quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Há datas que devia riscar do calendário.

Lara Stone
Há dias que pura e simplesmente não deviam existir, ser vividos nem lembrados.
Acordo cedíssimo, depois de uma noite muito mal dormida em que fervilharam ideias para redecorar o quarto da Mana Lamparina, mal posso esperar para pôr mãos à obra! e recebo um telefonema que me põe à beira de um ataque de nervos. Bom, assim por alto, devem-me dinheiro de trabalho já feito e pilim que é bom, nem vê-lo... em vez da esperada vergonha, sinto do outro lado uma total despreocupação, dotada de uma dose q.b. de arrogância que terei, infelizmente, que desmantelar quando surgir oportunidade. Até lá, vou ter que me lixar para pagar duzentos euros (DUZENTOS!) de IRS relativos ao meu primeiro ano de trabalho, que é como quem diz deitar duzentos euros (DUZENTOS!!) para o lixo. Sim, porque esses duzentos euros (DUZENTOS!!!) não têm qualquer retorno e a minha vontade era mesmo vomitar para um tupperware e dizer ao senhor das Finanças: "Olhe, desculpe, mas como eu mal me sustento e vocês me estão a roubar os bolsos vazios, isto é a única coisa que tenho para pagar que seja realmente produzido por mim. Ai não serve? Então? E uma pequena poia, hein?". Não o farei porque sou uma mulher educada e até tenho nojo dessas coisas que deitamos cá para fora, por isso terei de recorrer ao fundo paternal. E se eu não tivesse pai? E se o meu pai fosse pobre?
Já o dia estava a correr bem logo pela manhã quando bato com a cara na porta da porcaria da secretaria da Universidade, que uma pessoa até julga estar no século XXI, mas o sistema informático não me deixa realizar a inscrição nas minhas cadeiras a partir de casa, sem filas nem chatices para os senhores funcionários que passam o dia a aturar gente chata como eu, oh coitados que pena que eu tenho até me movo de íntima compaixão. Esses não devem ter problemas quando lhes roubarem duzentos euros... DUZENTOS. Porque ao fim e ao cabo, sempre recebem um ordenado fixo, mensal, para estar ali de rabo alapado à cadeira a atender gente como eu. E eu até gostava de ser atendida e despachar a minha vidinha, mas não posso porque a bosta do sistema informático não funciona nem se prevê que funcione e então a malta chata como eu entope a merda da secretaria. Nisto, vou amanhã pela terceira vez para lá, na esperança de acabar com a peregrinação até à máquineta de tirar senhas, que por acaso são sempre duzentas (Oi? Vejo aqui um certo paralelismo.) por dia e esgotam antes que aquilo abra as portas porque há quem fique de plantão desde as sete da manhã para conseguir resolver os seus problemas académicos. Valha-me a massagem que meu noivo adorado me ofereceu para ao menos poder passar por isto pensando que na sexta feira, depois da última de duas reuniões que tenho esta semana, posso parar para nada fazer.

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