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Marilyn Monroe |
O cansaço bom é aquele que resulta de uma noite mal dormida que valeu a pena. É o que não aparece nos filmes nem nas séries. É ouvir o som irritante do despertador, lacrimejar com os raios de sol que nos ferem a vista entrando pelo quarto adentro sem ter pedido autorização, calçar as pantufas entre dois tropeços e não saber como raio vamos sobreviver a um dia de trabalho neste estado. Chegar ao quarto de banho e ver no espelho a pior versão do que sabemos ser: o cabelo desgrenhado, a cara marcada pelos lençóis, os olhos mais inchados que nunca. Tentar lavar os dentes como uma pessoa e cumprir a tarefa atabalhoadamente como um primata. Babar o pijama, sujar o roupão com pasta dentífrica. Descer as escadas rumo à cozinha e entornar os cereais pela bancada, na impossibilidade de os colocar civilizadamente dentro da taça. Abrir a porta do frigorífico e depois de levar com ela na cara, de ficar agarrada ao nariz durante três segundos, tirar de lá um iogurte e deixá-lo cair no chão. Vê-lo rebentar. Ter esperança de que o gato venha ajudar e coma aquilo tudo. Finalmente, tomar o pequeno-almoço, enquanto se espreita o feed do Instagram. Beber um café, fumar um cigarro e ir vestir qualquer coisa. Hoje, nem interessa o quê. Optar pelo conforto e ir a cantarolar e a sorrir para o trabalho. Querer ter os dois olhos abertos em simultâneo e não conseguir. Experimentar apanhar ar lá fora, está a chover mas pode ser que desperte. Cumprir tarefas em modo automático e ter que verificar 50 vezes se está tudo bem feito. Ir olhando para o telemóvel à espera que aquele nome surja. Colocar a hipótese de faltar durante a tarde porque depois do almoço o sono aumentou e se calhar mais valia ficar no sofá a dormir e a ver SATC do que estar de corpo presente sentada à secretária. Mas acima de tudo, para lá de tudo isso, o sorriso que nada nem ninguém conseguem roubar. Aquele apertozinho no coração que dispara à mínima memória. Aquele mimo.
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