Daphne Groeneveld |
Depois sentem-se sós, queixam-se do afastamento daqueles que se cansaram de quem não tirou, por um segundo, os olhos do seu próprio umbigo.
Vocês conhecem o tipo: quando lhe falam da vossa dor, a pessoa já teve pior; quando lhe contam da vossa ansiedade, a pessoa desvaloriza; quando lhe tentam descrever o vosso problema, a pessoa ri-se. Só ela é que sofre, só ela é que atravessa dramas, só ela é que precisa de atenção.
Não quer saber de ninguém, não pergunta como estás, não se interessa pela tua vida mas exige cuidado e carinho como se as relações saudáveis não fossem baseadas em reciprocidade. Dá sempre prioridade ao seu conforto, ainda que tenha de te colocar numa posição desconfortável para o atingir. O que lhe é favorável está sempre acima do resto - é por isso que te pede, com a maior das latas, que te deites sobre a poça de lama para ela passar.
A pessoa é egocêntrica ao ponto de não se aperceber de como pode magoar os outros com tamanha displicência. «Morreu alguém? E então? Tiveste um acidente de carro? E depois? O que interessa é que eu quero a tua atenção aqui e agora para o que me convém. Porque o resto é o resto e eu sou o centro do mundo. A melga que está na parede da minha sala é muitíssimo mais importante do que o facto de estares desempregado. A unha partida no meu mindinho é muitíssimo mais importante do que o facto de teres sido submetido a um transplante de pulmão. O meu shampôo ter acabado é muitíssimo mais importante do que o facto de estares com queda de cabelo. Ter que comprar uns óculos novos é muitíssimo mais importante do que o facto de teres ficado cega de um olho.»
Vocês conhecem o tipo. Eu também. E tenho cada vez menos tolerância a este género. Cada vez mais diminuto o espaço na minha vida para essa estirpe.
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