-me à mesa com livros debaixo dos braços e ser ensinada a dizer obrigada, desculpe, com licença, por favor. Valeu a pena aquele sobrolho levantado para me pôr em sentido e o tempo passado a treinar o andar no corredor lá de casa. Valeu a pena ter aprendido a usar os talheres como deve ser e saber pôr uma mesa completa. É aquela coisa de ter bebido o chá pela colher sem sequer saber o que é sorver. 

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