Nunca tive Nancys nem outras do género. Não gostava delas. Não eram tão bonitas como as Barbies, que ainda por cima eram cheias de estilo. A minha irmã, por sua vez, nunca ligou muito a esse género de bonecada. Sempre preferiu Nenucos e consolas, que uma década de distância é tempo mais que suficiente para alterar tendências.
Nunca quis ser parecida com uma Barbie, embora ainda ambicione igualar o lifestyle dela. Sou feliz com o corpo que me serve de morada e mesmo enquanto menina, não sonhava ter os longos cabelos louros ou a cintura ridiculamente estreita das minhas bonecas. Elas eram bonecas, não modelos a seguir.
Agora que sou uma mulher adulta, continuo a gostar de Barbies. Já não brinco com elas nem lhes compro roupinhas, mas enquanto ícone da cultura pop e como figura mediática cheia de relevo, que surge vestida com criações dos designers mais aclamados do planeta, continuo atenta. Adoro ver exposições relacionadas com a boneca mais fashion do mundo e acho divertidíssima a sua história, a sua evolução e também as marcas que vai deixando um pouco por todo o lado [ quem não reparou nesta colecção da Moschino para o próximo Verão? ].
Tudo isto para dizer que finalmente assisto ao boom das bonecas pela beleza real, com medidas em consonância com as proporções humanas. Não creio que venham destronar a Barbie, mas acho maravilhoso que a minha filha venha a poder escolher entre uma boneca altamente estilizada e uma com aspecto de gente... porque há lugar para todas as belezas no mundo.
As diferenças entre a Lammily e a Barbie são imensas. Primeiro, o nome. A mais velha continua a ganhar. Lammily não é um nome espectacular. Em segundo... bom, basta ver o vídeo abaixo.
As campanhas pela beleza real têm sido uma constante. Se não me engano, a Dove terá sido uma das pioneiras nessa batalha. Nas últimas semanas, os acontecimentos que envolvem a Victoria's Secret ou a Calvin Klein têm dado pano para mangas e a discussão não parece parar por aqui, mas o que interessa é perceber que as crianças, com aquela pureza que lhes é inerente, parecem adorar uma boneca que se assemelhe às pessoas de quem gostam:
Esta conversa toda fez-me lembrar de uma experiência impressionante [ ainda que um pouco falaciosa, já que não oferece grande liberdade de expressão às crianças inquiridas ] que revela noções de racismo apreendidas pelas crianças:
Posto isto, limito-me a concluir que o âmago da questão não são as bonecas, como é óbvio. O problema está na formação das crianças. Em casa, na escola, em sociedade. Esta não é uma reflexão leve e simples. Os problemas que existem no campo dos preconceitos, da imagem que temos dos outros e da auto-imagem não são solucionados apenas pelo que consumimos, mas primordialmente por um avanço enorme na evolução da mentalidade de cada indivíduo que integra a sociedade massificada de que fazemos parte, conscientemente ou não.
Enquanto adultos mal formados puderem educar crianças, sendo através do exemplo transmissores de princípios deturpados, a Humanidade será constituída por seres desprovidos de valores, que julgam pela aparência e que se submetem às maiores atrocidades por ideais de beleza que não são humanamente possíveis de atingir.
Ainda assim, parece-me óptimo que se amplifique a escolha, que a diversidade de bonecas disponíveis no mercado espelha as especificidades de cada um de nós.
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