segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Sou só irmã...

Dakota and Elle Fanning
Lembro-me muitíssimo bem de como foi ter a idade dela. Tinha crises de choro terríveis e tudo era um drama: as horas impostas para a chegada a casa ou o facto de ver as minhas amigas fazerem uso de uma liberdade que eu não tinha.
Sei que isto pode parecer antiquado, que hoje as coisas já não são bem assim, que a "geração morangos" ou "geração polegar" se aventura nas saídas nocturnas logo desde os doze anos, mas cá em casa as coisas não são assim. O lema sempre foi "máxima liberdade, máxima responsabilidade" e aos quinze anos, ainda que não o percebesse, não era dotada da responsabilidade que me caracteriza uma década depois. Não percebia qual era o problema de ir tomar café até às duas da manhã e depois ir dançar a qualquer lado. Eu só queria fazer o que algumas das minhas amigas faziam: sair sem que se preocupassem comigo, desenrascar-me com uma boleia às horas que me apetecesse abandonar a farra.
Os meus pais tiveram uma pachorra do caraças para mim. Eu cá diria apenas que não e encerrava o caso. Eles não.
Muitos pais deixam os filhos à porta da discoteca e ficam no carro à espera que os meninos se divirtam, para depois os levar a casa. Eles não.
Outros pais levam-nos, voltam para casa, dormem um bocado e regressam para os ir buscar depois de receberem o telefonema. Eles não.
Eles revezavam-se. Houve noites em que a minha mãe saiu comigo, outras em que quem me acompanhava era o meu pai. Estavam connosco e com amigos deles.
Não saí sempre que quis, não saí todas as semanas ou todas as quinzenas. Devo ter saído pela primeira vez aos dezasseis.
A minha Mana Lamparina está nesta idade tão ingrata em que queremos mais do que podemos, em que somos crescidos e crianças. E por mais madura que seja, só sente aquilo que a idade lhe permite sentir.
Quando tinha quinze anos, era assim também. O bom era óptimo e o mau era péssimo, não havia meio termo. A mais pequena contrariedade tornava-se numa tragédia grega. E eu gostava mesmo de lhe explicar que nem tudo é tão grave, que há coisas que não são assim tão importantes, que aquilo que seria mesmo cool era que ela aproveitasse a idade que tem para fazer tudo o que não poderá fazer quando se tornar adulta e puder sair quando bem lhe aprouver. Sei lá, andar de bicicleta durante uma tarde inteira, viver os primeiros amores, rir à toa, deitar-se na relva sem medo de se sujar, saltar no meio da rua porque sim. Gostava que ela percebesse que nessa idade chata, em que todos nos controlam, é que somos realmente livres. Gostava que ela sentisse mais que aquela frustração de leão enjaulado.
Sabem, ela não é tão chata como eu era. Além de muito mais bonita por fora, é mesmo especial por dentro. É mais independente do que alguma vez serei. Tem um carácter de que me orgulho, uma veemente convicção que me surpreende, uma dureza de opinião assustadora. E é doce, muito doce. A vida que não escolheu fez com que escondesse o mel que guarda dentro do coração. São pouquíssimos os privilegiados que podem provar o seu sabor. Sou grata por ser uma dessas pessoas. E queria mesmo era poder adoçar-lhe a angústia. Mas sou só irmã... não tenho mais que o ombro e o abraço para dar, a mão para a guiar quando quiser vir.
Sei que para muitos, isto não é mais que "uma treta", que estou a dar "demasiada importância" a uma "birra de miúda", mas custa-me mesmo. E custa-me porque me lembro de como foi. E do desperdício que era. Pelo menos eu acreditava que estava tudo bem. A Mana Lamparina não pode. Porque não está tudo bem.

9 comentários:

PunkRockPrincess disse...

wow. Gostei imenso do texto. Parabéns :) E realmente acho que tens razão em tudo o que escreves.

Ervilha Coscuvilha disse...

Gostei muito! É totalmente diferente, quando já passamos por tudo e conseguimos perceber o que sentimos naqueles dias que parecem um inferno. Mas os sentimentos não mudam assim muito de uma geração para a outra, ainda mais quando vocês partilham do mesmo tipo de educação. Tens que a deixar crescer, tal e qual como cresceste, para ela um dia conseguir perceber todo o percurso que fez até hoje.. Percebo que te custe, mas está tudo bem, elas está a crescer :)

Girlfashioneye disse...

Tenho 17 anos, e não tenho razão de queixa porque os meus pais sempre que saio vão-me buscar e pôr porque têm medo que me aconteça alguma coisa, caso venha com algum amigo ou amiga. No entanto, ainda não venho às horas que quero para casa, venho 3/4 e geralmente nunca passa para além disso. Mas tento encarar isto, como uma forma que eles têm de me proteger, apesar de notar que para mim foi um pouco mais difícil conquistar "horas" fora de casa, a minha irmã vai fazer 14 anos, e tudo bem que é na casa de amigos, mas já fica até às duas se for preciso.
E na minha opinião é preciso é ter calma, porque a responsabilidade e a credibilidade que os pais nos dão, vai-se conquistando. Nunca fui de chegar bebeda a casa nem nada disso, também não vou dizer que não bebo, mas se abusei foram umas 4/5 vezes e já saio desde os 13 anos (sempre com horas, óbvio), mas ainda no outro dia, o meu pai me disse que para ele era como se já tivesse 18 anos porque já me vê como alguém responsável e acho que isso é muito importante. Portanto a tua mana que se acalme.

PS: Com os meus pais funciona se eu ajudar a mana a convencê-los, tenta também com os teus :)

RougeDessin disse...

A minha irmã sentiu exactamente a mesma coisa em relação a mim, só que quando chegou á minha vez de começar a querer sair... os meus pais foram muito mais benevolentes!

Lady Lamp disse...

Ainda bem que gostaste, PunkRockPrincess... :)*

É mesmo isso, Ervilha Coscuvilha. Os sentimentos não mudam muito de uma geração para a outra - somos só pessoas. E não há nada melhor que o tempo para que ela chegue até onde estou e veja tudo através de outra lente! :) Sei isso tudo, mas sabes do que gostava mesmo? Que ela se estivesse nas tintas para estas coisas... :D É que como mana (muito) mais velha, confesso que também me custa assim um bocadinho vê-la a querer sair do ninho... eheheheh :*

Girlfashioneye, os meus pais sempre confiaram imenso em mim e sei que confiam na Mana Lamparina também. Somos miúdas atinadas, responsáveis, certinhas. O problema, para os meus pais, são os outros, tal como me parece ser também o dos teus (por isso te vão buscar, certo?).
Claro que como irmã mais nova, ela tem muito mais abébias do que eu tive, mas sabes como é... queremos sempre mais!
E sim, de quando em vez, eu dou uma ajuda a convencer os papás... :D :*

Lol RougeDessin, exactamente de acordo com o que escrevi acima. De facto, os irmãos mais novos têm mais sorte nessas coisas que os mais velhos. Porque será? :D :*

Beijinhos*

Maria disse...

Baby, eu sinto que fui uma privilegiada... Não sei se foi de crescer num meio pequeno ou de ter irmãos mais velhos que abriram o caminho para mim mas sempre tive muita liberdade. Não havia grandes imposições de horário (mas a minha mãe não gostava quando eu chegava de manhã) nem nunca houve grandes proibições... No entanto, eu sempre fui uma menina responsável e acho que isso contou muito :)

Hoje vejo adolescentes à noite e confesso que me assusta um pouco! vivem aquelas horas como se não houvesse amanhã. o problema é que a maior parte das vezes vivem-na da maneira errada. Quando pensam que estão a 'curtir' ou a aproveitar a noite, eu acho que eles estão a desperdiçar...

bjinho**

Lady Lamp disse...

Maria, eu acho mesmo que os mais novos têm sempre mais liberdade que os filhos mais velhos!
E sim, também me chocam imenso os comportamentos dos putos na noite, é como dizes... um desperdício!
Beijinho*

Girlfashioneye disse...

É mesmo, porque têm medo de pessoas alcoolizadas e afins... E concordo absolutamente, os filhos mais novos têm mais liberdade graças aos irmãos mais velhos que vão "abrindo passagem" para os mais novos.

Lady Lamp disse...

Lá está... :D Beijinho, querida*