terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Passaram dois anos.

Meu querido, há uma frase que digo sempre, há muito tempo: a única diferença entre a ficção e a vida real é que na primeira, tudo tem que fazer sentido. 

Isto é a vida real. A minha, a dos teus, a nossa. Passaram dois anos e continua tudo tão fresco, tão profundamente terá sido gravado em mim. Sempre tive memória de peixe e essa noite, os dias seguintes, os meses depois, recordo-os como se estivessem a acontecer agora, com uma presença incrível.  Lembro-me de ti todos os dias. Vou lembrar-me sempre. 

Depois da incredulidade e depois do choque, veio tudo o resto. E foi tanto. Uns voltaram às suas existências tentando em vão fingir que nada acontecera. Outros mudaram de rumo, de casa, de trabalho, tentando fugir do que foi. Houve quem se perdesse por completo e só agora esteja a voltar das cinzas e quem tivesse canalizado toda a dor para uma produtividade heróica. Independentemente de todas essas diferenças, há algo comum aos tantos que te perderam: todos sentimos que a tua partida mudou tudo. Há pessoas a quem me sentirei ligada para sempre. Há pessoas que não quero voltar a ver. A outras, faltou coragem para permanecer ao meu lado, que é sempre melhor estar perto de quem sorri sempre. Mudou tudo.

Foi tão violento que me mudou também. Desde as entranhas, sou outra. A minha estrutura mudou, o meu olhar mudou, a minha relação com Deus mudou, as minhas prioridades mudaram. Alterou-se o espaço disponível para o que não interessa e para quem não importa. Dois anos e está tudo diferente. Ias gostar de ouvir as novidades. Sei que sabes delas. E que estás bem. Sei-o com toda a certeza que pode caber dentro do meu corpo terreno. Talvez um dia possa contar tudo. Todas as coincidências, todos os acontecimentos, tudo o que me faz saber e sentir com tanta convicção. 

Sabes aquela sensação que temos, às vezes, de não conseguir recordar o rosto de alguém por não o ver há muito tempo? Contigo, não me aconteceu. Os dias não te apagaram. Dois anos sem te ver e não me esqueço de nada. 

Não quero esquecer nunca.

Agora que a culpa já me abandonou, que aceitei não poder mudar o passado, a dor não é desesperada - é esta lágrima que não contenho, por vezes um sorriso provocado por uma memória boa, noutras alturas um cantar baixinho aquela música que vai ser sempre a tua. 

Vou ter saudades a vida toda. 

3 comentários:

Mel disse...

Lamento :(

... de facto há coisas para as quais não temos resposta.
deixo aqui um abraço apertado!

Isabel Margarida Simões disse...

❤❤

Lady Lamp disse...

<3