Coco Rocha |
Quando podia finalmente fazê-lo, achei que já tinha passado demasiado tempo e não me apeteceu.
Quando reparei, o assunto era motivo de dúvida para tanta gente - não percebo bem porquê, a vida é minha e a relação também era - que me pareceu legítimo resguardar-me.
Agora que passou mais de um ano e depois de não ter respondido aos mails e comentários de leitoras com perguntas sobre o assunto, posso dizer que sim, que terminei um namoro que já era noivado. Felizmente não houve qualquer interferência externa. Foi simples como nos inícios, em que nos apaixonamos porque sim, mas ao contrário. Deixei de gostar.
Durante muito tempo, quis convencer-me de que era só uma fase, talvez fruto de uma pressão
Quando assumi perante mim tudo o que se passava cá dentro, senti um alívio enorme e uma dor profunda. É que ao pôr fim a uma relação a dois, não terminamos só o agora. Não é no momento presente que se esgota o final. Matam-se os sonhos, os planos e os projectos. Assassina-se um futuro inteiro. E no que diz respeito ao passado, temos que o arrumar e seguir em frente sem aquela mão na nossa.
Na verdade, tive a sensação de que me tinha desviado da minha rota durante alguns anos e que voltava agora a tudo o que sou. Sabem aquela sensação de plenitude, em que nos sentimos preenchidas, entusiasmadas com a vida e cheias de páginas em branco por escrever? Tantos objectivos de que me tinha esquecido, tantos sonhos adormecidos, tanto.
Mas nem tudo foram rosas depois do ponto final: houve muita porcaria. Muita porcaria, mesmo. Trampa. Quis ficar amiga daquele que significou tanto para mim durante um determinado período de tempo - tanto que ponderei casar, certo? -, mas foi impossível. Não somos todos feitos da mesma massa. Não temos todos o mesmo carácter. Não somos todos bem formados.
Da maneira mais baixa e dissimulada possível, vi exposta a minha intimidade, devassada a minha privacidade. Fui alvo de faltas de respeito imperdoáveis, fruto de uma infantilidade que não consigo tolerar. Não poderia manter disso no meu mundo, que a minha paz é a minha prioridade.
Confesso que estranhei, porque não estou habituada a riscar pessoas da minha vida. Posso manter distâncias de segurança, mas nunca corto definitivamente. Apaguei o número do meu telemóvel e decidi que o melhor era mesmo esquecer que aquela pessoa existia: não havia amizade possível, que isso só se cria com respeito e esse vocábulo não faz, de todo, parte do seu léxico.
O único grande lamento foi perceber que não deveria ter esperado tanto tempo para pôr fim ao que já tinha morrido. O meu cuidado e a minha preocupação com ele tiveram como retribuição apenas um qualquer tipo de ressabiamento, fruto do orgulho ferido, sei lá. Ou talvez seja só falta de carácter, de princípios e de personalidade. Mesmo assim, eis-me aqui contando a história apenas ao de leve. Há coisas que não mudam.
Não é só aqui no blog que não entro em detalhes. Aprendi a não perder tempo a falar do que não é bom. Não sinto raiva nem ódio, não lhe desejo mal. Também não lhe desejo bem, porque não lhe desejo nada. Tenho alguma pena, ao verificar que não sobrou grande coisa... e pontualmente ainda me irrita a forma absurda com que trata, ainda hoje, aqueles que me rodeiam. Principalmente a Mana Lamparina.
Aprendi imenso. Aprendi que não vale a pena ignorar sinais. Aprendi que não podemos fugir do nosso coração: mesmo que não o escutemos, ele sussurra ao cérebro e vamos criando pequenas aversões. Por isso, nada de não ouvir a nossa voz interior. Nada de negar sentimentos. Nada de sabotar emoções ou disfarçar evidências.
Liberdade é ser o que somos, sentir o que sentimos, pensar o que pensamos. Se nos afastamos de nós, perdemos o Norte.
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