segunda-feira, 30 de abril de 2012

de como me afectam as coisas miúdas.

Olivia Palermo
Já vos contei do meu mau feitio. Da minha facilidade em sentir-me melindrada. Do exagero na análise. Da profundidade com que dedilho as relações, do cuidado extremo que tenho com os outros, do amor que não consigo deixar de aplicar a tudo o que faço. Sou assim. Sou demasiado responsável, demasiado dedicada e demasiado educada. Tenho regras e lugares para tudo. Sou emotiva. Sou pessoa e não gente. Cá dentro, tudo arrumado. Sei o que deve ser feito. Sigo o meu instinto, acredito na minha intuição. Sou complexa na minha simplicidade, aprecio a humildade mas sou altiva. E não suporto sentir que não me respeitam.
Tudo o que levo a sério é impregnado de empenho. Dou o meu tempo, a minha paciência, a minha diplomacia, a minha compreensão, a minha disponibilidade. Dou. Entrego-me. Porque não me sentiria bem sendo desleixada, fazendo com que outros sentissem que falhei. Não o faço para receber elogios. Faço-o porque não sei ser de outra maneira. Sabem, também sou assim na minha família. Sou assim com os meus amigos. Sou assim com a minha irmã. Sou assim com o meu namorado. Sou assim. Estou sempre lá quando precisam de mim. Não sei ser de outra maneira, já disse.
Nunca senti que a minha dedicação fosse em vão porque com ou sem palavras, com muito ou pouco dinheiro em troca, sempre senti reconhecimento. Sinto-o quando contam comigo, quando me atribuem mais responsabilidades, quando me pedem ajuda e acima de tudo, quando me respeitam.
Apesar da gargalhada fácil, sou muitíssimo séria. Apesar do ar distante, envolvo-me com as pessoas com quem convivo. Aprendo delas, a gostar delas. E às vezes é por elas que não desisto. Porque não as quero deixar penduradas. Este fim-de-semana foi por elas que decidi ter calma. Dei por mim com a certeza de que talvez devesse deixar um dos meus mil ofícios nas mãos de outra pessoa. Talvez devesse abandonar o barco. Não preciso daquilo. Não é trabalho. Não sou mulher de desistir de nada, mas pela primeira vez na vida - algum dia teria de o sentir na pele - tive a sensação de que não me respeitaram. Já disse que não lido bem com isso? Estou habituada a que tenham medo de mim. Não gosto muito, mas dá jeito. Normalmente, não ousam brincar comigo. A verdade é que a minha diplomacia não chegou. Não sei disfarçar. Não consegui usar aquele cinismo fácil. Também não consegui cagar no assunto. Fui demasiado transparente. Sou. E depois da raiva, de não acreditar em tal atrevimento, ficou a ansiedade. Depois a raiva, outra vez. Depois vieram as lágrimas, que os fortes também choram quando chegam a casa depois de uma noite em que deveriam ter ficado na cama. Acho que tenho muito mais com que me preocupar do que em colocar boa vontade num trabalho ignorado por quem devia valorizá-lo. Por outro lado, acho que sou maior que isso. Como não sei o que fazer, acho que devo optar pelo meio termo: trabalhar à distância.
Nunca saberei explicar porque me afectam tanto as coisas miúdas. Talvez seja mais solicitada como pacificadora que como protagonista de dramas e por isso não tenha ainda jogo de cintura para tolerar o facto de ser também a causadora de algum mau ambiente.
E depois de um dia daqueles em que dormimos pouco, mal e ainda acordamos a chorar, em que o cansaço não nos dá descanso, em que não percebemos nada do que andamos a fazer, em que só apetece ficar a dormir durante alguns dias, em que não queremos ver ninguém... houve o flashmob da Mana Lamparina. Houve o café com a bff. Houve o jantar surpresa, com a minha pizza preferida, Coca-Cola e Häagen Dazs, trazido pelo namorado.
"Amanhã trato disto."

1 comentário:

Beadelicious disse...

Identifico-me muito com este post lamparina... As defesas criadas para não admitir as fragilidades, que no fundo estão sempre lá e que vêm ao de cima quando mais queriamos ser fortes. Dar importância a pequenas coisas ou palavras que parecem ferir mais profundamente do que a qualquer outra pessoa.
Mas um dia não são dias, e esses miminhos são sempre bons para levantar o astral! beijinho ;)