quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Do fundo da gaveta #3

Hoje encontrei um texto sobre muralhas, de 2008:

"Pessoas sofridas, gente calejada.
Feridas, magoadas, viram-se sós num momento em que o chão e o tecto desapareceram e a queda, iminente, as fez preferir um qualquer tipo de inconsciência.
Depois da dor, da perda, da sensação de abandono, do corte na alma lambido, criam muralhas em seu redor. Muros altíssimos, espessos e intransponíveis. O pórtico que dá acesso ao seu Ser, blindado e cheio de trancas. Dizem adeus ao mundo em que julgavam viver.

É errado deixar que as nossas defesas aumentem ao ponto de nos tornarmos quase cépticos relativamente a quase tudo de bom que parta de outros seres como nós, humanos?
Como se por fora, fossemos um eu que esconde o outro, o verdadeiro. Escondido e protegido pelo medo e por nós próprios.
É errado tornarmo-nos, ainda que superficialmente, num tipo de gente bruta, gélida e áspera?
Desses que afastam os outros simplesmente com um olhar, com a ausência de um sorriso?
É errado duvidar da perenidade da felicidade alheia?
Como se todos os habitantes do planeta estivessem destinados ao infortúnio de que já fomos vítimas?

Não há nenhum manual de instruções para as relações interpessoais, mas sei que estas seriam amplamente simplificadas se todos seguíssemos determinados preceitos pelos quais eu própria me tento reger. Ainda que o caminho para a perfeição seja longo e árduo, impossível de percorrer na totalidade neste mundo, sei que se pelo menos todos tentássemos, não haveria a necessidade de construir todas essas muralhas atrás das quais nos tentamos salvaguardar uns dos outros.
Com medo de voltar a sentir aquela dor."

2 comentários:

S disse...

É verdade!
Bj S

Diogo Marques disse...

Errado é, mas muitas vezes é a unica defesa que se tem para não se sofrer. Muitas vezes é instinto, outras vezes é ponderado.
A vida molda-nos e nem sempre da melhor maneira.
Apesar de tudo, temos que manter sempre um espírito aberto porque é no momento que deixamos de confiar nas pessoas que deixamos de existir como seres humanos.


Ainda bem que não há um manual de instruções, pois significaria que somos todos objectos pré estabelecidos, e eu gosto de acreditar que somos todos únicos e especiais...cada um à sua maneira :)

Gostei muito do teu post.