quarta-feira, 10 de novembro de 2010

I love my job #5

Porque ontem me despachei cedo, esta manhã não trabalhei e a minha vida é uma festa em dias como este. Claro que só gostaria do meu emprego alguém que tivesse a escrita como uma necessidade quase fisiológica. Claro que só gostaria do meu emprego alguém que não se importasse de ver a sua paixão castrada pela ausência de criatividade. Claro que só gostaria do meu emprego alguém que não se sentisse ultrajado por tomar contacto com a imposição de que a liberdade de expressão não funciona no jornalismo.
Nem tudo são rosas e ainda que fosse, as rosas também são famosas pelos seus espinhos. Eu gosto genuinamente do meu trabalho e sou feliz com ele, apesar de tudo isto. Porque me parece absurdo que me paguem por fazer algo que, no fundo, não me custa fazer.
Ultimamente ouço muitas queixas de muita gente, gente que diz não ter emprego, gente que chora por não encontrar nenhum trabalho. Lágrimas de crocodilo. O meu espanto surge quando venho a saber que se recusaram a ocupar determinados cargos porque os consideraram precários ou mal pagos, que o ordenado mínimo não paga roupinhas a ninguém. Farto-me de ver desempregados desiludidos com as ofertas que encontram, em que são exigidas muitas horas em troca de 500 euros, no máximo. Acho que as pessoas não têm qualquer noção do que significa ter espírito de sacrifício ou capacidade de encaixe. Vivemos num país de dondocas em que é mais fácil ficar à espera que alguém nos dê um cargo para mandar, ganhar bem e não fazer nenhum. E depois tento explicar que as coisas não são assim, que eu tenho dias de sair da redacção às oito ou nove da noite, que tenho exteriores que me fazem perder a hora de jantar com a família... que há vezes em que me dizem: "Menina Lamparina, tens de estar à meia-noite em cascos de rolha" e eu tenho que ir, mesmo que chova e esteja frio e fosse melhor ficar quentinha em casa com o namorado. Que a vida não nos permite, hoje em dia e em qualquer emprego, trabalhar das nove às cinco. O meu pai trabalha das sete às cinco e das cinco e meia até não haver nenhum cliente, todos os dias. Há noites em que começa a jantar às onze. O meu pai levanta-se às seis da manhã aos domingos! Irrito-me, pois claro, quando há gente que não tem nada, gostava de ter e não se mexe para isso. Cambada de comodistas.

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