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Kendall & Gigi |
Que a
beleza de uma mulher não tem qualquer influência na beleza de outra
mulher é uma certeza bem sólida no meu coração.
Ainda
que reconheça a elegância das proporções de uma Naomi Campbell e
a admire, tenho a certeza de que isso não afecta a forma como me
vejo, me julgo e me sinto em relação ao meu corpo.
Por
exemplo, sou fã do cabelo da Blake Lively e no entanto, sei que
aquele louro não funciona no meu tom de pele e seria incapaz de o
copiar. Adoro os caracóis da minha irmã e não tenciono assumir a
minha ondulação natural nem fazer uma permanente. Sou fã do
sentido estético dela e não o quero replicar. Admiro traços de
personalidade nos outros que, no máximo, me inspiram a melhorar o
que sou.
Quem
se conhece, se aceita e se ama, não quer vestir a pele de outro.
Quem tem personalidade não copia, ainda que se inspire. Quem é
seguro de si quer apenas ser quem é.
Ser o
outro é um lugar que já foi ocupado - guess what? - pelo outro!
Este papel que me foi atribuído, de ser eu, tem de ser desempenhado
por mim. Não há tempo para perder, não há ensaios, a peça está
a decorrer agora. Eu, com esta personalidade, estes gostos, esta
inteligência, esta sensibilidade, esta emotividade, este ser. Eu,
com este corpo, esta estrutura óssea longe de ser esguia, este
pescoço alto, esta cabeleira farta, estes olhos papudos, este
sorriso enorme. Eu, que independentemente de tudo o que não sou nem
tenho, sou eu.
É do
auto-conhecimento que vem a auto-estima. Quando sabemos que pessoa
somos, defeitos e virtudes, passamos a gostar mais do todo complexo e
denso que nos forma a identidade. E quando nos amamos - mãos, pés,
boca, alma - apreciamos cada especificidade, cada particularidade que
nos distingue dos outros. Quando isso acontece, não queremos ser
outra coisa que não seja o nosso eu. É para connosco a nossa
lealdade maior.
Talvez
por tudo isto me cause repulsa a falta de personalidade, que se
mostra em pormenores, que é nos detalhes que se vislumbram grandes
revelações. Às vezes irrita-me, outras entristece-me. Sempre que
alguém tenta ser o que não é, a base é a mesma: falta de amor por
si.
E se
a imitação poderia causar-me alguma vaidade, a verdade é que tem o
efeito oposto. Incomoda-me, retrai-me, afasta-me. A condescendência
afecta a forma como olho para quem insiste em tentar assemelhar-se a
mim e isso influencia a minha postura - dou-me menos.
Todas
nós passámos por isso: todas tivemos aquela amiga que nos admira e
que começa a reproduzir o que somos, vestimos ou fazemos, de forma
velada. Aquela a quem contámos querer um determinado blazer azul e
que no dia seguinte aparece com o tal vestido, fingindo não ter
ouvido o que lhe fora dito. Aquela que passa a amar ananases depois
de descobrir que até temos uma tatuagem com um ananás. Aquela que
copia as nossas ideias e as executa de forma incompleta ou incorrecta
antes de as colocarmos em prática, só para poder ser a primeira.
Todas
sabemos que se essa mesma amiga dissesse apenas que adora o nosso
casaco novo e que gostaria de ter um igual, o problema não
existiria. A questão é que quando há uma certa inveja - e
não me venham com a treta da inveja branca; inveja é inveja e não
consta no meu vocabulário - esse género de coisinhas
mesquinhas mina a relação e espelha o que se passa lá dentro, na
relação que essa pessoa tem consigo mesma. Por norma, reduzem-se,
inferiorizam-se e são poços de insegurança.
Na
minha concepção de amizade, não há lugar para competições vãs
nem invejas. Onde isso existe, não há amizade, há outra coisa
qualquer. Em tudo na vida, a comparação não é um bom mote,
exactamente porque cada um é um só: na origem, no contexto, no
percurso, nas experiências, na maneira de ser, na perspectiva, no
tipo de raciocínio que lhe é natural, nos gostos.
Então
acredito que cuidar de nós é prioritário. Tornar-me na minha
melhor versão impede que comparações estúpidas afectem o modo
como me sinto em relação ao que sou.
E há
tanto para fazer, tanto investimento por onde começar! Sugestões?
- Terapia para
melhorar a auto-estima, que proporcione melhor conhecimento acerca do
todo que somos e nos faça andar em frente no caminho da aceitação,
resolvendo questões antigas e destruindo mitos que sejam obstáculo
para que nos amemos e possamos evoluir.
- Criação
de novas rotinas espirituais e de contacto com a Natureza,
momentos só nossos que nos façam sentir de energias renovadas e que
tornem mais nítida a visão, para que possamos ver tudo o que de bom
somos e temos ao nosso redor e sentir genuína gratidão por isso. Há
quem precise de se descalçar na areia, quem anote diariamente os
pontos fortes do seu dia, quem faça yoga, quem medite ao som de
mantras...
- Cuidar
do corpo para uma imediata sensação de bem-estar e de
crescente satisfação com o nosso invólucro e pelo nosso futuro eu.
É preciso mexermo-nos e entre dançar, correr ou nadar, alguma coisa
há-de ser agradável. Apostar numa alimentação equilibrada e
nutritiva é essencial para que nos sintamos tão leves como
despertos. Ser atento aos cuidados com a pele é indispensável e não
são precisos mais do que alguns minutos por dia para implementar
rituais que a melhorem. Não é vaidade, é saúde.
- Devemos
mimar-nos. Seguindo a linha de pensamento do ponto anterior, uma
máscara facial por semana fará maravilhas. Uma ida ao cabeleireiro,
um passeio numa cidade diferente, uma mudança de visual através de
uma mera extensão de pestanas, um workshop que nos entusiasme, uma
massagem relaxante, uma fatia daquele bolo delicioso, um livro que
nos prenda, uma ida a um concerto ou a um teatro, um hobby novo ou
aqueles sapatos excêntricos - não interessa o que é, importa
apenas que nos faça sentir mimadas. Falo de pequenos luxos que são
também uma forma de nos incutir a sensação de que somos
importantes para nós.
- Definir
um estilo e vivê-lo diariamente. Claro que um Consultor de
Imagem o descobre em três tempos e fornece todas as directrizes
necessárias para que o que usamos reflicta a pessoa que somos, mas
na impossibilidade de recorrer aos serviços de um profissional,
devemos comprometer-nos a escolher apenas o que nos faz sentir muito
bem - mais ou menos nunca é suficiente. É suposto que a roupa nos
incremente a confiança, melhore a nossa aparência e nos divirta, em
vez de nos apagar ou de trazer desconforto.
- Não
ser simplesmente anti. Cultivar o amor. Ser anti-qualquer-coisa
só porque sim não chega. Descobrir o que nos faz vibrar é parte do
objectivo da nossa estadia no mundo. Encontrar paixões, saber o que
nos move é o que nos faz sentir vivos.
Ninguém
nunca marcou a diferença no mundo por ser igual aos outros.
[ be yourself. and enjoy it ]
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