quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Já cansa.

Já cansa, disse, enquanto a ouvia falar sobre esta frieza que se exige de toda a gente. Como se não fosse o ser humano um ser social. Já cansa. Já não há paciência para todos estes medos, estas máscaras, estas barreiras. Todos temem mostrar, dar, ser. Já cansa. 

Falávamos de quão ridículo é que exista receio em revelar sentimentos - pior: que exista receio em manifestar qualquer tipo de vontade, por se temer má interpretação.

Passo a explicar: vivemos tempos em que as pessoas estranham a natural simpatia. Estranham o elogio desinteressado. Estranham um convite para um café, uma mensagem sentida, uma sincera vontade de estar com o outro, conhecer o outro. Interesses amorosos estão incluídos mas não são o único caso em que os receios se fazem sentir. A questão «mas porque é que ela quer ser minha amiga?» também surge com demasiada frequência. Acreditamos mesmo que toda a gente é mal intencionada?

Tenho a sensação de que andamos todos a competir para descobrir quem consegue ser mais frio e mostrar menos: 
- Recebi mensagem dele agora. Vou esperar uma hora para responder para que não pense que estou desesperada.

- Ela está a ligar? Vou deixar tocar um bocado. Fazê-la esperar. Ou talvez nem atenda e ligue amanhã.

- Recebi um convite para jantar hoje e apetecia-me ir, no entanto adiei para não parecer fácil ou desocupada.

- Ele postou uma foto maravilhosa, ai de mim fazer like ou ainda pensa que estou obcecada. 

- Salto sempre as stories dela no Instagram para que não me ache um stalker. 

Quando é que nos tornámos nisto? Quando é que decidimos ser preferível adiar a vida, o contacto com os outros, a conexão com aqueles por quem nos sentimos atraídos - mental ou fisicamente, com ou sem romance à mistura? Porque é que demos lugar ao medo do que vão pensar em vez de confiar nas nossas reais intenções e deixar as interpretações para quem as constrói? O que interessa o que pensam do que fazemos se o que pensam for mentira? Do que nos estamos a proteger? 

Se já estamos sem aquela pessoa na nossa vida, porque havemos de temer correr o risco? Se o «não» é tudo o que temos agora, então porque não tentamos ter mais? Porque é que não batemos à porta? Porque é que não abrimos a porta? Porque é que fingimos desinteresse uns pelos outros? Porque é que não fomentamos conversas nem criamos oportunidades? Figura de parvo faz quem faz tempo para responder a mensagens, contando os minutos enquanto formula uma frase seca e distante para não parecer cativado. Estúpido é quem acha que simpatia é flirt. Ignorante é quem pensa que ter a porta aberta para pessoas novas é solidão. 

Devíamos instituir um movimento anti-frieza, ou arriscamo-nos a passar ao lado de histórias lindas, valiosas e inesquecíveis, perdendo para sempre pessoas maravilhosas com quem poderíamos rir, tomar um café, jantar, ir a um concerto, conversar durante horas, para viver uma existência sem sal, sem açúcar, sem sabor. 

Já cansa. 

3 comentários:

Mel disse...

Obrigada Lady Lamp por este texto,... também quero pertencer a esse movimento anti-friesa e acho que todos nós apesar de por vezes ser difícil temos de fazer algo nesse sentido, nem que sejam pequenas coisas!
vou partilhar este teu link lá no blog para inspiração do fim-de-semana, pode ser?!

Bjos doces, sem pretensões ♥

Lady Lamp disse...

Obrigada eu, pelo comentário. <3

Partilha, claro. E recebe outro beijinho meu! :*

Mel disse...

=) partilharei como inspiração para o fim-de-semana!

bjsssssss