quinta-feira, 19 de abril de 2012

de tudo o que é antes. - Sétimo e último.

Penélope Cruz
Antes de tudo, o medo de não ser correspondida, de se ter enganado, de não ter interpretado bem, de ter dado barraca, de ter sido demasiado oferecida, de ter soado a desespero. E se as subtilezas não foram subtis? E se abusou? E se foi intrometida? E se fez figura de otária?
Revê todos os momentos, passa-os a pente fino e tudo lhe parece ridículo. A análise é exagerada, que o rigor não existe quando não há imparcialidade.
A angústia vai crescendo à medida que as dúvidas se propagam dentro daquela cabecinha, antes cheia de certezas. Uma insegurança medonha, uma sensação de que não pode resolver nada. Não pode esclarecer nada porque não disse nada. O pior do jogo é o momento em que deixamos de ser mão e nos tornamos peça.
Queria pedir-lhe que não fugisse, que ficasse, que se deixasse ficar ao seu lado. Não pode pedir nada. Não pode fazer nada.
Se ao menos pudesse parar de pensar, de sonhar acordada...
Fica no seu canto, quieta. Chora apenas pelo medo de perder mais momentos em que o seu olhar se cruzasse com o dele. Não quer deixar de se perder naqueles olhos profundos, negros, tristes. Não quer deixar de sentir o que sente, abandonar um livro na primeira linha é de uma fraqueza que abomina. Como será possível que dê tanta importância a alguém que mal conhece?
Promete não fazer nada, não forçar nada, não dizer nada.
Não consegue deixar de pensar no que se passa do outro lado. O que terá feito de errado? Tudo, provavelmente.
Porque raio haveria de ser especial?


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