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quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

[ sobre honrar a nossa herança ]

Foi um presente de aniversário. Queria tê-lo feito há muito tempo mas só este ano aconteceu

É que sou a bisneta mais parecida com a bisa contrabandista, aquela que era convidada para ir a Paris assistir aos desfiles das grandes casas e comprar os modelos para reproduzir cá em Portugal. 

E sempre desenhei roupas - para mim, para a minha mãe, para a minha irmã, para as minhas amigas. Sempre soube como queria que ficasse o resultado final, que acabamentos, que cair do tecido; se em viés ou a direito. Tinha que pedir ajuda a quem soubesse confeccionar para materializar as minhas ideias. De vestidos de gala com soutiens incorporados a simples conjuntinhos de calção e top, sempre precisei de outras mãos para dar vida às minhas criações. Mãos que admiro cada vez mais.

E por ser a bisneta mais parecida com a bisa contrabandista, seria uma vergonha não aprender o ofício dela.

Fui aprender a costurar, a mexer na máquina, a colocar a linha na canela e a chulear. Aprendi a riscar o tecido com giz e com confiança, a cortar, a criar um molde. A empastar e a alinhavar mais depressa. A costurar. A unir meros pedaços de tecido através da linha que a agulha da máquina transporta num ritmo que controlo com o pé. Desce e sobe, sobe e desce e quando dou por ela, fiz uma peça de roupa. A primeira foi difícil, meio atabalhoada. No entanto, tranquilizaram-me: a prática é tudo e se ficar mal feito, podemos sempre descoser e começar tudo outra vez. É como na vida, portanto. 

Estou longe de ter nas mãos a arte da minha bisavó, do mesmo modo que estou a anos-luz da mestria da Ana e da Inês, as pacientes professoras que me ensinaram com dedicação cada pormenor que consegui reter. Estou longe dessa minúcia cirúrgica mas mais perto de mim - e que curioso o atelier ser tão próximo do lugar onde nasci.

Esta semana tive a minha última aula e não poderia estar mais feliz por ter aprendido tantas coisas novas naquele que foi o melhor espaço para me receber. Se vos apetecer aprender a criar peças novas, feitas com as vossas mãos, a Inês e a Ana do Atelier Oficina são as pessoas certas para vos introduzir a todo um novo léxico, cheio de conceitos que a maioria de nós desconhece. Para lá das profissionais de excelência que são, ambas são simpáticas, pacientes e muito amorosas. São elas que vos apresentam a máquina de costura com tal naturalidade que seria impossível não abandonar o medo dela. Tão cedo não se livram de mim!

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