sexta-feira, 19 de outubro de 2012

"da Carência."

Sofia Vergara
Falava com a minha mãe sobre quão desinteressantes e pouco apelativas se tornam as mulheres quando se deixam afundar na espiral de carência que lhes provoca o desesperante medo da solidão, quando constatei que os meus relacionamentos (os que conto como tal), surgiram quando finalmente descontraí. Quando decidi que não queria ninguém. Quando optei por curtir o meu momento a sós comigo. 
Tenho uma amiga que se divorciou recentemente e que não se consegue focar em si mesma, na sua vida, na sua filha. Não consegue delinear objectivos para si, metas, lugares a que só dela dependa chegar. Então vive na correria angustiante de encontrar outro homem, não interessa onde, um que valha a pena, depressa, o quanto antes, para ontem. E é deixada por todos com quem se cruza passado pouco tempo, que já sabemos como é: uma mulher desesperada nunca atrai para si alguém bom. Porque toda a sua postura aponta para a necessidade que a consome e ao seu orgulho. E quando mergulhadas nesse estado, eles topam. Emerge por cada poro, flui de dentro para fora, cheira mal. O resultado é simples: come e caga, puro e duro. 
Ela podia estar a criar uma nova rotina, aproveitar para fazer o que nunca fez, sei lá, pintar, ter aulas de equitação, correr ao final do dia na companhia da filha, reencontrar amigas, ler. Instruir-se, crescer por dentro. E encontrar objectivos cujo alcance dependesse única e exclusivamente dela, como "para o ano quero comprar uma casa" ou "daqui a seis meses vou viajar". 
A frustração aumenta a cada tentativa falhada de prender alguém a si, porque isso, já todos sabemos, nunca depende só de um. Colarmo-nos a um gajo nunca é fixe. Colarmo-nos a qualquer um ainda é pior. E eu gostava mesmo que ela aproveitasse a paz que podemos encontrar quando estamos sós. Só depois de a encontrarmos é possível que um futuro amor floresça saudável.
Até ter o privilégio de namorar com aquele que é agora o meu noivo, os mais tranquilos momentos da minha vida foram sempre vividos quando não estava em relacionamento amoroso nenhum. Não havia problemas de auto-estima ou insegurança, porque ninguém me avaliava. Não havia "hoje não me apetece ir tomar café, queria era ficar aqui a papar séries sozinha no meu quarto, mas ele vai amuar". Não havia nada a não ser eu e a minha vontade para fazer o que me desse na real gana. Se me apetecer ficar a noite toda a experimentar vernizes, o problema é meu. Se me apetecer empaturrar-me de gelado e ver O Diário de Bridget Jones pela 58ª vez, who cares? E se me apetecer estar com o cabelo embalado em prata durante horas, enquanto curto a minha música e o meu banho de espuma, com velas à volta, perfeito. Ninguém para atrapalhar. E não há nada mais livre que isso. 
Sempre que alguém se lamenta, perto de mim, por não ter ninguém com quem partilhar a vida, o meu conselho é invariavelmente o mesmo: "Aproveita agora, porque mais cedo ou mais tarde, há-de aparecer alguém que te dá a volta ao miolo e te faz abdicar do teu tempo contigo mesma".

Daqui. E continuo a pensar da mesma forma.

8 comentários:

Vanessa V. disse...

É engraçado que, depois de ler o teu texto, dei comigo a pensar e aconteceu-me exactamente o mesmo. Os relacionamentos (realmente relacionamentos) que tive, surgiram quando eu menos pensei no assunto, em alturas em que decidi focar-me em mim própria e não nessa procura incessante pelo "tal"! E é quando somos mais felizes, quando decidimos que temos, primeiro que tudo, amar-nos e apaixonarmo-nos por nós próprios!

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Guinhas disse...

Não podia concordar mais contigo!Vou ser sincera e pode até parecer maldade mas irrita me esse tipo de pessoas que parece que vivem no desespero por um homem.Eu falo mas já sofri imenso por amor MAS fui incapaz de andar "desesperada". "Curei" as minhas feridas e sempre achei que eu seria a minha melhor conselheira e, acima de tudo, estar bem comigo mesma. Acho que não há ninguém que me possa dar mais estabilidade do que eu a mim mesma.

Magda Soares disse...

Gostei muito do texto e não podia concordar mais, quem vive assim é porque não gosta de si o suficiente para viver consigo mesma e, nesse caso, mais ninguém irá gostar ;)

That Girl disse...

Concordo plenamente com as tuas palavras! Também eu tenho uma amiga que busca incessantemente um homem ao lado dela e essa busca traduz nas mais desastrosas relações e sempre por parte quem usa e abusa e deixa quando se cansa... Já lhe disse que quando parar de procurar e querer a toda a força alguém pelo medo que tem de ficar sozinha que encontra alguém especial.

Eu nunca procurei muito e ainda assim quando decidi dedicar-me apenas a mim encontrei :)

S disse...

É verdade!!! Acho que são mesmo os relacionamentos que nos fazem cabelos brancos :)
Bj S

Tamborim Zim disse...

Dissesteis tudo Lamparina! Cuidar do nosso jardim, como diria Voltaire.

Fiona disse...

Não poderia concordar mais contigo... Os relacionamentos (aqueles que achamos que merecem ser chamados assim) surgem sempre quando estamos de bem connosco, nunca nos momentos em que estamos mais down. Aliás, raros são os relacionamentos que perduram no tempo e que tiveram o seu início em tempos mais conturbados de uma ou de outra pessoa.

Adorei o post :)

Beadelicious disse...

Gostei muito do texto e concordo plenamente. Por experiência própria ou por pessoas que se encontram perto de mim, cheguei à conclusão que para estarmos bem com os outros, temos de estar bem connosco próprios. Sem estarmos confortáveis sozinhos primeiro, como poderemos estar bem ao lado de outra pessoa. A ideia de procurar outra pessoa para curar as feridas anteriores nunca é positiva.
Pela minha experiência própria, talvez possa soar a egoísmo, mas de momento estou sozinha, e estou bem. Faço a minha vida, não espero nada de ninguém. Estou na paz. Claro que não quero ficar sozinha, mas a seu tempo, há-de aparecer alguém que me faça mudar de ideias. Até lá estou bem.
Tenho amigas que por estarem sozinhas há uns meses, andam a descabelar-se. E olham para mim como se fosse uma extraterreste. A questão é que que antes também me descabelei muito, até ter percebido que primeiro tinha de aprender a estar bem comigo própria. Aprendi a valorizar a minha paz e bem estar interior. Acho que se deve começar por aí! ;) kiss**