Decidi que da próxima vez que me questionarem acerca dos filhos que ainda não tive, em vez de revirar os olhos e dar pacientemente a resposta formatada de sempre «ainda não encontrei um pai à altura e não tenho pressa blá blá blá», vou activar o modo tolerância zero para com a falta de educação inerente a uma intromissão como essa e responder apenas "o que é que tens a ver com isso?".
Se o interlocutor insistir na questão, vou começar a chorar de propósito enquanto digo que esse é um tema extremamente sensível para mim, só para ver se se toca.
É ridículo que neste século ainda sinta pressões absurdas por parte de quem nada tem a ver com a forma como decido viver a minha vida.
Esse é um plano tão pessoal, um projecto tão íntimo, que não entendo porque raio qualquer pessoa se sente no direito de fazer perguntas descaradas sobre ele.
Fazem-se juízos de valor sobre quem decide ser mãe - que nem tem dinheiro para sustentar a criança, que não tem estabilidade na carreira, que é demasiado nova, nem casou ainda e está a pôr a carroça à frente dos bois - e sobre quem não quer ser mãe - que estranho, como raio é que uma mulher não quer viver o apogeu da feminilidade, é falta de maturidade e de altruísmo.
Como se não bastasse, também se julga quem ainda não deu à luz simplesmente porque ainda não se proporcionaram as condições que considera mínimas - olha que a idade avança e já não vais para nova. Como assim? Mas está tudo parvo?
Tenho para mim que se cada um cuidasse de si e de tomar as suas decisões com responsabilidade, este planeta seria muito mais agradável. Pelo menos não haveria por aí tanta gente com lacunas colossais na sua educação, já que os pais teriam estado ocupados a criar seres humanos decentes em vez de gastar tempo a pensar no que os outros fazem ou não com a sua genitália.
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