terça-feira, 24 de abril de 2018

já nada é como foi.

Como o sonho, é uma constante da vida. Tão concreta e definida como outra coisa qualquer, causa-me desconforto. Sou naturalmente avessa à mudança, ainda que não caiba em zonas de conforto. Há dicotomias e paradoxos que não se explicam - são, simplesmente. 

Via o primeiro discurso de Canel enquanto presidente de Cuba e os meus olhos humedeceram. «Parvoíce», pensei. «Nem és comunista!» - nem cubana, acrescento.

Já não há Fidel. Já não há avô João, que conviveu com ele. Já nada é como foi.

O meu olhar vagueou pela paisagem com que a janela grande me deixa deslumbrar, pousou no céu e quis voltar para casa dos meus pais. Quis tanto.
Quis abandonar tudo - a casa que amo, a cidade onde nasci, a minha carreira e a aventura desregrada que caracteriza cada um dos meus dias. Quis fugir.
Já nada é como foi e eu também tenho medo, medos, tantos. Medo de perder o que ainda nem ganhei. Medo de nunca alcançar tudo o que ainda tenho por conquistar. Medos.
Quis voltar atrás no tempo e deitar-me entre os meus pais, na cama deles, numa manhã de sábado. Ali estava tudo bem.

Mudou tudo, mudou o mundo, mudou a vida e eu com ela. Sou grata por cada viragem, por cada alternativa à direcção em que rumo. Sou grata pelo agora que é um verdadeiro presente. Mas porra, custa tanto.
Estar aqui aterroriza-me. Sozinha. E eles sozinhos, sem mim. Não estamos todos juntos, não vivo na nossa casa, aqui tenho medo.

Sinto que já vivi muitas vidas, testemunhei muitos mundos, integrei muitas realidades. 

Já não há Fidel. Já não há avô João. Já nada é como foi.

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