sexta-feira, 12 de julho de 2013

Se eu escrevesse palavrões à vontade, este post tinha título.

Gwen Stefani
O fim-de-semana fora agitado. Voltara a divertir-se com aquelas que têm lugar cativo na bancada vip do ventrículo esquerdo, ali mesmo junto ao centro do seu corpo. Tanto divertimento transformou-se numa incontrolável timidez diária, que surgiu durante todos os dias da semana, ao entrar no bar do costume para beber o café ao final do dia. Quem viu o quê, quem ouviu o quê, não sabe. Mas por entre as dores que a natureza feminina lhe trouxe, ainda conseguiu sorrir à custa da vergonha e da falta de memória. O que custou mesmo foi manter-se profissional, que a recuperação de noites mal dormidas demora agora um pouco mais. Por entre os vários azares que se foram somando, como a unha que partiu ou as borbulhas com que a alergia ao calor decidiu marcar presença na sua testa, a paciência que nunca foi abundante foi diminuindo. Até chegar o dia em que na agenda do telemóvel constavam dois eventos a que não queria faltar. Preparara tudo para poder partir na quinta-feira. Tinha a vida toda organizada, tudo estabelecido para poder zarpar rumo à capital. Primeiro, conheceria a novidade da sua marca preferida e depois seguiria para a final de um concurso para o qual contribuiu, votando nos rostos que lhe pareciam mais adequados para representar outra marca. Lá ia ela, feliz da vida. Até que o carro, o bom, que nunca dá problemas, decidiu boicotar a viagem. A assistência não tardou, mas o frete ninguém o fez desaparecer. Nem a pena de não cumprir o plano ou de não faltar aos seus compromissos. Voltou para trás, com a cabeça entre as orelhas e decidiu não pensar mais no assunto. No dia seguinte, depois de mais uma noite de insónias e de sonhos inusitados, foi tratar de outro problema pendente. É que encontrara uns sapatos perfeitos há pouco tempo, os únicos do seu tamanho, ali, sozinhos na loja, a metade do preço. Não poderia recusar tamanha dádiva do Universo. Uma gota de boa sorte entre as marés de pequenos azares! Já queria uns sapatos neste tom de rosa há tanto tempo, que parecia mentira tê-los encontrado assim, principalmente depois da desilusão laranja. Comprou-os e a partir deles construiu um outfit leve, fresco e jovial para testemunhar a união de um casal. Como pessoa precavida que é, decidiu usá-los duas vezes antes do grande dia para evitar eventuais desconfortos e qual não foi o seu espanto quando se deparou com aquele sabor amargo da contrariedade que é verificar que afinal a sorte não fora assim tão sua amiga: uma pequena costura do sapatinho mais que perfeito tinha cedido. Ainda havia tempo e esperança, por isso correu até ao sapateiro da sua confiança para tratar do caso. Depois de muitas confusões, chegou a solução. E à hora marcada do dia em que estariam prontos, ela entrou na loja e ele disse-lhe que se tinha esquecido dos sapatos na Lousã. Com o casamento no dia seguinte e sem sapatos iguais em qualquer outra loja, ela entrou num estado de apatia profunda. Já não quis saber de nada, está-se nas tintas para tudo. Queria repetir a diversão do fim-de-semana anterior, que durante algum tempo fez com que se esquecesse de como é chato ser ela. E a indiferença que lhe roubou a capacidade de reacção não nasceu pela vaidade, pelos sapatos nem por mera birra. Foi cansaço. Porque o acumular de pequenas contrariedades é cansativo. E sim, ela ainda vai receber os sapatos hoje, a tempo da festa. Mas descosidos e sem solução à vista. E não quer outros.

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