segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Blair

Miss Blair at work
Não foi por olhar para a montra de uma loja de animas e ficar embevecida com a beleza dela. Nem foi por vê-la entre os vários irmãos, numa ninhada linda à volta da mãe. Foi por ser dócil, pelos olhos dela, pelo medo que a fazia tremer insistentemente. Foi por achar lamentável que um ser passe por este mundo sem ser amado. Sem ser mimado. Era uma rafeira igual a muitas outras, hoje é a minha Blair. Em vez dos pontapés, em vez de ser enxotada com vassouras, hoje tem colo, uma caminha só para ela, mantinhas, coleiras e roupinhas, que ela é só pele e osso e sofre com o frio como a Adda (a labrador) nunca sofreu. Tem personalidade vincada, é manhosa, fiteira, dissimulada. Faz o que lhe apetece, brinca imenso. Adora tomar banho e há tempos encontrámos um pudim feito pela minha mãe, roído até metade... É divertida, stressada, cheia de vida. Mas há quinze dias que não a vejo correr, nem equilibrar-se em cima das duas patas traseiras, andando atrás de mim. Não quer sair da cama. A febre não baixa. Não quer comer. Só às vezes. Não pula quando me vê... deixa-se estar deitada, os olhos de carneiro mal morto viram-se para mim e só a cauda dá sinais de vida. Anda xoxa. Já levou soro, já levou vitaminas, cálcio, glucose e montes de outras coisas. E não há maneira de arrebitar. Hoje foi com o meu pai para Coimbra, está a tirar uns raio x e vai fazer umas ecografias para ver se finalmente descobrimos que raio se passa com a minha pequenina. E eu estou no trabalho, em pulgas, queria era estar lá, ao pé dela até saber o que fazer. A Assembleia Municipal sobre a qual tenho que escrever parece-me uma brincadeira de criança. A vida não é nada daquilo. Preocupamo-nos tantas vezes com merdices e esta vida é um sopro. É uma poeira ao vento. É nada. E nós com ela. O pior erro do ser humano é levar-se demasiado a sério...

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