Saber que ficar às vezes representa um
acto de coragem mais significativo do que ir. Que aguentar e esperar
são verdadeiras torturas, mas que as consequências de um acto
precipitado podem ser desastrosas. Distinguir ordenar de orientar.
Saber estar, que viver não custa, o que custa é saber viver... e há
ocasiões, idades e oportunidades para tudo. Admitir que maturidade
não tem nada a ver com os anos de vida. Ter a certeza de que o modo
como se faz é tão importante como o que se faz. Ter zelo pela
privacidade e respeito por si. Saber que a mediocridade existe e que
pode tornar-se num fenómeno, mas nem querer comentá-la para não
lhe dar poder, que o tempo de antena oferece protagonismo.
Ter a
certeza de que os melhores momentos raramente são congelados nas
fotografias que se partilham pelas redes sociais. Saber que nessas
plataformas, todos são desprovidos de preconceitos, altruístas e
sinceros; todos são frontais, educados e dotados de vincada
personalidade e bom carácter... mas que lá fora, nas ruas, cospem
no chão, comem de boca aberta, pisam quem caiu, ignoram as dores dos
outros e fazem da ingratidão a saudação mais usada. Sem pudores,
maltrata-se o Português, chateia-se a malta com pedidos para jogos
sem a menor piada e faz-se a apologia da aparência, que isso do
conteúdo é para quem não vê a Casa dos Segredos e, por isso
mesmo, está fora da cena. Expõem-se os corpos em fotografias
carregadas de filtros e em ângulos favorecedores à omissão dos
defeitos que se possam disfarçar, “compartilham-se” frases
feitas sem sequer tentar aplicar as máximas ao quotidiano oco.
Projectam uma dimensão da vida que talvez nunca tenham experimentado
– a feliz. Então qual é a vantagem, perguntam? Além de comprovar
a teoria hipodérmica, tem o chat, de que faço uso profissionalmente
e para ir mantendo contacto com aqueles que, por este ou aquele
motivo, não estão perto. Cada vez mais fã do off.
Cara Delevingne |
1 comentário:
Identifiquei-me tanto em algumas partes deste texto! Muito bom :)
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