terça-feira, 27 de setembro de 2011

Talvez a raiva seja mais fácil.

Gisele Bündchen
Sozinha e acompanhada só deste silêncio ensurdecedor e tranquilizante. Há quem tome ansiolíticos, há quem beba uns copos, quem dê um bafo, quem ouça música e chore. Eu escrevo. Mesmo que nada tenha para contar, para dizer. Mesmo que não seja útil para quem lê, mesmo que ninguém leia. Escrevo toda a minha vida, mesmo que as palavras não estejam lá. Inscrevo-a em mim, quando deito letras para qualquer lado. Às vezes deve parecer que não digo nada, mas nas entrelinhas, nos espaços ou em lado nenhum, naqueles sítios que a vista não alcança, está aquilo que me vai na alma, que os olhos não escondem mas que a boca cala. É tanto, tem sido tanto. Fecho os olhos e respiro fundo, vejo-vos ir e vir, nesse frenesim ridículo de quem não sabe onde quer chegar. Tudo passa a correr, à minha volta é tudo brusco. É um instante. Abro os olhos e parece tudo igual, mas eu sei, eu sei, eu sei que não. Que está tudo mudado, tudo muda menos eu. Altera-se o contexto e eu sou sempre a mesma. E eu até tinha tantas coisas para dizer, tanto para contar. É como se a voz ficasse presa algures num pensamento que se perdeu por aí. São muitas fatias de um pedaço só.
A cada grande queda, surge um pequeno doce. Como se a Vida temesse a minha insanidade. Como se a Vida soubesse que a carga é pesada para levar sem um estímulo aqui e ali. A um grande corte cá dentro segue-se sempre uma pequena vitória cá fora. E é nessa dança que vejo o equilíbrio da existência, da minha existência. Sempre achei que não era suposto ter nascido. Acho que o meu lugar aqui não é como os lugares que as outras pessoas ocupam. Talvez me julgue demasiado especial e seja só mais uma alma grande dentro de uma pessoa que não é nada de extraordinário... não sei. Também não sei para que futuro me levará o hoje, mas acho que será bom, porque não mereço menos que isso. E sei que o hoje será muito mais fácil de aceitar e compreender quando já não for mais que livro lido, folha amarela, passado vivido.
Tenho-me esquecido de mim. Tenho estado embrenhada na preocupação com os outros. Sou perfeccionista e acho-me capaz de resolver as vidas alheias, tenho dificuldade em aceitar condutas diferentes da minha. Espero dos outros o mesmo que de mim. E isso acaba sempre numa frustração indomável. Mesmo ciente desse defeito que também é qualidade, não o domo - não o quero domar. Gosto disso, no fundo. Tenho orgulho nessa fasquia alta, mais alta que eu.
Não sei quando me tornei nesta pessoa.
Nem sei o que me fez parar de chorar.
Não me lembro do momento em que desisti de falar.
Talvez a raiva seja mais fácil.

4 comentários:

aovirardaesquina disse...

Eu sou como tu, mas não sinto raiva. Fico apatica. A maior parte do tempo não me apetece cá estar. Nem penso se sou melhor ou pior que alguém, sei sim tal como tu que sou diferente. Devia ser bom não é? Mas curiosamente essa diferença não me traz felicidade. E repito mil vezes a mim própria - Não podes deixar a tua felicidade depender dos outros! Bem sei... mas nada muda. Sou como tu, prefiro escrever, aliás necessito escrever, não para que os outros possam ler, mas porque ás vzs basta uma frase para me lembrar que existo, para me lembrar de mim, mesmo quando não sei bem quem sou.

Beijinhos
Escreves muito bem e és muito honesta naquilo que dás

Lady Lamp disse...

Ao Virar da Esquina, obrigada pelo teu comentário. É mesmo isso - às vezes escrever recorda-me de quem sou, também... :)

By the way, não consigo comentar no teu blog... :/ Diz-me sempre que não estou autorizada a fazê-lo. Why is that?? :(

Beijinho*

aovirardaesquina disse...

Podia ser engraçadinha e dizer que o blog está em crise como eu lol
Mas honestamente não sei. Talvez seja uma questão de tantar mais tarde, por vezes tenho amigos que também não conseguem e voltam lá umas horas depois e já dá. Por vezes têm que deixar os comentários como anónimos.
Enfim é uma questão de tentar.

Lady Lamp disse...

Okay... :)*