sábado, 23 de julho de 2011

Amanhã faço anos.

Pequena Menina Lamparina
Quando era miúda, este dia era tão ansiado que tinha honras de ser assinalado em todos os calendários da casa. Na porta do meu quarto, por norma, figurava um em que os dias iam sendo riscados à medida que os atravessava. Assim era também no Natal. Não só por saber que ia receber presentes, mas também porque eram dias de festa, com um cheiro diferente a ser exalado pelas paredes da casa. Tinha cheiros para tudo, um dia escreverei sobre o assunto. Bom, o cheiro dos dias de festa estava sempre associado a uma certa comoção, que a emotividade nostálgica e a lágrima melancólica sempre andaram de mãos dadas pelo meu sistema circulatório. Deve ser do coração, que por se julgar tão importante, tenta apoderar-se de todo o corpo que o encarcera.
Recordo o sorriso vaidoso de quem se sentia bonita por estrear um vestido novo, comprado de propósito para a festa que protagonizava. (Há coisas que nunca mudam.)
Recordo o entusiasmo aplicado à decoração da sala, com tiras de papel crepe cor-de-rosa que os meus pais prendiam pelo tecto, balões por todo o lado e, claro, o serviço inteiro de louça de plástico do meu boneco preferido do momento sobre a mesa.
Lembro-me de escolher cada um dos meus bolos de aniversário: "Este ano, quero a Mônica!".
E lembro-me da minha vó, que por não querer ver enciumada, ia abraçar nos intervalos das brincadeiras com os outros meninos.
Sabem, vou fazer 26 anos. Daqui a quatro, tenho trinta. Sempre me imaginei noutro contexto. Essa menina de que vos falei sonhou ser estilista, por adorar roupa, acessórios, moda e tecidos. Quis ser taxista, por saber que iria adorar conduzir. Mas acima de tudo, quis ser escritora. E mãe. Mulher. Adulta. Queria que tudo acontecesse como sonhava, porque não faria sentido de outra maneira. Nunca se imaginou fisicamente mais velha, mas sabia que ia ser diferente de toda a gente, porque isso sempre tinha sentido e há coisas que, como já por aqui escrevi, não mudam. Nunca se imaginou psicologicamente mais velha, que a maturidade só lhe traria pragmacia, cautela, sensatez, defesas e sentido prático e tudo isso só abranda o trato, não altera o ser. Mas imaginava-se noutro contexto. Não me entendam mal: sou feliz. Nessa altura, não sonhava ter uma irmã cujo abraço é o meu fôlego - foi uma das maiores surpresas com que a Vida me presenteou. Nem sonhava ter a mão cheia de amigos que tanto amo. Sabia apenas da chegada do meu Amor, por quem sempre esperei, bem como da constante presença dos meus pais - também ela imutável. Tinha já alicerçadas as relações familiares que mais prezo e pelas quais sou grata. Não esperava divertir-me tanto, mas esperava ter muito mais. Falo de coisas que na altura eram simples, tão simples... a Barbie tinha uma casa, a Polly Pocket também, eu teria a minha o quanto antes. Se elas tinham carros descapotáveis cor-de-rosa, também eu o viria a ter quando pudesse conduzir. Enfim, a instabilidade não é agradável e não me deixa sorver os segundos com todo o prazer que merecem, que a degustação forçada não é deleite para alma nenhuma.
Amanhã faço 26 anos e é a primeira vez que não me apetece inaugurar uma nova idade. Deveria completar 23, para poupar três anos. O que faria com eles? Tudo aquilo que já deveria ter feito, sem medos.
Quanto à menina de que vos falava, é a mesma que vos escreve. É a Menina Lamparina, que já o era antes de o saber. A diferença é que agora ela está mais longe do início, mais perto de descobrir a razão para ter nascido.

4 comentários:

Juca disse...

és, realmente, uma excelente escritora. és adulta e madura nos pensamentos. e, pelo menos pareces ser, uma boa amiga. feeling! *

Lady Lamp disse...

Awnnn Obrigada, Joaninha* Tento ser uma boa amiga. Quanto ao adulta e madura, esse lado é sempre contrabalançado com a estupidez infantil... :D Beijinho*

Paula Sofia Luz disse...

bonito texto ;)
parabéns atrasados :)

Lady Lamp disse...

Obrigada, Paula. Beijinhos*