Culpa de ser eu

Margherita Missoni

Sempre fui assim. Com as coisas boas que me acontecem, não fico apenas grata. Não consigo simplesmente agradecer cada bênção e usufruir dela. Desde pequena que uma certa culpa me persegue. Não sei se culpa será o termo mais adequado, mas é um misto desse peso com um remorso que não me deixa aproveitar cada motivo que a Vida me dá para ser feliz. Como se houvesse sempre uma sombra de vergonha por me sentir mimada ou privilegiada. Foi assim quando recebi a minha primeira bicicleta. Era e é assim todos os Natais. É assim quando o João me oferece um presente inesperado. Cada surpresa que me fazem resulta num mar de lágrimas e não se trata apenas de comoção. Sempre que sinto que se lembraram de mim, que pensaram em agradar-me, sou invadida por essa angústia profunda. Como se não merecesse tanto carinho, como se não fosse digna de receber tantas coisas boas, porque há quem não tenha e eu não sinto que seja justo ser privilegiada.