terça-feira, 6 de setembro de 2011

da Moda em tempos de crise.

Daria Werbowy
Quando, numa qualquer aula na Faculdade de Letras, perante toda uma turma de aspirantes a jornalistas com sonhos e ambições que passavam pela BBC e pela CNN, na idade em que um Pulitzer parece fácil de alcançar, afirmei que o lado sério do jornalismo de investigação não me atraía, fui olhada com espanto. Quando expliquei que seria muito feliz ao escrever em publicações ditas femininas, onde a moda e o lifestyle seriam os temas centrais, fui olhada com desprezo. O rótulo estava escrito nos seus olhos: fútil. Perante as dúvidas que se levantaram (porque a ignorância é atrevida e já me perguntavam porque raio haveria eu de querer ir trabalhar para a Maria ou para a TV7 Dias), fiz ver que a moda poderia também servir de estudo antropológico da sociedade. Essa indústria que emprega milhares de pessoas e que representa grande fatia do mundo dos negócios em todo o mundo, reflecte a História em si, caracteriza épocas, define correntes de pensamento, expressa estilos de vida ou o simples estado de espírito de alguém em determinado momento. Se assim não fosse, não conseguiríamos dizer que nos anos 20 se popularizaram as franjas nos vestidos, que nos anos 70 as bocas-de-sino fizeram as delícias dos hippies ou que na idade média não se usavam tank tops com jeans. Se a moda não fosse relevante, que importância teria tido a mini-saia, o estilo militar do pós-guerra ou os fatos femininos de Yves Saint Laurent?
Também é sabido que em tempos de crise económica e financeira a sociedade tende a afastar-se do minimalismo, da mesma forma que se procuram novas formas de alienação do contexto desagradável que provoca o desânimo geral. Se assim não fosse, não subiriam automaticamente as vendas de batons vermelhos em épocas de pouco dinheiro nas carteiras. Em tempos de crise, como os que atravessamos actualmente, a moda serve de escape e oferece o sonho de riqueza e de opulência que não encontramos nos créditos recusados pelas instituições bancárias ou nas empresas falidas que povoam as cidades. E a História é cíclica, como decerto saberão. Será talvez por esse motivo que voltam a protagonizar os editoriais das revistas que adoramos os tecidos ricos, os cortes ricos, as cores ricas, as texturas ricas e a exagerada exuberância nas jóias, que vemos em muita quantidade. A importância de uma statement piece num outfit ganha terreno. Voltamos ao aveludado das bombazinas, às cinturas muito marcadas e aos ombros austeros numa silhueta muito bem estruturada, aos tons intermédios como o bordeaux ou o mostarda (depois do boom dos turquesas e dos corais), usamos folhos, rendas, transparências, brilhos, lantejoulas e peles. Queremos chapéus de feltro e polka dots. Porque a moda é o sonho e a projecção do querer. É materializar a vontade. E todos queremos estar fora disto.

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