quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A Moda é contada por décadas.

Dei por mim de lágrimas nos olhos. Não conseguia descolar o olhar daquela fotografia. A mescla de tons entre o branco e o preto colorindo as formas, a fusão da modelo com o cenário, do vestido que a envolvia com a rocha em que sentada, posava, comoveram-me. O nó na garganta acompanhou o humedecer dos olhos estáticos, incapazes de se desviar daquela imagem. Não quis saber das marcas, não era disso que se tratava. O belo tem um poder incrivelmente poderoso. Depois, sorri. Senti-me cómica por me comover com uma imagem de um editorial de Moda. 
É um amor muito sério, este que nos une. 
Em pequenina, vivia sôfrega pelas revistas da minha mãe, pelas roupas da minha mãe, pelos sapatos da minha mãe. Quis então ser modelo e para ir afinando o jeito, recrutava as amigas para me fotografarem nas mais variadas poses, com toda a criatividade que a idade me permitia. Escolhia os outfits, era a minha própria hairstylist e uma verdadeira make up artist. Depois de anos a treinar o meu andar de passerelle pelo corredor lá de casa e de fazer diariamente a rubrica Hoje a Moda é esta em frente ao espelho do quarto de banho antes de ir para a escola, qual Sofia Aparício no seu 86-60-86, reparei que não era magricela. Abandonei o sonho de vir a ser top model para abraçar um outro: ser fashion designer. Estilista, portanto. Observava atentamente as colecções dos meus ídolos e desenhava, rabiscava, cheia de ideias... até ao dia em que o meu pai me informou de que para desenhar, teria de saber fazer. Na altura, não queria aprender a costurar, pelo que abandonei também esta abordagem à indústria que tanto me fascina. 

Com a escrita sempre presente, não foi difícil perceber que poderia vir a unir os dois amores, juntando o útil ao agradável. Ainda não sei como o farei, mas espero consegui-lo. Acredito que só quem ama e respeita profundamente aquilo a que se dedica pode ser bom naquilo que faz. E esta minha paixão não morre. E o respeito que tenho pela Moda faz-me logo franzir o sobrolho quando ouço miúdas dizerem que "adoram moda" ou quando me dizem que eu "só gosto de moda", porque regra geral, quem o afirma não tem a mesma visão que eu. 
É que para mim, Moda não é apenas um chorrilho de invenções inusitadas que depressa se tornam mainstream. Nem se trata apenas de uma indústria que move vários Euromilhões e que emprega mais gente que o nosso Estado. Moda inclui arte, trabalho, sonho. É o reflexo do que somos enquanto sociedade, o espelho da nossa evolução, o mote para o sonho. 
Emocionar-me quando toquei pela primeira vez num par de Louboutin não é apenas fruto de um gosto incutido pelas séries girly com que somos bombardeadas, mas sim resultado do conhecimento sobre a peça em si. Saber que aquele sapato demorou determinado número de horas até estar completamente executado torna-o numa relíquia e é tudo o que está por detrás dele que mexe comigo - desde o primeiro esboço ao produto final. O mesmo acontecerá quando vestir pela primeira vez um Elie Saab ou um Oscar de la Renta. É o luxo da exclusividade, de tocar numa peça com alma, tal como quando toquei, à revelia da professora que nos acompanhava numa visita de estudo, no original de Almada Negreiros em que figura Fernando Pessoa, sentado a uma mesa. "Só com alguma profundidade conseguimos ter os sentimentos à flor da pele, prontos para apreciar as pequenas coisas, as mais pequenas coisas. Caras ou baratas, não é de dinheiro que se fala aqui. Valorizar a beleza exige sensibilidade."

Parabéns, Vogue. Dez anos em Portugal é um marco histórico. E fizeste história em mim também. Todos os meses e em especial em cada edição de Setembro... e aqui.

1 comentário:

Imperatriz Sissi disse...

Está tão bonito! Concordo com cada palavra. Há dias, num blog interessante, creio que foi este(http://www.joanabarrios.com/?p=604)falava-se no fenómeno da moda se ter tornado demasiado mainstream. Já temos conversado sobre isso...e esta coisa de "a moda estar na moda" assusta-me, ainda mais do que a ignorância de há uns anos atrás, quando a moda era só para os "fashionistas" de carteirinha que realmente percebiam do assunto. Antigamente, só quem não gostava perpetuava o estereótipo " a moda é fútil" agora são as pessoas que dizem gostar de moda mas não têm o mínimo de referências que cultivam a ideia da moda materialista, superficial, irritantezinha. Moda é arte, sensibilidade, expressão, savoir faire. Mas acredito que haja uma selecção natural daqui a algum tempo e que o "féxion" morra de vez.