quinta-feira, 3 de maio de 2012

Tudo o que não volta.

Sophie Vlaming
Tinha que ser à janela, com a vista para a ponte sobre o Tejo e para o Cristo Rei. Esperava que o comboio passasse. Depois lá comia mais uma garfada - uma para o pai, uma para a mãe, uma para o avô, uma para o tio... era tão pequenina, meu Deus. E lembro-me de tudo como se ainda ontem tivesse estado ali, naquele sexto andar, ao colo da minha tia Babá. Se fechar os olhos, ainda ouço o som de fundo. As vozes, os risos, as conversas. A voz da minha mãe que chamava outra tia minha, a música, o meu tio a controlar o que íamos ouvindo. O meu avô sentado à cabeceira da mesa, à conversa com o meu pai. Eles eram tão mais novos. E era tudo tão mais simples. Acho que se passaram duas décadas sem que tivesse dado por ela. Houve tantos momentos lentos e tudo me parece ter sido há instantes. Tenho saudades de adormecer segura, sem incertezas nem medos. Os dias eram só dias. A família era família. E eu era apenas eu.

1 comentário:

Imperatriz Sissi disse...

Crescer é doloroso. E estes momentos de nostalgia pungente são o que mais custa. Mas temos de pensar nas surpresas boas e espectaculares que nos espreitam. Ainda somos todos uns garotos ;)