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| Brigitte Bardot |
É um facto que me sinto sempre grata por somar mais 365 dias à minha existência. A minha vida não é linear, mas caracteriza-se pelo acumular de altos e baixos, um verdadeiro electrocardiograma experienciado. Oscilo entre a certeza de que tinha que ter nascido e a dúvida de que este é efectivamente o meu lugar. Vim à luz com dificuldade - eu e a minha mãe íamos morrendo - e talvez o forçar da sobrevivência tenha dado lugar a essa sensação de que a Terra não é lugar para mim. Contudo, a intensidade com que atravesso os dias faz-me acreditar que não poderia ter sido de outra maneira. Além disso, tenho sempre muito para agradecer e desta vez, no dia que dá o nome à avenida, não foi diferente. Acabei o curso, integrei a equipa fundadora de um projecto de pessoas que adoro, fui a Luanda. Assim de repente, só grandes momentos me são trazidos à mente. E entre cada um deles, os meus pilares mantiveram-se ali, fortes, estáveis, de braços abertos e ombros prontos para mim.
Há dias, desabafava com uma dessas pessoas que tem morada eterna dentro deste coração que vos escreve. Não me queixava de nada em particular, mas talvez me menosprezasse um pouco. Estava chateada comigo, culpava-me. E ela, depois de me ouvir pacientemente, disse-me apenas que quem tinha os mesmos amigos há tanto tempo não poderia ser má pessoa. Que quem é tão amada não poderia ser assim tão má pessoa. Que quem é procurada como confidente de tanta gente não poderia ser má pessoa como aquela que eu descrevia. Que quem é o apoio de qualquer necessitado não podia ser má pessoa.
E eu calei-me. Ela calou-me. E isso é uma tarefa hercúlea.
Ontem ela não pôde estar comigo pessoalmente, mas acompanhou-me durante cada minuto, porque vivi essa teoria. E senti que estou no lugar certo.
Obrigada.
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