Pequena Menina Lamparina |
Recordo o sorriso vaidoso de quem se sentia bonita por estrear um vestido novo, comprado de propósito para a festa que protagonizava. (Há coisas que nunca mudam.)
Recordo o entusiasmo aplicado à decoração da sala, com tiras de papel crepe cor-de-rosa que os meus pais prendiam pelo tecto, balões por todo o lado e, claro, o serviço inteiro de louça de plástico do meu boneco preferido do momento sobre a mesa.
Lembro-me de escolher cada um dos meus bolos de aniversário: "Este ano, quero a Mônica!".
E lembro-me da minha vó, que por não querer ver enciumada, ia abraçar nos intervalos das brincadeiras com os outros meninos.
Sabem, vou fazer 26 anos. Daqui a quatro, tenho trinta. Sempre me imaginei noutro contexto. Essa menina de que vos falei sonhou ser estilista, por adorar roupa, acessórios, moda e tecidos. Quis ser taxista, por saber que iria adorar conduzir. Mas acima de tudo, quis ser escritora. E mãe. Mulher. Adulta. Queria que tudo acontecesse como sonhava, porque não faria sentido de outra maneira. Nunca se imaginou fisicamente mais velha, mas sabia que ia ser diferente de toda a gente, porque isso sempre tinha sentido e há coisas que, como já por aqui escrevi, não mudam. Nunca se imaginou psicologicamente mais velha, que a maturidade só lhe traria pragmacia, cautela, sensatez, defesas e sentido prático e tudo isso só abranda o trato, não altera o ser. Mas imaginava-se noutro contexto. Não me entendam mal: sou feliz. Nessa altura, não sonhava ter uma irmã cujo abraço é o meu fôlego - foi uma das maiores surpresas com que a Vida me presenteou. Nem sonhava ter a mão cheia de amigos que tanto amo. Sabia apenas da chegada do meu Amor, por quem sempre esperei, bem como da constante presença dos meus pais - também ela imutável. Tinha já alicerçadas as relações familiares que mais prezo e pelas quais sou grata. Não esperava divertir-me tanto, mas esperava ter muito mais. Falo de coisas que na altura eram simples, tão simples... a Barbie tinha uma casa, a Polly Pocket também, eu teria a minha o quanto antes. Se elas tinham carros descapotáveis cor-de-rosa, também eu o viria a ter quando pudesse conduzir. Enfim, a instabilidade não é agradável e não me deixa sorver os segundos com todo o prazer que merecem, que a degustação forçada não é deleite para alma nenhuma.
Amanhã faço 26 anos e é a primeira vez que não me apetece inaugurar uma nova idade. Deveria completar 23, para poupar três anos. O que faria com eles? Tudo aquilo que já deveria ter feito, sem medos.
Quanto à menina de que vos falava, é a mesma que vos escreve. É a Menina Lamparina, que já o era antes de o saber. A diferença é que agora ela está mais longe do início, mais perto de descobrir a razão para ter nascido.
4 comentários:
és, realmente, uma excelente escritora. és adulta e madura nos pensamentos. e, pelo menos pareces ser, uma boa amiga. feeling! *
Awnnn Obrigada, Joaninha* Tento ser uma boa amiga. Quanto ao adulta e madura, esse lado é sempre contrabalançado com a estupidez infantil... :D Beijinho*
bonito texto ;)
parabéns atrasados :)
Obrigada, Paula. Beijinhos*
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