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Também eu fui posta de parte pela maldade de que as crianças fazem uso: era a maior da turma. Era a mais alta, não era magricela. Pior ainda, era a única menina mestiça na escola e cheguei a ter uma professora que o evidenciou: "A mistura de um branco com uma mulata dá uma cabrita. A Menina Lamparina é uma cabrita"... hoje rio-me de tudo isso, mas na altura não foi agradável ouvir a turma a balir em uníssono. Também era a única que não era católica. Não ia à catequese. Não tinha religião: "Conta lá, Menina Lamparina. És Testemunha de Jeová?", perguntou a dita professora. Nada contra os Testemunhas de Jeová, mas de facto eu não era. Os meus pais decidiram simplesmente deixar-me escolher, quando tivesse idade para isso, em que acreditar. Como a situação financeira lá em casa nunca me deixou andar rota e suja, porque havia dinheirinho para comprar fatiotas catitas para mim, também isso era alvo de crítica. Era rica e o meu pai, senhor doutor, tinha um Saab - que os outros miúdos nem sabiam o que era, mas como ouviam os comentários tecidos pelos seus pais, toca a levar isso no saco das ofensas para a escola. Fartos de me ver chegar a casa a chorar e a dizer que queria ser "mulata como tu, mãe", os meus pais ensinaram-me a defender-me. E assim foi. A certeza de que a diferença em mim não era uma coisa má, nunca me abandonou... mas afectou muito a minha capacidade de socialização, até aos 15 ou 16 anos. Espero que a Ana nunca deixe de acreditar em como ser diferente, por vezes, é uma vantagem. Espero que ela saiba que ser loura entre de morenas só pode causar invejas. E que a inveja só se sente quando se quer atingir algo melhor ou superior, que não detemos, mas o alvo da inveja sim. Espero que ela acredite na beleza dos seus olhos azuis e no poder das suas curvas, quando crescer.
3 comentários:
Excelente texto! Quem nunca se sentiu o bicho raro, que atire a primeira pedra. Eu, que fui educada para não fazer troça de quem era considerado feio, gordo, pobre com outro problema qualquer, fiquei de boca aberta quando cheguei à escola e vi a maldade dos miúdos. Claro que chegou a minha vez de ser gozada - porque era reservada (peneirenta) porque cresci cedo (o que me obrigou a distribuir estalada para me livrar de atrevidos) e porque e porque e porque. Onde há vontade de chatear, os motivos aparecem e o mais triste é que a máxima "ignora-os que isso passa" não resulta. O velho truque do papá, "confronta-os e bate-lhes também" foi o único que funcionou. E ainda o uso, sem chegar ao confronto físico. É a vida.
Boa Ana, continua a primar pela diferença e alcançarás o sucesso! ;) muitos beijinhos.
E agora vou ali ao FB dizer aos teus amigos que podem (e devem) comentar no blog, porque mereces ter comentários em muitos post deste excelente blog e não apenas no FB :)
Obrigada, Imperatriz Sissi :) Infelizmente, a lei do mais forte ainda prevalece e temos mesmo que fazer uso de armas menos ladylike para pôr as pessoas no seu lugar.
Obrigada, Li... e vamos ver se a malta consegue comentar aqui, em vez de se ficar pelo face... :D
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