quarta-feira, 15 de junho de 2011

da Escrita.


Roisin Murphy
 Quase tudo o que ganhei na minha vida, ganhei pela minha escrita. E só me apercebi disso hoje.
Claro que me estou a focar simplesmente nos bens materiais.
E não me refiro apenas aos salários que recebi no jornal onde trabalhei. Lembrei-me do meu primeiro iPod, que recebi por ter escrito um poema, uma versão dos "Dialectos de Ternura" dos Da Weasel. Foi-me oferecido pela MTV. Durante quatro meses, recebi produtos da Clinique, em troca de alguns textos que publicava no blog do passatempo em que participava, Clinique Girls. Ganhei ainda outro iPod e uns Ray-Ban Aviator. Ganhei CD's, tratamentos de emagrecimento, livros... e quando me lembrei de tudo isto, tive a nítida sensação de que o meu destino só pode ser este: escrever.
Estarei para sempre acompanhada da escrita, que ela guia os meus passos e antecipa os momentos que ainda não me chegaram. Como a Lua, nas longas viagens de carro. Ela fazia-me companhia desde a partida até à chegada e enquanto o sono não me fechasse os olhos.
A minha existência sem escrever seria pobre. Sem vida. Sem luz. Sem ar. Sem cor. Sem o olhar que ela me permite ter.
Disse-me uma vez o meu pai, numa das nossas conversas: "- Mas que trabalho o teu! Escreves histórias. Vais aos locais e escreves sobre o que se passou, o que viste, o que aconteceu."
Para ele, viver de algo simples como a escrita era tão estranho como para mim é ser médico de animais, diagnosticando as suas doenças sem que o paciente se exprima através de palavras.

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