quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Hoje é o dia.

Amanda Seyfried
Ficou prometido algures por aqui que um dia escreveria um post sobre o ódio.

Tenho um pecado. Odeio.
Odiar é muito forte, mas eu não sei como evitar, ainda que consciente da dor que esse sentimento encarnado me provoca - só a mim. De que serve odiar quem não deixa de existir por isso? Mas odeio. Odeio de dentro para fora. Odeio com tão profunda intensidade que suspeito que se pudesse exteriorizá-lo, vomitaria lava. Não lhe desejo a morte nem mal algum, só desejo que desapareça. Que seja feliz longe do meu olhar. No Japão.
Sabem, quando interferem naquele que era o núcleo da minha suposta felicidade, torno-me numa monstruosa e irreconhecível criatura. Esqueço toda a educação, toda a delicadeza e todo o amor nos gestos. Quero assustar, agarrar pelos cabelos e atirar aquele corpo mais pequeno que o meu por uma escadaria abaixo. Quero magoar, ferir, cortar. Quero partir, rasgar, morder. Talvez seja do signo. Talvez ser Leão me torne no mais doce e agressivo dos seres. Talvez por isso julgue que um rugido é suficiente. Talvez por isso proteja os meus num alerta mais que atento. E talvez por isso sofra tanto quando a minha altivez não chega para que tudo corra como pretendo.

Tenho um pecado. Odeio.
Mesmo sabendo que sou maior que o objecto do meu ódio.
Sabem, há quem não se veja como é e por isso não se ponha no seu lugar. Para mim é simples: senhoras em salões de chá e meretrizes em bordéis. A verdade é que não posso continuar a permitir que o ódio me corrompa o ser. E para isso, terei de o lançar cá para fora. Projecto-o para me libertar a mim, porque quando tiramos um peso do nosso coração, colocamo-lo no de quem nos tentou roubar a paz. E não perdemos o nosso lugar na mesa requintada, onde há chá e scones. E elas ficam no lugar de onde nunca deveriam ter saído.

Sou uma querida. Amo com facilidade. Entrego-me sem reservas. Tento ser a melhor pessoa possível, para os meus e para os que ainda não me fazem falta. Dou sem pedir nada em troca. Não quero saber do que emprestei, dos prejuízos que sofra ou do tempo que perco. A minha mão esquerda não vê o que dá a direita. Ainda que o meu quarto esteja gelado e escuro, tenho sempre um abraço para aquecer quem precisa e um sorriso para iluminar com esperança quem se sente perdido. Fico bem se fizer bem, se optar pelo correcto, se os meus passos forem firmes. Gosto de divertir, de proporcionar bons momentos, de saber que depois de um café, aquela amiga não vai chorar mais. Que depois daquela conversa, o mundo lhe vai parecer espaçoso. Que a perspectiva mudou. Dar é uma bênção e a minha máxima diz "Tudo o que faço é marcado pelo desejo de ser útil aos outros", by Rómulo de Carvalho ou António Gedeão. Quero chegar ao final dos meus dias com a certeza de que cumpri esta premissa. De que fui útil. Espero que seja esse o meu legado. Não sou intrometida. Não quero saber antes que me contem. Não roubo espaço nem invado privacidade. Limito-me a estar sempre à mão. Tenho facilidade em perdoar e vejo sempre o lado bom das pessoas. Consigo colocar-me no seu lugar e entender, relevar, relativizando. Depois de falado, o assunto fica arrumado. Mas tenho um pecado... e não estou a falar daquele lado distante que a insegurança traz ao de cima, fazendo com que os outros me julguem arrogante ou snob.
Tenho um pecado. Odeio.

4 comentários:

Mariana Costa Veludo disse...

Ai menina Lamparina mais uma vez concordo com todos os pontinhos. Muitas vezes te leio e penso "bolas é mesmo aquilo que eu acho, que sinto " e este é daqueles em q pensei isso enquanto lia.
Facilmente gosto, até, dedico e entrego-me, mas tenho o pecado do ódio ! Sim, tenho um bocadinho.

*

Tamborim Zim disse...

Fabuloso Lamparina, qta luz mesmo vinda dessa densa treva q é o ódio. Ou, neste caso, do relato do cujo;)
Várias vezes me recriminaram por eu dizer "odeio", várias vezes me disseram q eu odeio de mais. Na verdade, talvez ande a odiar menos coisas, mas tb n deixo de selecionar e de odiar a m p l a m e n t e o q me mereça esse sentimento. Odeio a mentira, por ex., a falta de valores, a covardia, a deselegância, bah! Cm evitá-lo? Devemos é amar muito, e amar mais do q odiamos, amar o q é amorável.
E q maravilhosa coincidência zodiacal Lamparina...tb eu sou leão!
Beijinhos guerreiros, mas sabemos q queremos a nossa Paz e a dos nossos.

Imperatriz Sissi disse...

Querida,este texto diz palavra por palavra tudo o que sinto. Sim, tal como tu e a Tamborim também digo sem pudores, que odeio e odeio mesmo!"Sabem, há quem não se veja como é e por isso não se ponha no seu lugar. Para mim é simples: senhoras em salões de chá e meretrizes em bordéis." Perfeito! Importas-te que te cite num " Lamparina dixit"?

Lady Lamp disse...

Desde miúdas que ouvimos falar do amor, somos ensinadas a espelhar e transmitir os bons sentimentos, mas ninguém nos ensina a lidar com o lado lunar que todos temos. Acho que nos deviam ter dito que é normal. Que ainda que não devamos ceder-lhe, por vezes é necessário assumi-lo e libertá-lo, como uma drenagem.
Então temos um pecado, mariana. Odiamos. :)
Beijinho*

Ainda bem que há luz no meio da escuridão toda, Tamborim. Não queria nada ter publicado negritude pura. :)
Com intenção e significado, digo que odeio poucas vezes. É preciso muito para odiar. Espero um dia poder atingir aquilo que me parece o auge da paz: amar o que qualquer um odiaria. Porque amar o que é, como dizes, "amável", é apanágio de toda a gente. Até o pior dos criminosos ama assim. Eu quero um dia não sentir ódio. Porque magoa-me e corrói-me a mim. O objecto do ódio continua a viver a sua vidinha - mesmo depois de eu lhe mandar com toda a treva para a cara. lol
Beijinhos, Leoa! :D :)*

Claro que não me importo, Imperatriz. :) Beijinho*