terça-feira, 18 de setembro de 2012

Queria dormir.

Agyness Deyn
E foi quando a tempestade amainou que tentou olhar à volta. Destapou o rosto e a cabeça, tentou levantar-se. Ainda não conseguia perceber que mudanças tinham acontecido, mas via que estava tudo mudado, tudo diferente. Ficou ela, com a cria que tentara proteger debaixo do braço. Levaram-lhe tudo o que tinha sido seu. Levaram-lhe a casa, os livros que escrevera, a esperança de que o seu pequeno mundo era inabalável, indestrutível, inalterável. E ainda não choveu para que a água levasse os destroços. Sente-se frágil e débil, mas viva. Olhou à volta, tentou erguer-se. Ainda não conseguia perceber tudo o que tinha sofrido, tudo o que tinha crescido, tudo o que tinha passado a ser. Queria dormir, dormir até que os dias passassem e fizessem desaparecer os danos.
Quando dormimos, sonhamos. Quando sonhamos, vivemos o que não vivenciamos fisicamente. Libertamo-nos do peso do cadáver adiado que nos priva da leveza da liberdade e de tudo o que nos prende ao chão e não nos deixa voar. Quando dormimos, não vivemos o ramerrame do quotidiano nem perdemos tempo com o que faz doer. Não há paz como aquela que o sono traz.
E então ela queria dormir, dormir até que os dias passassem e fizessem desaparecer os danos, as dores, as partes de si que morreram mas que continuam vivas quando entra no doce estado de dormência que procura todas as noites. Perdeu-se de si mesma e não sabe onde se encontrar. Não sabe o caminho, que a Vida tornou-se num irreconhecível labirinto em que cada canto esconde outra dor. Para onde foram as luzes que lhe iluminavam a escuridão que não tinha em si lugar? Para onde fugiram as mãos que a aqueciam quando não tinha frio? Para onde foi a pessoa que habitava naquele corpo forte? Deixaram-na ali, esquecida pelo tumulto do tempo que não quis saber dela.

1 comentário:

Imperatriz Sissi disse...

Por vezes é melhor dormir, até que tudo volte ao lugar. Todos os grandes Deuses passaram pelo menos 3 dias no Inferno para regressar mais fortes. Invariavelmente as coisas regressam aos eixos, não há trevas que sempre durem. Esses abanões fazem parte e iluminam áreas que nem conhecíamos ;)