terça-feira, 16 de outubro de 2012

Sobre a lealdade.

Elettra Rossellini
Se o respeito caiu em desuso, a lealdade mal deixou rasto. Já mal se ouve falar dela, é confundida com a fidelidade e anda pelas ruas da amargura, moribunda e deixada ao abandono do esquecimento. São poucas as pessoas que conheço e que compreendem o conceito no seu todo, ou por outras palavras, da maneira como eu o entendo. Ser muitíssimo leal faz parte da minha personalidade, pelo que além de não ser um esforço, é algo que exijo daqueles com quem me relaciono, como se de um princípio básico para entrar no meu coração se tratasse.
Para que não haja espaço para lapsos na leitura, passo a explicar o que significa para mim tal termo: o vocábulo em si remete-me para as noções de fidelidade e sinceridade com uma implícita dedicação. Diz o dicionário que quem é leal é franco, fiel, dedicado e que não falta às promessas que faz. Note-se que as promessas não têm que ser verbalizadas ou assinadas num documento... eu ainda acredito que em cada beijo ou abraço íntimo faço uma promessa calada. A lealdade é uma virtude que envolve honra, na medida em que honramos uma relação ou um sentimento, mesmo que perante circunstâncias adversas. 
Subscrevo na íntegra as palavras desse sábio dos nossos tempos, Miguel Esteves Cardoso: "Para se ser um bom amigo, têm de herdar-se, de coração inteiro, os amigos e os inimigos da outra pessoa. É fácil estar sempre do lado de quem se julga ter razão. O que distingue um amigo verdadeiro é ser capaz de estar ao nosso lado quando nós não temos razão. O amigalhaço, em contrapartida, é o modelo mais mole e vira-casacas da moderação. Diz: «Eu sou muito amigo dele, mas tenho de reconhecer que ele é um sacana.» Como se pode ser amigo de um sacana? Os amigos são, por definição, as melhores pessoas do mundo, as mais interessantes e as mais geniais. Os amigos não podem ser maus. A lealdade é a qualidade mais importante de uma amizade. E claro que é difícil ser inteiramente leal, mas tem de se ser."
No fundo, é simples. É só isto que espero dos meus amigos: que me defendam publicamente, mesmo que não tenha toda a razão e venham a dizer-mo em privado. Porque os amigos são aliados, fazem parte do meu clã, que integra também a minha família basilar e o meu namorado. Deles, tendo a esperar o mesmo que estou disposta a fazer, ainda que o faça sem esperar recompensas, dado tratar-se de um acto de amor. É uma questão de reciprocidade simples, que as relações sociais implicam sempre uma troca - de expectativas, de gestos, de amor. São coisas sérias, as relações. E eu levo-as a sério. Muito a sério.
Já fui apanhada de surpresa por uma ou outra desilusão, porque como já disse, a lealdade é um bem raro de se encontrar nos outros. Mas só dói profundamente, rasgando peito e alma, quando alguém daquele clã, a quem amamos intensamente, não consegue perceber como nos fere a ausência de lealdade numa determinada acção. Se não foi capaz de me ser leal num momento, por mais insignificante que pareça, como poderei saber se o será futuramente, num acontecimento mais importante? O que fazer se não temos a mesma sensibilidade, o mesmo tacto, para esta questão? É que a segurança vem desta confiança de que se não estiver a ver, aquela pessoa a quem entreguei um bocadinho de mim vai estar pronta a marcar o meu território, a defender-me, a tomar conta de mim, porque sou especial e importante também na sua vida. 

Mais sobre o assunto aqui.

9 comentários:

Pipoca dos Saltos Altos disse...

Verdade. Há valores que um dia foram nobres que agora parecem ter caído no desuso, uma pena...

Imperatriz Sissi disse...

Está perfeito. A lealdade é, por genética e por educação, um dos valores sine qua non para que as pessoas façam parte da minha vida. Algumas porém, não conseguem entender o conceito, por mais que digam que gostam muito de nós. "Quem é amigo de todos não é amigo de ninguém" - facto.

Vanessa V. disse...

Este texto está perfeito! Não podia concordar mais com as tuas palavras! Os verdadeiros amigos são leais, companheiros, fieis, sinceros, honestos!

Su Ferro disse...

Muito obrigado por este momento tão agradável de leitura.
Um beijinho!d

S disse...

É verdade! O grande MEC é que a sabe toda :)
Bj S

Ana Catarina disse...

Acho que já se perdeu muita coisa hoje em dia e o valor da amizade foi uma dessas perdas... :/

Guinhas disse...

Realmente é pena que hajam valores que tenham sido perdidos...hoje em dia há mais liberdade e as pessoas tomam tudo como garantido, e acham que o ser humano é descartável..usar e quando não for necessário arranja-se outro

Tamborim Zim disse...

Tb penso muitas vezes em algumas palavras do MEC sobre a lealdade. P mim, é a qualidade mais importante numa pessoa.

Tamborim Zim disse...

Com a honestidade.