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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Não sou convencida, era mesmo óbvio.

Leighton Meester
Confesso que a certa altura julguei que era gay. Ele olhava, olhava, olhava tanto... mas vir falar comigo, 'tá quieto. 

Por motivos profissionais, estou constantemente a lidar com pessoas novas. Desta vez, além de muitas pessoas novas, havia uma em especial que era a minha cara. E isso não é frequente, que eu sou miúda para não achar piada a ninguém. Não era novo como eu, não era magro, não era demasiado giro. Era alto, tinha uma barriguinha eu não sou fã de corpos photoshopados e rugas de expressão. Não demorou até que o visse e o achasse digno da minha atenção. Comentei com a minha amiga que a pessoa me estava a fazer olhinhos e em cinco minutos já sabia o nome, quem era, o que fazia ali e que não tinha aliança. 

Ele olhava, eu olhava também. Sentia alguém a fitar-me e quando dava por ela, era ele. Às tantas, já sorria descaradamente e achei que era inevitável - ele teria de falar comigo. Nada. Horas depois, voltei para casa sem mais um episódio engraçado para contar à Mana Lamparina. 

Nos dias seguintes, o filme repetiu-se. O homem só não ficou com dores no pescoço porque Deus foi misericordioso e o quis poupar. Hoje sei porquê.

Já estava cansada de tantos olhares e temi pela minha saúde ocular, que o estrabismo sempre me assustou, pelo que decidi abordá-lo eu, ou a história não avançava (sou um bocadinho ansiosa, vá). Enchia-me de mim, o nariz bem empinado, a atitude de uma diva... e perdia a coragem sempre que me propunha a fazê-lo. Não conseguia cumprir o meu objectivo. Mesmo caminhando toda confiançuda na direcção dele, havia um momento em que ouvia a minha consciência dizer-me que aquilo era uma parvoíce e que se estivesse realmente interessado, o barriguita, como amorosamente foi apelidado pela minha amiga, não perderia a oportunidade de falar comigo. Recuava e passados segundos, lá estava eu a sentir-me observada. E sim, era mesmo sempre ele. Memorizei deixas para meter conversa e sempre que uma oportunidade surgia, era ver-me fugir a sete pés. Hoje sei porquê. 

Quando o trabalho terminou, vim-me embora com a certeza de que tinha escolhido a postura correcta. Não dou confiança a qualquer um e uma mulher como eu merece que um homem tenha atitude suficiente para não estar com rodeios. O contrário não faria o meu estilo.

"O mundo é tão pequeno, mana... se tiveres que te voltar a cruzar com ele, vai acontecer", disse a Mana, quando entrámos no restaurante, para de seguida arregalar os olhos e desatar a rir. Reconheceu-o pelas fotos que lhe mostrei. "É mesmo a tua cara", acrescentou. Ali estava ele, sentado, sozinho, num local bem longe daquele onde tínhamos passado os últimos dias. Não resisti. Sorri-lhe. Fui à mesa dele e depois de uma conversa profissionalona uma desculpa esfarrapada, dei-lhe um cartão de visita. Tão giro, pá. Voltei para a minha mesa, a rir que nem uma perdida. "Ele vem aí outra vez", disse-me a Mana. Tinha ido ao carro buscar um cartão seu para me dar.

No dia seguinte, após uma pesquisa simples, descobri que tem uma mulher e um filho. Foi por isso que Deus o poupou do torcicolo, porque ele estava a ser um homem bem comportado. E foi por isso que nunca fui capaz de dar o primeiro passo, perder a timidez e dar uma de gostosa, estava a ser poupada de uma figura de otária deprimente. Só vos digo: quero um marido assim.

São tantos os cromos que sendo casados e sabendo que eu sei do seu estado civil tentam meter conversa e fazem convites despropositados, que a atitude séria deste gajo ainda me deixou mais embevecida. A minha fé na humanidade aumentou um bocadinho.

E os cartões que trocámos? Bom, se algum dia for abandonado, sempre tem o meu número!

1 comentário:

Obrigada pelo comentário. :)*