quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Barbies e afins...

Sou fã da Barbie. Fui muito feliz junto das minhas 24 Barbies e do meu único Ken. Ainda me lembro das personalidades de cada boneca, do papel que desempenhavam naquela mini-sociedade monitorizada por mim. Lembro-me da louca colecção de sapatos que tinham, de como lhes confeccionei tantos vestidinhos a partir de collants velhos. De como fiquei feliz quando recebi o Corvette para elas, o jipe, a piscina... bom, eram mesmo os meus brinquedos preferidos.

Nunca tive Nancys nem outras do género. Não gostava delas. Não eram tão bonitas como as Barbies, que ainda por cima eram cheias de estilo. A minha irmã, por sua vez, nunca ligou muito a esse género de bonecada. Sempre preferiu Nenucos e consolas, que uma década de distância é tempo mais que suficiente para alterar tendências.

Nunca quis ser parecida com uma Barbie, embora ainda ambicione igualar o lifestyle dela. Sou feliz com o corpo que me serve de morada e mesmo enquanto menina, não sonhava ter os longos cabelos louros ou a cintura ridiculamente estreita das minhas bonecas. Elas eram bonecas, não modelos a seguir.

Agora que sou uma mulher adulta, continuo a gostar de Barbies. Já não brinco com elas nem lhes compro roupinhas, mas enquanto ícone da cultura pop e como figura mediática cheia de relevo, que surge vestida com criações dos designers mais aclamados do planeta, continuo atenta. Adoro ver exposições relacionadas com a boneca mais fashion do mundo e acho divertidíssima a sua história, a sua evolução e também as marcas que vai deixando um pouco por todo o lado [ quem não reparou nesta colecção da Moschino para o próximo Verão? ].

Tudo isto para dizer que finalmente assisto ao boom das bonecas pela beleza real, com medidas em consonância com as proporções humanas. Não creio que venham destronar a Barbie, mas acho maravilhoso que a minha filha venha a poder escolher entre uma boneca altamente estilizada e uma com aspecto de gente... porque há lugar para todas as belezas no mundo.


As diferenças entre a Lammily e a Barbie são imensas. Primeiro, o nome. A mais velha continua a ganhar. Lammily não é um nome espectacular. Em segundo... bom, basta ver o vídeo abaixo.


As campanhas pela beleza real têm sido uma constante. Se não me engano, a Dove terá sido uma das pioneiras nessa batalha. Nas últimas semanas, os acontecimentos que envolvem a Victoria's Secret ou a Calvin Klein têm dado pano para mangas e a discussão não parece parar por aqui, mas o que interessa é perceber que as crianças, com aquela pureza que lhes é inerente, parecem adorar uma boneca que se assemelhe às pessoas de quem gostam:


Esta conversa toda fez-me lembrar de uma experiência impressionante [ ainda que um pouco falaciosa, já que não oferece grande liberdade de expressão às crianças inquiridas ] que revela noções de racismo apreendidas pelas crianças:


Posto isto, limito-me a concluir que o âmago da questão não são as bonecas, como é óbvio. O problema está na formação das crianças. Em casa, na escola, em sociedade. Esta não é uma reflexão leve e simples. Os problemas que existem no campo dos preconceitos, da imagem que temos dos outros e da auto-imagem não são solucionados apenas pelo que consumimos, mas primordialmente por um avanço enorme na evolução da mentalidade de cada indivíduo que integra a sociedade massificada de que fazemos parte, conscientemente ou não.

Enquanto adultos mal formados puderem educar crianças, sendo através do exemplo transmissores de princípios deturpados, a Humanidade será constituída por seres desprovidos de valores, que julgam pela aparência e que se submetem às maiores atrocidades por ideais de beleza que não são humanamente possíveis de atingir.

Ainda assim, parece-me óptimo que se amplifique a escolha, que a diversidade de bonecas disponíveis no mercado espelha as especificidades de cada um de nós.

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