sexta-feira, 1 de abril de 2011

Hoje quem escreve não é a Menina Lamparina. Não é a Ana Rendall. É a Ana Tomaz, d'O Correio de Pombal.

É com muita pena minha que já não trabalho n'O Correio de Pombal. Tanta pena que as lágrimas não se controlam, atropelam-se umas às outras. Irónico, já que antes dizia que nunca iria parar ao OCP.
Entrei por desporto. Por motivos pessoais, tive que suspender os estudos durante um ano e fui convidada a colaborar com o jornal. Aceitei, já que o meu curso não é mais nem menos que Jornalismo. Podia usar algum do meu tempo livre aprendendo a trabalhar, que na Universidade não havia nada disso. Lembro-me das primeiras falhas com um sorriso, recordo os infundados medos iniciais. É que eu estava intimamente ligada à JSD, o que num meio pequeno equivale a ter um rótulo difícil de descolar. O meu primeiro real desafio foi entrevistar o João Melo Alvim na noite das eleições autárquicas. Eu integrava a lista que o tinha vencido na Junta de Freguesia e já trabalhava à peça no único jornal da terra, o que levou a óbvios constrangimentos. Não queria ir, mas não podia deixar de provar a minha imparcialidade, a base do profissionalismo nesta área. Ele colaborou comigo e, ao contrário da grande maioria dos seus apoiantes, foi íntegro, correcto, educado. Fiquei grata, foi uma vitória.

Poucos meses e muitos textos depois, fui convidada para trabalhar a tempo inteiro no jornal. Continuava com tempo de sobra e aceitei. No meu primeiro dia, era uma pessoa bem menos crescida que agora. Não sabia nada. Nem o que ia fazer. Eu, que sempre achei que seria incapaz de trabalhar na vida porque ninguém ia gostar de mim e porque só gostava de mandar, sentada a uma secretária?
Fui recebida de braços abertos por uma equipa de gente trabalhadora, responsável, profissional. Com cada um deles, aprendi qualquer coisa. Paulo, Manuela, Lia, Jessi, Odete, Bruno. Todos conseguiram um pedacinho do meu coração. Todos. Nunca houve problemas, nem nas alturas de maior stress. E não posso deixar de referir, com a maior gratidão, a paciência que tiveram comigo, o modo como me integraram e me fizeram sentir em casa. Com todos aprendi algo que levo para sempre cá dentro.

Parecia fácil: é só escrever, não é? Não. É muito mais que isso. É ter faro. É saber o que se passa. Se se pode passar alguma coisa. É fazer de uma ocorrência, notícia. E escrevê-la para que todos compreendam. É simplificar, tirar o exagero. É desenrascar. Tapar buracos. Estar disponível porque pode estar a acontecer alguma coisa importante à meia-noite, no Carriço. Abdicar de tempo, de família, de amigos. É andar durante duas horas num areal enorme até encontrar uma tartaruga. É ter um jantar marcado com o amor da nossa vida e estar numa Assembleia Municipal até às onze da noite. É ter entusiasmo nessa assembleia, mesmo sabendo que já é tarde e estando com o estômago colado às costas. É vestir a camisola, honrar a empresa. Dar a cara por ela. É perceber o leitor e explicar-lhe tudo. É criar boas relações lá fora, ter uma conduta honrada, ser respeitada, credível. É fazer com que confiem em nós. E tudo isto muito rapidamente. Porque o jornal tem que sair.

Quando reparei, já não era a Ana Rendall, da JSD. Nem a filha do veterinário. Quando reparei, já atendia o telefone com uma nova identidade: "Fala Ana Tomaz, d'O Correio de Pombal". E sentia que as pessoas me tinham começado a tratar de outra forma. Acho que deixamos de ser miúdos quando começamos a trabalhar...

Choro porque me apaixonei pelo trabalho.
Choro porque me viciei no frenesim, no objectivo semanal.
Choro porque já não me imagino sem o ritmo.
e porque as pessoas com quem estive todos os dias, ao longo do último ano, me marcaram.

Mas choro, principalmente, porque a péssima gestão com que agora O Correio de Pombal conta, não quer saber do jornal nem das pessoas que o fazem.

Não há uma lágrima minha derramada por estar no desemprego, não há motivo para isso.
Fervilham ideias, surgem propostas, abrem-se janelas.
Não perdi nada.
Ganhei currículo, experiência, amizades, conhecimentos, tarimba.
Ganhei uma nova perspectiva das pessoas, do meu concelho.
Cresci tanto... foi um ano de evolução intensiva, pessoal e profissional.
E desde hoje, ganhei também mais tempo para definir o que escrever na próxima página.

6 comentários:

Li disse...

:( um beijinho de mta força. Fecha-se uma porta, abrem-se muitas janelas... e o sol está aí e veio para ficar, vais ver que vais ter sorte na busca de um novo trabalho. :)

Anónimo disse...

Nocas,

Hoje é a mim que me apetece dizer: OBRIGADA... por tudo! Mas sobretudo pela amizade. E, essa, ninguém nos tira.

Beijocas
Manuela

Lady Lamp disse...

Obrigada, Li* Sei que sim. Quando der por ela, já estou grata por esta mudança. A Vida é assim. :) Beiju*

Manu, o mais precioso conserva-se melhor que o que não interessa. Mais ou menos como os diamantes se conservam melhor que as bugigangas da Parfois. <3

Marlene Matias disse...

Ana, desejo-te as maiores felicidades! Apesar de te conhecer (muito) pouco, continuo a adorar ler aquilo que escreves...
Boa sorte!!!

Marlene Matias

Lady Lamp disse...

Obrigada, Marlene. Pelos votos de felicidades, que retribuo, e por me fazeres saber que gostas de me ler. Sem isso não há piada em escrever.

Continuamos a encontrar-nos... nem que seja nas festanças em Almagreira!

Beijinhos*

Anne Ant disse...

Nem acredito que aquele jornal vai fechar, aquilo não era "aquele" jornal mas era o jornal que marcava Pombal..
Vida de jornalista é complicada.. E eu ainda me quero meter nesse meio
beijinho! ~