sexta-feira, 2 de março de 2018

o tempo não esquece

Maryna Linchuk
Há tão poucas pessoas que ouçam.

Há tão pouca gente que escute.

Há conversas que não o são, porque não são trocas de informação. Não há papéis de emissor e receptor, há apenas emissores. Duas pessoas que atiram frases uma para a outra. Não há diálogo.

Pensava nisto recentemente, a propósito de alguns assuntos que tentei esclarecer com quem de direito, sem grande sucesso. Sem sucesso nenhum, para ser franca. Foram espaços de tempo que ocupei com palavras ditas, em que cansei a minha voz sem que fosse ouvida. Disse tudo sem que a mensagem chegasse ao lado de lá. E depois de tentar esclarecer mal-entendidos, vim-me embora com a certeza de que não tinham sido clarificados. Soube que tínhamos debitado informação mas que ela tinha ficado ali, a pairar, sem que fosse absorvida, mastigada, pensada, retida. 

Em prol da boa convivência, de uma paz podre que se vai mantendo sem que se saiba porquê, passa-se à frente, cada um com a sua ideia de como as coisas aconteceram, sem querer saber da verdade do outro.

Isso deixa-me o sabor a insuficiência na boca. Não me chega. Não fui ouvida, não acreditaram em mim nem quiseram saber o que pensei, o que senti, o que me levou a agir de determinado modo. 

O tempo não apaga. Afasta, mas não apaga.

O tempo não esquece. 

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