sexta-feira, 19 de outubro de 2018

o peso das palavras ditas

Claire Foy
escritas, proferidas, expressadas, exprimidas. 

Falo muito. Escrevo muito. Declaro muitas coisas, menos do que penso mas ainda assim, muitas. E faço-o naturalmente com uma leveza com que não são recebidas as palavras que solto. Aliás, diria até que me assusta a forma como guardam o que expresso. Fica retido em quem me ouviu ou leu uma ideia que nasceu deste coração denso e desta mente hiperactiva com a facilidade com que a tornei palavra. 

Não interessa se são parvoíces ou complexas dissertações filosóficas que inspirem positivamente quem as acolhe em si - a verdade é que nem o meio utilizado para os transmitir tem importância. A verdade é que lhes fica gravado. 

E passados meses, anos, lembram-se do que eu não consigo recordar. Sabem exactamente o que saiu de mim, com que tom e intenção, que efeitos teve no seu percurso e daqueles com quem espalharam o que afirmei. 

Toda esta percepção acerca da emissora que sou faz-me sentir tão grata (por todas as vezes em que é incontestável a utilidade da mensagem que transmiti) como responsável. Talvez não devesse falar e escrever levianamente. Talvez pudesse domar a minha incontrolável vontade de transformar pensamentos e sentimentos em verbo. Talvez pudesse. Mas deixaria de ser quem sou se tentasse controlar o que flui pela voz grave com que nasci ou pelos dedos compridos que não se cansam de escrever.

Não sei o que gera este acontecimento, o que faz com que as pessoas fixem as minhas palavras. Se assim é, que guardem as coisas bonitas que por vezes não me acanho de proclamar. As banalidades que são em simultâneo verdades que tenho como absolutas. As convicções que me forçam a não ter pena de mim. As certezas que me levam a agir de determinado modo. Os detalhes simples em que descubro grandes revelações. 

Não quero emanar mais que luz.