quarta-feira, 10 de junho de 2015

19

Nunca mais me hei-de esquecer do dia em que os meus pais, sentados aos pés da minha cama, me acordaram com a notícia de que em breve deixaria de ser filha única. Nunca mais me hei-de esquecer da indignação que se apoderou de mim: para que raio precisavam de outra criança? Eu não era suficientemente boa filha? Não lhes bastava ter-me a mim?

Ao longo dos nove meses, fui-me habituando à ideia. Na escola, todos os trabalhos passaram a ter como objectivo o irmão ou a irmã que chegaria. Fiz-lhe uma almofadinha nas aulas de EVT, cosi-a à mão e tudo. Escrevi-lhe poemas, desenhei o bebé por todo o lado. Ainda estava dentro da barriga da nossa mãe e já falava com ela. Questionava-me sobre como seria, fisicamente. E que personalidade teria. Gostaria de mim? Nunca fui fácil de gostar, e se não gostasse? E se fosse menina, mais bonita que eu? Iriam comparar-nos. E se fosse mais inteligente que eu? Deixaria de ser a criança prodígio para ser a irmã dela?

Chegou o dia 10 de Junho, que sempre me dissera muito pelo amor que desde pequena nutria pelo autor da nossa epopeia. Estávamos em 1996 e eu lembro-me como se tivesse sido no ano passado. Não poderia ter estado noutro lado durante toda a manhã - sentada na sala de espera da maternidade, a ler os meus livrinhos da Turma da Mônica. À hora do almoço, fui com o pai almoçar. Almôndegas.

E quando te vi, depois das 14:25h, não tive medos. Soube que eras minha irmã. Tão pequenina, tão frágil, as mãos sempre a mexer. Já eras irrequieta, eu é que não percebi os sinais. Já eras cabeluda. E já eras linda. As comparações começaram nesse dia: "Ela nasceu muito mais bonita do que a irmã, tadinha, que nasceu verde". E mesmo sendo miúda, mesmo tendo sido filha única ao longo de uma década, não senti ciúmes. Ficava orgulhosa de cada elogio que te davam, porque eras a minha nova irmãzinha.

E depois tomei conta dela, não precisei de Nenucos, tinha-a e ao seu closet magnífico para brincar. E chegou a espera. Esperei por ela para que finalmente pudesse falar, mas mesmo quando isso aconteceu, não podíamos ter conversas a sério porque ela era demasiado pequena para perceber os meus dramas de adolescente. Esperei por ela para que brincasse comigo, mas quando quis brincar, eu já não queria saber de bonecas. Esperei por ela para que pudesse sair à noite comigo, mas a Escola Primária exige demasiada concentração por parte dos alunos.
Esperei até há pouco tempo.

De repente, olhei para o lado e tinha uma cúmplice. Continuamos a ser tão diferentes como fomos, quando nos compararam no dia em que nasceste. Continuas a ser a mais bonita, a mais cabeluda e serás sempre irrequieta. Tu, toda sorrisos. Eu, sempre arrogante. Tu, toda alegria. Eu, lágrima. Há dias disse ao pai e à mãe que tinham tido filhas como a lua e o sol (sendo que o lado lunar fica por minha conta). Continuo orgulhosa de ti, porque és a minha irmãzinha.
A espera terminou.
Conversamos tanto, sabes tudo sobre mim. Fazemos tudo juntas. E já me acompanhas nas noitadas. Somos a claque uma da outra. O sucesso de uma é a realização da outra.

Neste ano, em que a minha irmã comemora 19 anos de vida, tem-se revelado uma mulherzinha. Às vezes dou por mim boquiaberta com tanta responsabilidade. Tão forte e tão doce, tão firme nas suas inseguranças.

Já to disse, Mimi... hoje escrevo: não me importaria de ser eternamente dor se fosse esse o preço a pagar pelo teu sorriso a vida inteira.

Parabéns, meu amor.

Dezanove?!!

1 comentário:

Ana Catarina disse...

que linda declaração à tua mana! <3 Parabéns e as maiores felicidades para ela!