sexta-feira, 16 de junho de 2017

ver a morte

Não sou daquelas pessoas que anseiam pela sexta-feira mas hoje estou feliz por ter chegado o fim desta semana. Apesar de ter feito muita praia, de ter jantado com pessoas especiais, de ter tido conversas maravilhosas e de terem nascido mais ideias para o meu projecto mais ambicioso, tive noites mal dormidas, dias de ansiedade e vi um homem morrer.

Já vi pessoas mortas, claro, mas nunca tinha presenciado aquele momento exacto em que a vida sai de dentro de um corpo. Ali. À minha frente.

Estava no carro, vinha da Ribeira das Naus a caminho do Cais do Sodré. Parada no semáforo, reparei no cambalear de um homem que rapidamente começou a desequilibrar-se e a tentar apoiar-se numa das viaturas à minha frente. A condutora assustou-se e pouco depois, ele caiu à frente do carro. Já apreensiva, o primeiro pensamento que me ocorreu quis desdramatizar a situação: "Está calor, é natural que as pessoas se sintam mal". Nesse instante, começaram as convulsões e a minha expressão devia ser tão óbvia que o condutor à minha frente, ao sair do carro, gritou-me que não saísse do meu. Houve um momento em que senti que tinha acabado. O INEM chegou minutos depois e não demorou muito até que o tal homem fosse colocado numa maca e coberto com plástico azul.

O trânsito continuou a fluir como se nada se tivesse passado. Eu também segui caminho, entre lágrimas e soluços.

1 comentário:

Liliana Pereira disse...

Que situação. Estou com um nó na garganta só de ler. :(