“- Tia, dá só vinte euros!
- Vocês não fazem ideia de quanto
dinheiro são vinte euros, pois não?
- É, não...”
A tia deu-lhes umas notas de kwanzas e
seguimos caminho. O trânsito era caótico, as motas passavam por
cima dos duplos traços contínuos sem medo de cortar a mão a quem
seguia na sua faixa. Sem medo de bater, sem medo de morrer. Um
engarrafamento desorganizado como nunca tinha presenciado, uma confusão
assustadora. Durante a curta viagem, a mãe ia tentando encontrar
referências da Luanda que já não existe na Luanda actual. Para
mim, tudo novo. Aqueles miúdos vendem de tudo por entre os carros,
eram brinquedos e redes mosquiteiras, acessórios para os carros,
bebidas, telemóveis topo de gama. A noite já tinha caído e eles
continuavam ali, a ganhar algum no meio do trânsito. Estacionámos
junto ao Chitaka, um restaurante perto da marginal. Mal entrámos, a
minha mãe começou a acenar e numa das mesas, um homem respondia com
o mesmo gesto. Era o Waldemar Bastos, um cantor que pelo que me
disseram, é bastante conhecido. Depois de conversarem um pouco,
fomos sentar-nos numa mesa indicada pelo Relações Públicas do
espaço. Olho para ele. Uma vez mais. As sobrancelhas franzidas e os
olhos semicerrados para ter a certeza de que focava bem o rapaz.
Repito, já com um sorriso a nascer no rosto. A tia e a mãe já em
pânico, pensando que gozava com um desconhecido. Ele retribui o
sorriso e o espanto, 'o que é que estás aqui a fazer?', 'acabei de
sair do aeroporto!', um abraço e a comoção a humedecer o olhar.
Partilhámos a mesma Escola Secundária, os mesmos amigos e os mesmos
motivos para rir durante horas. Sabia que o André estava em Angola,
mas não podia imaginar o que fazia nem onde trabalhava. Além de
mais bonito, ele estava também mais feliz. E que bom foi chegar e
ter uma surpresa tão surpreendente.
2 comentários:
Que engraçado!! Há coincidências do caneco!! Eu conheço-o mas só de ir lá almoçar!
=)
ainda bem que encontraste alguém conhecido! :)
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