SJP |
Não consigo evitar a nostalgia. É uma
melancolia que transborda de mim, um moer devagarinho, um pesar. É
um momento solene, este em que assistimos à morte de um ano que se
gastou. Todos eles têm prazo de validade e mesmo que não tentemos
esconder a satisfação pela chegada ao final de alguns, é
assustador notar a velocidade a que o tempo corre. De repente, estou
uma mulher feita, com 28 anos, IRS, poupança, ordenado, planos,
viagens, decisões, certezas... e um fardo cada vez maior ao ombro. O
passado é cada vez mais pesado, mais longo, tão extenso quanto tudo
o que vivi e senti, tudo o que aprendi, tudo o que doeu ou fez rir,
tudo o que me emocionou e tudo aquilo que me irritou. E eu gosto de o
trazer comigo, foi ele que me trouxe para este hoje tão bonito, que
me completou o ser, tornando-me nesta pessoa rica em complexidades
simples e paradoxos lineares.
No ano passado, recordo-me de sentir
uma apreensão inevitável quanto ao ano de 2013, ainda que não o tivesse confessado a muita gente. Sabia que apesar de estar marcado por um dos meus números preferidos, traria com ele várias
mudanças. E também sabia que isso seria muito bom, mas sem esquecer que as mudanças
são sempre dolorosas. Como as tempestades: trazem barulho, confusão,
estragos, desconforto... mas lavam tudo e exigem ser seguidas de
renovação. Assim seria o meu ano: houve danos, perdas, mudanças de
direcção, tomadas de decisão dificílimas com consequências
indigeríveis. Chora-se um bocadinho, soltam-se uns rugidos para
afastar quem não interessa e respira-se fundo. Mas depois veio a
doce calma, a paz, o silêncio que só ouve quem atravessa todas as
intempéries de queixo erguido, confiante e certo dos valores que o
regem. Passa o silêncio e a Vida volta a cantar, suave, lenta,
adocicada a melodia e o sabor do vento que nos faz deslizar sobre os
acontecimentos. Não nos reerguemos, porque nem chegámos a cair. Só
o olhar torna a focar-se no que realmente importa. Os sonhos
tornam-se objectivos e os dias seguem. Mais um ano.
Desta vez, não sinto apreensão nem
receios, não há medo nem renitências. E se o décimo terceiro ano
destes dois mil se viria a revelar tudo o que temi antes da sua
chegada, 2014 será o ano da transição. Estarei a trabalhar com os
pés bem assentes no presente e os olhos postos no que virá. Sei que
este vai ser um ano de construção, que se poderá revelar
cansativo, mas que só pode ser muito frutífero. Certamente um ano
feliz. Sei que sim. E espero que para quem me lê também.
4 comentários:
Um bom ano para ti minha queria! Que seja suave...
Gostei desta tua descrição do teu ano. Também me sinto assim muitas vezes, mas acho que 2014 para mim será memorável, assim o espero, e o mesmo te desejo a ti, um ano cheio de tranquilidade e alegria!
MENINA
Gostei de te ler.
Um NOVO ANO com os teus desejos cumpridos.
Muita, muita felicidade.
Bjnho
lídia Carrola
Adorei este texto!
Oh dona lamparina e quando nos planos a realização de um livro?
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