terça-feira, 5 de abril de 2011

a média luz

Marilyn Monroe
E quando lhe falavam em escrever por obrigação, ela sentia-se sufocar. O que lhe saía de dentro não poderia nunca ser restringido por margens impostas.
Depois veio o hábito e com ele, o gosto pela escrita formatada, que ser mensageiro também tinha afinal o seu encanto.
Quando já esse saber fluía de si como quem trauteia uma canção velha, roubaram-lhe o meio.
Não sabia o que fazer com a caneta e nem porque sim queria escrever. Era como se o sentido se tivesse perdido e a inércia tomasse conta dos seus dedos. Escrever por prazer não trazia mais que nada a quem a lia. Escrever sem razão não tem propósito. Escrever para quê? Que interessa o conteúdo de uma alma, se não muda uma lei? Que interessa um pensamento, uma dor, um amor, um arrepio cá dentro? Que valor tem a palavra sentida se não lhe associamos acontecimentos cujo impacto se sinta longe, em mais que um? Para que serve escrever, se não instruímos o leitor?

Foi por isso que não houve "bom fim-de-semana" nem "mexe comigo". Pela primeira vez desde que nasceu, o lamparina perdeu razão de ser. Já não preciso de um escape, já não preciso de dizer coisas que não relatos fiéis e imparciais. Não quero dar a minha opinião nem dizer o que sinto. Porque já não escrevo por obrigação.

Foi a segunda vez, em toda a minha vida, que perdi a vontade de escrever. Espero que passe depressa, porque não gosto de mim sem as minhas palavras vãs.

Sem comentários: