quinta-feira, 7 de abril de 2011

da Solidão.

Kate Moss
É nesses dias, nesses dias em que um dos segundos nos lembra dessa solidão inerente a todo e cada ser humano. É nesses dias que a inércia se apodera de mim. Falo desse ser sozinho, ainda que se viva em comunidade. Esse estar só entre a multidão, esse ser pessoa entre as gentes, tantas gentes com que nos cruzamos.
Uns, não sabemos quem são. Outros, conhecemos de vista. Com alguns trocamos cumprimentos e até fingimos interesse no seu bem-estar. Depois há aqueles com quem arrastamos conversas de ocasião. Os conhecidos, os amigos distantes, os colegas, os mais chegados. Os íntimos. Reduz-se o círculo. A família. Os que não são mas que fazemos de conta que sim. E no centro de tudo, bem no fundo, não há nós físicos nem amarras que nos prendam uns aos outros. Há o eu. Sozinha. Solta. Como a lua que paira no céu e me fita, eu preencho alguns vazios como um sopro. É só isso, afinal. Que ninguém me substitui em mim. O meu percurso é desenhado apenas pelos meus passos e ser forte depende apenas de mim. Ser depende apenas de mim. Do que sou, da minha personalidade, do que decido, do que faço ou não faço.
Contar só comigo parece bruto, quase ressabiado, mas serve de defesa. É a melhor couraça. Eu sei o que posso esperar de mim. Só eu sei. E por isso mesmo, prefiro ter-me como a única pessoa da minha máxima confiança. Eu não me traio. Eu não me desiludo. Eu não me largo da mão.
Não quero colocar em outros a responsabilidade de poder estragar algo que é só meu. Do mesmo modo, recuso-me a pedir favores, a dever favores a alguém. Porque mais cedo ou mais tarde, eles são cobrados. E eu não suporto isso, poucas coisas me ofendem tanto. Não há nada que substitua a leveza de saber que não temos dívidas. Não há, portanto, nada mais importante que tomar conta de mim sem esperar que outros o façam. Eles têm que tomar conta de si, não é?
Se por um lado sofro com esta ideia de ser ilha e não arquipélago, como Pessoa descreveu, por outro, conforta-me sabê-lo. Dói menos na hora de me fechar em mim. E hoje doeu menos quando um dos segundos do meu dia me lembrou dessa solidão que já não sentia por perto há tempo demais. Abrir uma fresta, baixar a guarda, escancarar as portas deste mundo tão singular, nunca valeu a pena. Nunca. E a razão é simples: só eu tomo conta de mim.