terça-feira, 9 de outubro de 2018

das amizades que nunca chegaram a ser

as pessoas esquecem-se. esquecem-se de dar antes de cobrar. esquecem-se de que não há relações unilaterais que sobrevivam durante muito tempo. querem atenção sem sequer lhes ocorrer que seria bonito perguntar também ao outro como está o seu coração. como se sente. como está, por dentro. 
querem receber telefonemas mas não pegam no telefone para marcar um número apenas para dizer «tenho saudades tuas». queixam-se da ausência de alguém que não procuram. 

porque é que o egoísmo tem tanto espaço dentro das pessoas? porque é que acusamos o outro sem antes pensar no que fizemos - ou não fizemos - para obter determinadas reacções e respostas?

percebi recentemente que alguém que acreditei ser minha amiga não o é, na verdade. eu sou amiga dela mas o contrário não acontece. ela é fascinada por mim e por tudo o que faço, gosto, uso, compro, digo ou penso, mas não se interessa genuinamente pela pessoa que sou. não quer saber como me sinto, que dores me tiram o sono a partir das seis da manhã, que lágrimas não consigo conter, que ansiedade me aperta o peito ou que desejos tenho tentado concretizar pelas minhas mãos.

entristece-me, não minto. mas já esfriei tanto. já aprendi a não esperar dos outros o tanto que dou, porque o meu básico é extremamente elevado para a maioria. e está tudo bem. só depende de mim fazer o reconhecimento a tempo e não me dar. não me deixar ir. não me deixar magoar. não permitir que me suguem a luz que emano, que se aproveitem de mim, da minha bondade e dos meus talentos.

há algo na falta de preocupação com o bem-estar daqueles que dizemos amar ou meramente gostar, que rouba verdade ao sentimento - seja em que tipo de relação for. na família, nas amizades, nos romances, nas colaborações profissionais. se o lado humano não for exaltado em cada passo, através da empatia, não me interessa. não somos máquinas nem somos todos icebergues.

e quando existe a capacidade de ignorar o choro de alguém, o pedido de ajuda, o semblante carregado de alguém, assumo que não há ali reciprocidade. e se não há reciprocidade, não há amizade. 

nunca chegou a haver.

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