sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal!

Acordava excitada. No calendário cujas janelinhas tinha começado a abrir no início de Dezembro, havia apenas dois chocolates. O Natal tinha chegado e também o cheirinho a festa lá em casa o denunciava. A mãe e a avó já estavam na cozinha, embrenhadas nos preparativos. Enquanto elas faziam as rabanadas, o pai preparava os sonhos. A ansiedade não fazia com que o dia passasse mais depressa. Ajudava a mãe a pôr a mesa nos tons da árvore de Natal daquele ano e, como já vos contei, ia segurando o choro que aquelas músicas deprimentes provocavam. A certa altura, a minha mãe dizia-me para me ir arranjar, punha-me rolos no cabelo e escolhia a minha roupinha. Sentia-me linda. Depois, tentava enfeitar a Duquesa, sem sucesso. Era um instante enquanto ela destruía as fitinhas cor-de-rosa com que fizera laços ao seu pescoço, para se ir deitar em frente à lareira. Tinha que estar sempre a controlá-la, que por tanto gostar do calor, tentava esgueirar-se lá para dentro. Tanto ela como a minha cadela recebiam também o seu presentinho.
Ao longo do dia, telefonemas e visitas, presentes que se iam amontoando e reflectindo as luzes das gambiarras.
Onde vivia, um acontecimento curioso fomentava a minha impaciência: é que de meia em meia-hora, era lançado um foguete. Além disso, os primeiros eram lançados de localidades menos próximas, para depois se irem aproximando. Às onze e meia, os foguetes eram lançados de muito perto de minha casa. O Pai Natal estava a chegar e eu devia ficar mesmo insuportável.
Depois da ceia, inevitavelmente, a vó Engrácia levava-me para o quarto. Diziam-me que o Pai Natal era muito tímido e que eu não o poderia ver. "- Pai, diz-lhe que eu não lhe faço nada de especial, que só lhe quero dar um beijinho e que não demora nada!". Ansiosa, abraçada à vó, ficava em pulgas para saber se finalmente iria conhecer pessoalmente o homem fofinho que lia as cartas que lhe escrevia, ano após ano, e que terminavam sempre da mesma forma: "Pai Natal, se não me puderes dar nada, não faz mal. Pelo menos tenta dar qualquer coisa aos meninos que não têm pais e aos que estão em Angola. Espero que este ano tenhas tempo para estar um bocadinho lá em casa! Olha que a minha mãe cozinha bem e podes beber um whisky com o meu pai, que é veterinário e pode vacinar-te as renas!".
Hoje sei que era o avô António ou o meu pai que iam para o sótão simular o barulho dos passos do Pai Natal. Os meus olhos humedeciam com toda aquela emoção. Adrenalina. Silêncio total. Depois, a voz da minha mãe antes de abrir a porta do quarto: "-Nitinha, podes vir!". Antes das prendas, queria era saber como tinha corrido a conversa com o Pai Natal. Nem chegava a ficar triste por perder a oportunidade de falar com ele, porque os embrulhos debaixo da árvore eram mais interessantes que outra tampa.
Ele sabia sempre o que eu queria, era fantástico. Como poderia existir alguém que duvidasse da sua existência? Devia ter sete ou oito anos quando decidi ir a correr para a varanda para o ver. E vi. Quis tanto ver, que vi. No céu, no trenó, com as renas e o tilintar dos sininhos. Era ele, a ir-se embora. E lembro-me desse momento como se de uma visão real se tratasse. Quando descobri todas as minhas cartas, de todos os anos, numa gaveta do meu pai, mais que triste e desiludida, fiquei revoltada e confusa. Eu colocava-as no correio, enviava-as para o Pólo Norte. Só mais tarde descobri que o facto de os meus pais conhecerem toda a gente que trabalhava nos Correios fez com que andasse a gastar dinheiro em selos à toa. Elas guardavam as cartas e os meus pais iam lá buscá-las.
Vivi toda a fantasia de Natal intensamente. Já de pantufas calçadas, entretinha-me com os brinquedos recebidos, as Barbies e as suas roupas, os sapatinhos, as mobílias novas para as suas casas, os automóveis e os closets convertíveis em quartos. Esquecia-me do presépio, montado com musgo real, para experimentar os novos jogos para a consola. E já cansada, ia para a cama e mesmo sem a tradicional educação religiosa, agradecia a Deus e ao Pai Natal por tudo o que tinha vivido na presença da minha família e dava os parabéns a Jesus pelo seu aniversário. Adormecia sempre com a imagem do Céu em festa... Dia 25, acordava com a sensação de que devia estar entusiasmada com alguma coisa... até que me lembrava que na véspera tinha sido a minha noite preferida do ano.
Mais tarde, comecei a viver a magia do Natal através da Mana Lamparina. Agora, também ela está demasiado crescida para acreditar no Pai Natal. Faltam as crianças para que volte a amar cada detalhe natalício, para sentir prazer ao fazer a árvore e para que a tal magia de que tanto se fala volte a inundar a minha casa e o meu coração.
Parabéns, Jesus.
Feliz Natal a todos!

7 comentários:

teardrop disse...

Desejo-te um Natal muito feliz na companhia daqueles que te são mais queridos!
Beijinhos

teardrop disse...

Desejo-te um Natal muito feliz na companhia daqueles que te são mais queridos!
Beijinhos

Fiona disse...

Um bom Natal para ti, lamparina. Tudo de bom :)

Juca disse...

que experiência maravilhosa :))

Margarida disse...

Feliz Natal querida:)

Mary disse...

Adorei este post, é o reflexo puro e duro de um Natal verdadeiramente feliz. Lido na manhã de dia 25, enrolada numa manta quentinha e com o riso das crianças em pano de fundo, não podia ter sabido melhor.

Um Natal muito, muito feliz para toda a família :-*

Lady Lamp disse...

Muito obrigada, teardrop, Fiona, Sofia, Margarida e Mary! :)

Joaninha, era mesmo um dia mágico.

Mary, tive Natais mesmo perfeitos... essas memórias são tão especiais que ainda hoje servem de abraço em Natais como este último, tão difícil.

Espero que tenham tido um Natal maravilhoso, todas e cada uma.

Beijinhos*