segunda-feira, 1 de julho de 2019

sobre abandonar lugares velhos

Lucy Boynton
Houve uma altura em que duvidei de mim, duvidei das minhas emoções, das minhas reacções. Duvidei das minhas intolerâncias, até. 
Suspeitei que o mundo estivesse todo ele correcto, sendo eu a única pessoa errada. Questionei todas as minhas características, os meus valores e os princípios que me regem. Senti-me perdida.

Duvidei de mim porque todos me achavam demasiado reaccionária, quando a única coisa que fazia era expressar a minha opinião. Verbalizar as minhas convicções. A questão é que a maior parte das pessoas não formula opiniões porque nem se dá ao trabalho de pensar, de mastigar aquilo que lhes é servido. É mais fácil engolir, não levantar ondas, copiar pensamentos, ir com a manada, já que se toda a gente diz que é bom é porque assim é, se toda a gente vai para a esquerda é porque é esse o caminho a seguir e eu nunca fui assim. Nunca me esforcei por uma paz podre. Nunca gostei de fachadas.

Depois de um processo de auto-conhecimento tão profundo, de crescimento tão veemente, finalmente comecei a reconhecer-me, a voltar a mim. 

É que se houve um período em que comecei a refrear-me e a conter-me, abafada por essas pressões alheias, porque talvez os outros tivessem razão, talvez não devesse ser tão bruta, frontal, honesta e verdadeira... actualmente voltei a gostar desta minha maneira de ser. Foi Deus que me fez assim. Eu não sou perfeita mas fui perfeitamente feita por Ele. Nada mais posso fazer senão amar esta criatura fantástica, esta criação que tenho o privilégio de ser. Quero dar-lhe expressão, deixá-la falar, ser e fluir naturalmente. E quem não gosta também não me faz falta. Quem se incomoda também não. Quem não entende, também não terá de lidar com as minhas explicações porque - guess what? - não me faz falta. 

E gosto disto, gosto de ser assim, gosto de ter uma coluna vertebral, uma opinião. Uma personalidade bem vincada. Porque num mundo em que a palavra já não serve para nada, pelo menos posso contar comigo, que sou fiel e leal a mim mesma.

Cheguei finalmente a este momento em que aceito o facto de não tolerar certas coisas - conversas, atitudes, maneiras de estar - que podem ser aceitáveis para a maioria mas que para mim não o são. E excluo-as sem pesos na consciência, sem dúvidas, sem reticências. Eu não tenho pudores em demonstrar aquilo que sinto, aquilo que é natural para mim. Se não gosto, reajo de acordo com o meu desagrado. Não me contrario.

Voltei a não ter medo que me chamem de maluca ou de intempestiva. Voltei a não ter medo que me julguem por ser muito crua porque na verdade, valorizo mais a preservação da lealdade que me devo do que as opiniões que os outros poderão emitir a meu respeito. 
E por isso estou numa fase de reestruturação. Em que quero ver-me livre de tudo o que não me constrói nem me faz evoluir. Estou a cortar com tudo o que sendo do passado ainda permanece, preso por laços tão frágeis que nem deveriam ser difíceis de quebrar, para seguir livremente, sem amarras, rumo ao futuro que me espera. 
Porque já não há espaço para mim nos lugares onde pertenci. 
Mas há muitos lugares novos que anseiam pela minha chegada.

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