sexta-feira, 28 de março de 2014

o ponto de equilíbrio

Anja Rubik
Contavam-me sobre uma pessoa que se farta depressa dos namorados ou dos fulanos com quem tem casos. Como se fosse uma característica dela. Calei-me, não me apeteceu comentar, mas na verdade, quem se cansa com facilidade nem sempre é uma pessoa insaciável, insatisfeita ou pouco madura. Nem fria, nada disso. A falta de entusiasmo com uma relação vem com a rotina. É inevitável quando não há amor. Ou quando há um amor fraquinho. Ou quando não há paixão, daquelas paixões arrebatadoras e eternas, que provocam borboletas no estômago durante anos e anos e anos.
Pessoalmente, já me fartei do excesso de atenção e do excesso de desapego. Fartei-me sempre das pessoas, das relações e da convivência. Preciso de me sentir extraordinariamente querida pelo outro, mas não posso ser sufocada. Sou um bocado claustrofóbica, mas não gosto de sentir demasiado espaço entre o fim da minha pele e o início da dele. Quando as flores já não me fazem sorrir com a surpresa, está o caldo entornado. Gosto do inesperado e de muitos mimos, mas não lido bem com colas, tipo:
- Ah e tal, vou sair com as minhas amigas.
- Ah é? Boa! E vamos onde?
Nunca quis deixar de ser a Ana para passar a ser apenas parte integrante de um casal. Gosto de ter vida própria e adoro que a pessoa com quem estou também tenha uma. Paradoxalmente, preciso de sentir que por mais que não nos vejamos todos os dias, a pessoa queria mesmo era ver-me todos os dias. Que por mais que não possamos estar juntos, a pessoa telefona só para ouvir a minha voz e partilhar banalidades. Que depois de não fazermos um programinha juntos durante duas semanas, me convida para jantar.
Não sou eu que me canso depressa. Eles é que não encontram ponto de equilíbrio. Se calhar também é assim com a tal menina de quem me falavam...

1 comentário:

Ana Catarina disse...

Como sempre, adorei este texto... identifico-me tanto!